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Zapping - Cristina Padiglione
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jornalismo

Posse de Lula: mulheres se sobressaem na relevância da transmissão pela TV

RedeTV! e Record não resistiram à duração da cerimônia; permanência do SBT ao vivo surpreendeu, enquanto Jovem Pan manteve discurso bolsonarista

Os jornalistas William Bonner e Renata Lo Prete na Globo
William Bonner e Renata Lo Prete comandam transmissão ao vivo da posse de Lula 3 na TV Globo - Reprodução Globo
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São Paulo

Não é o caso de transformar uma análise sobre a cobertura da TV para a posse de Lula 3, neste 1º de janeiro de 2023, em um grito feminista, longe disso, mas ao longo da cobertura, foi me consumindo a convicção de que Renata Lo Prete supera William Bonner na relevância de suas observações, e o mesmo vale para as meninas da Globonews em relação aos meninos do canal, assim como funciona para Daniela Lima frente a Márcio Gomes na CNN Brasil.

Certamente incomoda a alguns homens ver que elas estão batendo um bolão num terreno historicamente dominado por homens, salvo a premonição de Jô Soares em abrir espaço para as Meninas do Jô, anos atrás, para debater no seu programa o andamento da política nacional.

Se a ciência ainda não provou, o resultado do trabalho das jornalistas na análise política tem evidenciado que mulheres são melhores observadoras que homens e percebem nos detalhes algumas informações que a eles escapa.

Andréia Sadi, Julia Duailibi e Flávia Oliveira fizeram toda a diferença da transmissão pela GloboNews. É preciso sublinhar que nenhum outro canal tinha alguém com lugar de fala, como era o caso de Flávia, com disposição para comentar um dos trechos mais importantes dos discursos de Lula, que dizia respeito justamente ao racismo vigente e mal combatido no país.

De modo geral, foram as meninas que mais contextualizaram cada passo da posse do dia, muito mais que os homens. Bonner não só reconhece a superioridade de Lo Prete, como valoriza sua parceira diante das câmeras. Quando ela nota que o vice-presidente Geraldo Alckmin, normalmente identificado com a cor azul, usa gravata vermelha, tom que neste 1º de ano estava na gravata de Lula, Bonner fez questão de exibir sua surpresa e a importância da simbologia dessa troca de códigos entre o presidente e seu vice.

Por vezes, os canais esbarraram na obviedade da legenda, informando aquilo que todos estávamos vendo, mas essa é uma redundância inevitável em transmissões ao vivo tão longas. Bonner enalteceu a multiplicidade de ângulos promovida pelo posicionamento de câmeras da Globo, de fato mais avançada que as das concorrentes.

Record, SBT, Band, RedeTV! e TV Cultura também interromperam a programação para a transmissão da cerimônia de posse, mas a RedeTV! foi a primeira a sucumbir e logo interrompeu a exibição para honrar o compromisso comercial com a Ultrafarma, que patrocina um horário de evangelização na emissora. O canal chegou a retomar a cena ao vivo em Brasília quando Lula se pôs no palanque para discursar para o povo, mas logo desistiu novamente, em detrimento do João Kléber Show.

Silvio Santos mostrou ter palavra. Durante o governo Temer, deu palco ao então presidente para que ele pudesse discursar em seu programa sobre as "maravilhas" da reforma da previdência. Durante o governo Bolsonaro, não só endossou a vocação governista, como teve um genro comandando um dos principais ministérios daquela gestão, no caso, das Comunicações, pasta diretamente vinculada aos interesses da emissora de TV.

Ainda durante o governo Bolsonaro, Silvio chegou a declarar que tem no titular do governo federal um verdadeiro patrão, em função de a TV ser uma concessão do Estado. Silvio personifica o Estado na figura do presidente eleito. Neste 1º de ano, o SBT só abandonou a transmissão ao vivo após o discurso de Lula para o povo, para que Eliana pudesse mostrar "Carlos Alberto de Nóbrega como nunca se viu antes".

Se isso aponta para uma esperada boa relação entre o novo governo e a linha bolsonarista vista até outro dia no SBT, só o futuro confirmará, mas é preciso dizer que a emissora tem péssima tradição na arte de interromper a programação normal para qualquer que seja o assunto, contrariando seu histórico nesta posse de Lula 3.

A coluna zapeou por Globo, TV Cultura, CNN Brasil, GloboNews, Band, Record, SBT, RedeTV! e TV Jovem Pan, que também transmitiu a chegada de Lula ao Planalto em tempo real. Diferentemente do SBT, a Pan não mostra dar sinais de trégua ao novo governo. Na transmissão da posse, um time exclusivamente masculino e branco comentava as cenas ao vivo.

Talvez tenha faltado lá o componente que mostrou mais sensibilidade e senso de apuração nos outros canais, ou seja, uma figura feminina, mas o fato é que ainda falta também boa vontade à Pan para ler o discurso de Lula sem os ranços ideológicos de quem venerou Bolsonaro pelos seus quatro anos de governo. Em dado momento, um dos rapazes sentenciou que patriotismo não é o forte da esquerda, numa análise bem capaz de reanimar o pessoal que deu plantão diante dos quartéis à espera do tão desejado golpe militar.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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