Jayme Matarazzo fala sobre paternidade e a conexão com padre Tenório
Ator quebrou jejum de três anos longe da TV pela novela 'Além da Ilusão'
Após emendar um trabalho no outro por cerca de dez anos, Jayme Matarazzo, 36, decidiu dar uma pausa na televisão e priorizar a família, como anunciou ao fim das gravações de "Tempo de Amar" (2017/2018). O intervalo coincidiu com o início da pandemia e a gravidez de sua mulher, Luiza Tellechea, o que levou o casal a se isolar na Serra da Cantareira, refúgio vizinho de São Paulo.
Agora, o ator, pai de Antônio, 1 ano, retorna à Globo para dar vida ao padre Tenório em "Além da Ilusão", novela de Alessandra Poggi exibida na faixa das 18h. Segundo ele, o personagem o encontrou no momento certo.
A pausa lhe permitiu se dedicar a projetos pessoais, mas a principal conquista foi o nascimento do filho. "'Além da Ilusão' é uma novela muito bonita, muito importante para o atual momento —a gente volta ao passado para contar o presente, para discutir, debater o atual momento da gente, como país, como sociedade."
Jayminho, como é conhecido no meio artístico, em razão de carregar o mesmo nome do pai, tinha de 4 para 5 anos quando o diretor Jayme Monjardim fez história na TV pela extinta Rede Manchete com o sucesso de "Pantanal", novela refeita agora pela Globo. E traz pouca memória daquele momento, embora reconheça a relevância de valorizar o bioma.
O ator é nosso entrevistado na seção "Três Perguntas Para...", por onde já passaram nomes como Cláudia Raia, Larissa Nunes, Clara Duarte e Mariana Rios. Confira:
Você está com esse friozinho na barriga, de primeira vez?
Eu sempre tenho. Frio na barriga faz parte desses momentos que antecedem estreias de trabalho, e eu acho que, quando a gente dá vida a um personagem, também joga um filho no mundo. A gente abre espaço para as pessoas sentirem com a gente, sentirem pela gente.
Acho que é aberto um canal e uma conexão muito legal a partir do momento que a gente é recebido na casa das pessoas contando uma história. Então, esse frio na barriga existe, é gostoso —eu estava com saudades dele— significa que a gente está vivo, empolgado.
Você diria que o padre Tenório tem esse papel de junção entre as histórias das personagens?
O padre Tenório, em si, vem para trazer, em alguns momentos da trama, mensagens importantes que muitas vezes valem para vários personagens. A gente está começando a trama, mas eu já tive três gravações de missa, e é muito interessante perceber que em todas as vezes eu também ficava muito atento —e um dos meus objetivos como ator era causar aos meus colegas de trabalho, a cada um daqueles personagens, algo com a minha missa.
Tocá-los, olhá-los nos olhos, fazer com que aquelas palavras também fossem além, de alguma forma, assim como toda a novela propõe que a gente vá além. E uma coisa interessante é que, às vezes, depois da cena gravada, os atores vinham até mim falando: ‘nossa, me identifiquei totalmente com esse pensamento sobre o meu personagem’.
E, no fundo, quando eu vejo dentro dessa unidade um monte de pessoas sentindo que essa palavras são para os seus personagens, eu sinto que o padre Tenório tem essa missão dentro da trama: em algum momento da história, ele vem confortar a todos, ou não confortar, mas propor algumas palavras de sabedoria, de atenção ou de de fraternidade, que seja, que fazem sentido para vários personagens.
Como a paternidade se refletiu na sua relação com o trabalho?
Eu estou vivendo a minha primeira experiência de trabalho, de artista, de construção de personagem, com a cabeça de um novo pai, mas acho que desde sempre ser ator é se reinventar, se reconstruir de acordo com o momento que a gente está vivendo. Talvez isso [ser pai] seja o mais impactante, o que mais me abre a cabeça e me faz reavaliar realmente todas as minhas importâncias, onde eu vou dedicar minha maior atenção e o meu maior amor.
Todos nós amadurecemos, passamos a ler novas coisas, novas histórias, novos assuntos, e nossa responsabilidade aumenta imensamente como pessoas. E o artista, quando cresce como pessoa, só aumenta o seu leque, só aumenta o seu cardápio de experiências vividas para emprestar para outras histórias.
Quando a gente se transforma em pai, a gente também aprende um pouco mais sobre o que é amar ao próximo, ao outro, e não só a gente. Estou muito feliz por o Tenório ter me encontrado, por essa novela ter me encontrado, por essas pessoas e esse time fazerem parte do meu dia a dia, por eu estar disponível para brincar, trabalhar e aprender com essa galera.
A gente está enfrentando pandemia, se adaptando a todas as fórmulas e protocolos e métodos para fazer o nosso dia a dia ser produtivo. As redes sociais também aproximaram a gente [do público], e isso faz com que a novela, num período que todos acham que ela perde força e concorre com mais concorrentes pelo Ibope, eu também vejo outros caminhos.
Vejo a novela, ao contrário, ganhando força, sendo cada vez mais aberta, cada vez mais viva, cada vez mais construída com o frescor que a sociedade traz.
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