Com projetos parados, Jayme Matarazzo se dedica à vida no campo e ao 1º filho
Vivendo na Serra da Cantareira, ator trabalha na horta e cuida de plantas
Vivendo na Serra da Cantareira, ator trabalha na horta e cuida de plantas
Jayme Matarazzo tinha 23 anos quando deixou a capital paulista rumo ao Rio de Janeiro. Era 2009 e estava ansioso para estrear como ator na minissérie "Maísa" (Globo), na qual interpretou o próprio pai, Jayme Monjardim, filho da cantora que dá nome à produção.
A partir dali, não parou mais e emendou um trabalho atrás do outro na emissora, onde mantém contrato por pelo menos até 2022. Foi de mocinho corajoso, como Pedro de "Sete Vidas" (2015), a vilão inescrupuloso, como Fernão de "Tempo de Amar" (2017-2018).
"Achei que ia voltar para São Paulo depois do primeiro trabalho, mas nunca mais saí do Rio de Janeiro", diz o ator, em tom de brincadeira, confessando ter tido momentos em que não conseguia nem aproveitar a cidade. "Eu vivia num circuito casa-Projac [atual Estúdios Globo] , Projac-casa", recorda.
A loucura, porém, não existe mais. O ator, que já estava em um período de hiato entre trabalhos, aproveitou a pandemia para mudar de vida. Mudou-se para o campo, passou a plantar e deu boas-vindas ao primeiro filho, Antônio, nascido em fevereiro.
"Hoje, por exemplo, acordei com minha esposa e o Antônio, e na mamada da manhã a gente estava vendo macaquinhos na janela. Aqui é assim, pela manhã, a gente vê micos pela janela, no almoço a gente conta borboletas e de tarde vê esquilinhos."
Jayminho conta que o empurrão foi dado pela pandemia. Com o adiamento das gravações da novela "Além da Ilusão", de Alessandra Poggi e prevista para a faixa das 18h da Globo, e em meio ao isolamento social, ele e a mulher, Luiza Tellechea, 32, fizeram as malas.
O destino escolhido foi a Serra da Cantareira, em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo. O ator já tinha passado temporadas na casa que é de seu pai na infância, mas agora chegou sem data para sair. Uma semana depois, outra novidade: a gravidez de Luiza.
"A serra também trouxe esse presente enorme. Fizemos essa mudança com o objetivo de plantar coisas novas, colher novos frutos e logo de cara veio nosso fruto principal, nosso presente da vida. E temos vivido uma rotina gostosa, de paz, tranquilidade."
Um ano depois da mudança, Jayminho segue no aguardo para retorno do trabalho. Além de "Além da Ilusão", ele também está selecionado para protagonizar um longa, ainda sem data. Enquanto isso, se dedica à família e às plantações que tem mantido.
Segundo ele, os chás que Luiza tomou na gravidez vieram todos da horta que ele mesmo mantém, assim como os sucos verde que ela toma. Matarazzo também já é responsável pelos legumes que consome, plantou árvores frutíferas e pensa em criar galinhas.
"Queremos que Antônio cresça vendo o que são raízes. É como plantar. Tem que ter cuidado, carinho, dedicação e amor para que aquilo lhe devolva tudo em formato de frutos, beleza, cheiros, uma recompensa bonita”, afirma o ator.
Confira trechos editados da conversa.
Você sempre viveu no eixo Rio-SP, emendando trabalhos, como foi mudar toda a rotina?
Nasci no Rio, mas quando meus pais se separaram, eu tinha entre 4 e 5 anos, eu vim para São Paulo, onde fui criado. Então tenho uma criação bem paulistana. Frequentei a [rua] 25 de Março, passeava pelo centro com meu avô. Voltei para o Rio já adulto, quando comecei a trabalhar em "Maísa". E fiquei a mil. Morei em vários lugares diferentes, conheci a Luísa e passamos a morar juntos, numa vida bem corrida de trabalho.
Mas estou muito feliz com a mudança que acabou acontecendo na nossa vida em relação ao lugar que a gente mora. Não tão feliz pelas circunstâncias, mas feliz com a tranquilidade que encontramos. Chegamos em abril, um pouco depois da pandemia, para passar um período. A ideia era se resguardar um pouco, ficar isolado, a gente ainda não entendia a proporção que a pandemia estava atingindo, e optamos por ficar mais afastados por um tempinho.
Como foi a adaptação para esse novo estilo de vida e por que a serra da Cantareira?
