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Zapping - Cristina Padiglione
Descrição de chapéu pantanal

'Pantanal' tem discurso sobre democracia, voto e fake news

A uma semana do horário eleitoral na vida real, José Leôncio reconhece valores da política

José Leôncio ( Marcos Palmeira ) - João Miguel Júnior/Globo
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A poucos dias de iniciarmos mais um período de horário eleitoral na TV, uma sequência de cenas traz um discurso sobre a importância do voto, da política e da democracia no enredo de "Pantanal", por meio de José Leôncio, o protagonista vivido por Marcos Palmeira. Em cena com todos os filhos na sala, ouviremos Jove (Jesuíta Barbosa) puxando as opiniões do pai sobre o assunto, enquanto a TV exibe justamente uma edição de horário eleitoral.

Em capítulo previsto para esta última semana de julho, o fazendeiro se aprofunda no assunto em diálogo com Érica, a jornalista vivida por Marcela Fetter.

"É impossível negar a relação entre o agronegócio e o colapso no meio ambiente", diz a moça a José Leôncio.

"É como meu pai dizia: todo mundo que dá um passo pra frente, dêxa uma pegada pra tráis", ele reage. Érica diz que antes de conhecê-lo, pensava que "nenhum fazendeiro se importava com isso." Nesse ponto, o autor Bruno Luperi volta a colocar os males do agronegócio lado a lado com seus possíveis benefícios.

"Os mau caráter num se importa mêmo, não", diz ele. "Acontece que eles são a imensa maioria... ", ela diz. "Se num são a maior parte, são a mais barulhenta e a mais articulada politicamente!", ele responde, emendado: "Os fazendêro de verdade, aqueles que amam as terra onde pisa --e são muitos!--, esses ocê pode tê certeza que tão sofrêno junto delas."

A conversa avança para a política. "Esse país foi criado pra sê o celêro do mundo, pra atendê aos interesse lá de fora", ele fala. "E quando é que isso vai mudar?", ela questiona. "No que dependê dos nosso político? Nunca!", reage Leôncio. E justifica: "Quem vai se elegê cum discurso desses? E, caso se eleja, como é que um sujeito sozinho ia conseguí mudá quinhentos anos de história em quatro anos de mandato?"

'BANDALHEIRA'

O fazendeiro admite, pouco depois, que sempre teve "uma ideia muito errada sobre política": "Pra mim, falá em política sempre foi falá em bandalhêra. Era esse o meu pensamento. "Hoje eu entendo que política é uma coisa muito séria. O que num é sério nesse país são os político!".

No seu entender, "o sujeito, pra se fazê político, tem que tê três condição. A primêra é muito dinhêro, ou tê por trás quem possa bancá os custo d’uma eleição. A segunda é muita saúde, pra aguenta a via-sacra que é uma campanha eleitoral", e a terceira, "tarveiz, seja a principar de todas elas: Num pode tê escrúpulo nenhum! Que é pra fazê os conchavo, as barganha, os acerto de conta. Político que num entrá no jogo, num faiz carrêra."

De novo, o autor trata de sublinhar as exceções e brinca com as lendas sobrenaturais do entorno de sua fazenda: "Tem as exceção... É como o Velho do Rio: tem meia dúzia que jura que viu, o resto acredita só se quisé."

Érica pergunta se ele perdeu a fé na política, e Leôncio diz: "Eu continuo achâno política uma coisa muito séria, eu perdi a fé foi nos nossos político!" "E quanto à democracia?", ela pergunta.

"A democracia é nossa maior conquista enquanto nação! Claro que ela ainda trupica em muita coisa - basta vê o tanto de escândalo de corrupção que se vê por aí. Mas, sem ela, o povo num teria nem voz", ele responde.

FAKE NEWS

O fazendeiro então traz para a conversa uma pista sobre um dos maiores propagadores de fake news, ao dizer que o povo continua sendo enganado como sempre, mas "agora, bomberdeado pelo tanto de mintira chegâno o tempo intêro nessas porcaria de celular. E não é?!"

Mais tarde, Érica dirá a José Lucas (Irandhir Santos), com quem se envolve: "Eu fiquei aqui pensando como é que o voto, que é a manifestação mais poderosa e legítima de um povo, pode ser tratado de forma tão vulgar?" E ensina ao namorado o que é um "demagogo", após questioná-lo em quem ele votou na última eleição.

A própria Érica é filha de um político demagogo, o deputado Ibrahim, a ser vivido por Dan Stulbach.

O texto não pende para qualquer sugestão partidária, mas levanta a bola sobre o assunto, inicialmente com aquele discurso barato de que ninguém na política presta, com bom potencial para ganhar a identificação do público e depois ampliar a discussão sobre o assunto.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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