Oscar 2023 e o sofrimento de Camila Morgado: 'Dá tempo de falar?'
Em meio à euforia de Ana Furtado, atriz convidada para a transmissão do TNT mal conseguiu espaço para opinar
Ao contrário de Glória Pires, que virou meme, anos atrás, ao participar de uma transmissão do Oscar pela Globo, Camila Morgado tinha muito a opinar sobre os concorrentes à estatueta deste ano. Convidada a contracenar com o crítico Michel Arouca e Ana Furtado, que estava estreando na ancoragem da cerimônia e também não tinha noção da agilidade demandada pelo evento, Morgado queria muito falar, mas não havia espaço para ela.
"Dá tempo de falar? Não dá, né?", repetiu a atriz em vários momentos, sem esconder a aflição e a frustração. No Twitter, uma segunda tela que faz a diversão de quem busca interagir sobre a TV em tempo real, a solidariedade à falta de oportunidade para Morgado foi corroborada pelas críticas a Ana Furtado, que em várias ocasiões atropelou a fala de quem estava no palco.
O melhor tuíte da noite veio de Antônio Tabet: "Eu não via a Camila Morgado sofrer tanto para falar desde 'Bom Dia Verônica'. Coitada!", citou o humorista, lembrando da personagem que é vítima de feminicídio na série da Netflix.
Os comentários para o post de Tabet endossavam que Ana não deixava ninguém falar, mas não é tão simples assim.
Mais experiente na atividade, Michel Arouca salvou a transmissão pelo TNT e mostrou a diferença de quem vive imerso no universo do cinema, mas, principalmente, de quem já se habituou à correria da cerimônia. Ele ocupa o posto desde 2019, quando o canal afastou Rubens Ewald Filho da função e restringiu sua participação a comentários previamente gravados.
No ano anterior, Ewald foi apedrejado pelo Twitter por ter apresentado a transgênero Daniela Vega dizendo que "ela, na verdade era ele". "Essa moça é um rapaz", explicou, a fim de esclarecer a importância dada ao fato de uma trans estar pela primeira vez no palco do Oscar. A frase foi entendida como transfobia. Ewald morreu no ano seguinte, após um infarto.
Arouca assumiu a função ao lado de Aline Diniz, que perdeu agora o posto para Ana Furtado e foi transformada em repórter do tapete vermelho, ao lado da top Carol Ribeiro. O TNT ganhou uma grife, mas perdeu a boa química da apresentação que Arouca fazia com Aline.
Premiações são normalmente eventos chatos quando os discursos de agradecimento se prolongam e só interessam à própria família do premiado. Há os excepcionais, que emocionam a massa, mas essa não é a tônica de cerimônias do gênero.
Daí a tentativa dos organizadores em agilizar a festa. Arouca já sabe que o tempo é curto e emenda rapidamente breves comentários sobre seus favoritos, sempre atento para se posicionar antes que o vencedor de cada categoria seja anunciado. E sabe como fazer diferença no repertório do telespectador, que não está ali para ouvir mais do mesmo.
É preciso dar um tempo a Furtado para que ela saiba dosar seus comentários com a dinâmica do evento, mas Aline Diniz ornava melhor com Arouca, não há como negar. Diferentemente daquele estúdio da Globo onde José Wilker, Arthur Xexéo e, mais recentemente, Maria Beltrão comentavam a premiação, a transmissão do TNT sempre se mostrou mais fiel à cerimônia.
Não há espaço para firulas de estúdio com convidados quando a prioridade é a festa e as informações sobre a premiação e os filmes. Mal cabe nesse modelo a combinação entre tradutores e apresentadores/comentaristas. Melhor é evitar o constrangimento de transformar grandes atrizes em figurantes, principalmente quando elas sabem opinar.
Morgado só conseguiu concluir um raciocínio depois do boa noite final no palco.
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