Consegui um tempinho de tranquilidade com a emissora após alguns projetos emendados. Então a gente estava conseguindo levar uma vida tranquila, caseira, gostosa, aproveitando muito nosso espaço. Saímos de um apartamento e fomos para uma casa, e isso nos deu aquela vontade de contato com a natureza, a necessidade de verde ao nosso redor. Fomos criados na fazenda, Luiza é de Uruguaiana, do interior do Rio Grande do Sul, o pai dela tem plantação e criação de cavalo. Crescemos com muito mato.
Já tínhamos esse pensamento quando veio a pandemia, em março de 2020, viemos para essa casa do meu pai, na serra da Cantareira, que eu vinha quando era pequeno, e é uma casinha muito bonitinha, toda cercada de verde, em meio à Mata Atlântica, com borboletas e passarinhos. Por exemplo, acordei com minha esposa e o Antônio e, na mamada da manhã, a gente estava vendo macaquinhos na janela. Aqui é assim. Pela manhã, a gente vê micos pela janela. No almoço, contamos borboletas. E de tarde vemos esquilinhos.
Quando Antônio entrou nesta equação de vida nova?
Assim que a gente chegou, nos apaixonando por esse estilo de vida mais rural, de contato com o verde, com a natureza, animais. Podendo ter uma dinâmica mais sustentável, plantar o que a gente come. E em meio a todo esse sentimento, uma semana depois de chegarmos, descobrimos a gravidez de Antônio. A serra também trouxe esse presente enorme. Fizemos essa mudança com o objetivo de plantar coisas novas, colher novos frutos e logo de cara veio nosso fruto principal, nosso presente da vida. E temos vivido uma rotina gostosa, de paz e tranquilidade. A gente enfrentou uma gravidez muito sadia, feliz, apesar de ser em um momento muito difícil, diferente. Mas a Serra da Cantareira nos serviu de porto seguro, um lugar que nos proporcionou uma fuga de uma dinâmica tão difícil.
Você falou em vida mais sustentável. Como está a rotina?
Mexer na terra, na horta e cuidar das plantas virou um hábito diário e quase uma conquista terapêutica. Foi realmente aqui que encontrei uma paz, um espaço para respirar, uma conexão com um outro tipo de tempo e a compreensão da palavra cuidado. Você tem que cuidar para ver germinar. É uma metáfora e uma poesia linda para ocupar seu estresse e sua rotina. Então, plantar é algo que eu faço diariamente.
Luiza é louca para tomar suco verde todos os dias. Enquanto não tinha todos os ingredientes, plantados e nascendo sem nenhum tipo de agrotóxico, eu não sosseguei. Quando cheguei aqui era um mato só, mas antes mesmo de colocar os móveis, eu já comecei a mexer na horta. Agora temos flores, temperos e legumes. Comecei a plantar árvores frutíferas. Já temos o nosso limão, a nossa laranja.
Mas você já sabia fazer esse trabalho com a terra? Como aprendeu?
Não era um conhecedor tão grande não, mas fui atrás para entender mais sobre ervas medicinais, coisas que nos auxiliariam na gravidez. Todos os chás que a Luiza tomou enquanto esperava Antônio saíram da nossa horta, e não faltou. A gente realmente está comendo coisas naturais, sem agrotóxicos. E estamos agora abrindo um terreno para, talvez, criar algumas galinhas. Mas a sustentabilidade vai além disso. Você consegue separar o lixo e usar isso para fazer o adubo da horta. Foi maneiro demais estudar isso, gostei mesmo. Eu já amava, mas com todo esse verde ao meu redor, finalmente, consegui fazer isso. Às vezes, a gente até monta umas cestas e manda para uns amigos em São Paulo.
Com todas essas mudanças, qual o impacto da paternidade na vida de vocês?
Nossa! Antônio foi muito desejado, veio magicamente, no tempo em que a gente se permitiu, se disponibilizou. Nossa vida está sendo maravilhosa. Estamos vivendo um sonho que tínhamos, em um lugar dos sonhos. Nossa rotina tem sido dormir zero, muito mamá, mas muita caminhada no jardim. Tem a hora do solzinho dele, contato com a natureza, voltinhas na horta, ele cercado de borboletas o dia inteiro. Há muita parceria entre eu e a Luiza, muita ajuda das nossas mães. Mas é nossa pequena família reunida, protegida, isolada, tentando ter muito otimismo nesse momento, pensamentos bons, porque, apesar da alegria imensa, nosso filho no colo e sonhos realizados, está muito difícil neste momento o mundo, o país, a sociedade.
Antônio é um acalento com tanta dificuldade ao redor, ele é uma luz de esperança muito grande de que vai dar tudo certo. Ele não pôde conhecer até agora os tios, priminhos, nossos amigos, filhos dos nossos amigos. É tudo diferente. Uma geração que deve até ter um impacto depois por esses momentos iniciais.
As preocupações aumentaram após a chegada de Antônio?
No dia a dia a preocupação é a próxima mamada, a fralda suja... Mas acho que a grande preocupação com Antônio é o mundo que ele vai encontrar, que segurança esse mundo dará a ele. A nossa proposta de permanecer na serra na gravidez, mesmo que a alguns quilômetros da capital [paulista], foi proporcionar a ele esses primeiros momentos de vida. Já que ele não poderia estar com as pessoas, que pelo menos pudesse estar em contato com a natureza e isso faz todo sentido na nossa cabeça.
Quando falamos de raízes, queremos que Antônio cresça vendo o que são raízes. É como plantar. Tem que ter cuidado, carinho, dedicação e amor para que aquilo lhe devolva tudo em formato de frutos, beleza, cheiros, uma recompensa bonita. Se eu conseguir dar a ele essas lições, vou achar mais importante, um bom caminho, um bom começo de vida para ele. Esse contato real e intenso com a natureza.
E os projetos profissionais? Tudo parado?
Estou estudando e em modo de standby, como todos da nossa área. Nosso trabalho é muito coletivo, depende de uma estrutura, de uma equipe. Estou no aguardo para fazer uma novela das 18h, que se chama "Além da Ilusão" [Globo], em que eu faço um personagem bem diferente do que estou acostumado. Também vou fazer um protagonista em um longa. É bem interessante e distante de tudo que já apresentei.
Mas está tudo em modo de espera. A pandemia vem ditando os próximos passos, e passos que requerem cuidados. Nosso meio está com muita vontade de contribuir do jeito que podemos com a sociedade, com risadas, emoção, humor e entretenimento. Coisas que vimos ser importantes na pandemia, mas tudo com o cuidado necessário.
Quando retomar o trabalho, você pretende manter o ritmo mais tranquilo e perto da natureza?
A gente sempre foi do mundo da tranquilidade, da calmaria, sempre fomos muito resguardados, mas ao mesmo tempo já viajamos bastante, conhecemos muita coisa, rodamos o mundo. Acho que nunca viajei tanto como nos últimos anos com a Luiza, mas sempre resguardando o nosso mundinho. Somos bem tranquilos e reservados. E manter esse estilo de vida aliando ao trabalho, se manter na ativa e ainda assim estar perto do verde, do ar puro e do cultivo é maravilhoso. Foi por isso que as pessoas começaram a investir mais nos seus espaços de moradia neste período de home office, priorizaram a qualidade de vida.
Apesar de projetos parados, você estava em reprise recentemente. Você se assistiu na TV?
Nossa, isso foi muito legal! Foi mais um presente que eu tive durante a pandemia: a possibilidade de rever "Cordel Encantado" [ainda antes da pandemia, no Vale a Pena Ver de Novo] e depois "Haja Coração". É um projeto que eu adoro, uma novela divertida, gostosa, que funcionou muito bem, com tensão até o último capítulo. Um trabalho em que eu me diverti bastante. Eu sou muito crítico com meu trabalho, até chato, mas essa foi uma das primeiras vezes em que me permiti assistir por assistir, sem crítica, só curtindo. Às vezes, durante o trabalho, acumulamos as preocupações, fica tenso, mas ver agora, no sofá, diante da lareira, tomando um vinho, foi muito diferente, gostoso. Assisti sem nenhum tipo de cansaço mental.
O retorno do público foi o mesmo que o da primeira vez em que a novela foi ao ar?
Sim... A felicidade com a reprise vem também do carinho do público. Eu sou bichinho do mato, para você ter uma ideia tenho passado mais tempo na minha horta do que nas minhas redes sociais, mas acho que estava com saudades desse contato, dessa troca de carinho com o público. Foi bom ter esse contato. Mas estou louco para vir com algo diferente, algo inédito. Todos estamos com muita saudade de nossos trabalhos, de nós mesmos, da nossa galera e do nosso espaço.
Com o standby de seus projetos, você se abriu a outros interesses?
Sim. Enquanto o retorno não acontece, esse é um momento para abrirmos a cabeça para outras frentes. Nunca escrevi tanto. Abri uma produtora com amigos, mesmo à distância, e estamos produzindo a terceira série, também me conectei com a música. Todo o grande descanso tem que trazer mudanças, e eu vou sair desse descanso com um bom legado e muito diferente. Vou sair pai, vou sair um cara ainda mais realizado como família, vou sair um outro marido, vou sair um outro ator. Acho que todos nós vamos sair outros seres humanos depois desta pandemia.
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