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Zapping - Cristina Padiglione

Saída tumultuada de Camila Queiroz de novela tem antecedentes

Autor de 'Verdades Secretas', Walcyr Carrasco coleciona episódios de divergências com atores

Camila Queiroz
Camila Queiroz como Angel na novela Verdades Secretas 2 - Divulgação
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Anunciada pela Globo por meio de um comunicado que buscou responsabilizar Camila Queiroz por sua ausência no desfecho da 2ª temporada de "Verdades Secretas 2", a saída da protagonista da trama de Walcyr Carrasco é mais um episódio de divergência entre o autor e atores que vivem papéis criados por ele em seu longo histórico de novelas.

Ainda na segunda-feira (15), ao participar do Roda Viva como entrevistadora de Zezé Motta, Taís Araújo revelou que o autor e o diretor Walter Avancini (1935-2001) queria que ela fizesse uma cena insinuando sexo anal em "Xica da Silva", produzida pela extinta TV Manchete em 1996, quando ela tinha de 17 para 18 anos. O autor negou a acusação.

Em "Amor à Vida" (2013), Carrasco matou a personagem de Marina Ruy Barbosa e a condenou a um único figurino de camisola como fantasmininha até o fim da trama, após a recusa da atriz em raspar a cabeça e jogar ao chão seus lindos fios ruivos --naquela ocasião, Marina teria concordado com a cabeça raspada antes de aceitar o papel, como relatou Carrasco em uma live em agosto de 2020. Os dois trocaram declarações públicas de bandeira branca na época, para selar a bronca do passado.

Carrasco, assim como muitos autores de novelas, não aceita que façam alterações em seus textos, mas eventuais ajustes na hora de gravar, algo que seria negociável ou conversável, pode determinar a morte de um personagem.

Houve ainda o caso de uma atriz que fazia uma empregada doméstica em determinada novela do autor e na trama ganhava algum dinheiro a certa altura do enredo. A atriz sugeriu à direção da novela usar um batonzinho como sinal de sua ligeira ascensão financeira, e a ideia foi acatada. Carrasco não gostou e mandou recado por escrito no script que a personagem não poderia usar batom e deveria seguir exatamente igual na história, sob o risco de ser cortada da novela.

Outros casos

O texto do comunicado sobre Camila Queiroz surpreendeu muitos profissionais do mercado pelo tom acusatório sobre a atriz, dispensando a quase sempre presente diplomacia da Globo em casos como este. Mas em 2011, Ana Paula Arósio também foi dispensada da novela "Insensato Coração" com comunicado que apontava sua ausência nas gravações e a responsabilizava por atraso na produção.

No dia seguinte, a atriz, que tinha contrato de exclusividade com a emissora, respondeu com um pedido de desligamento da empresa e praticamente se aposentou da profissão, fazendo um ou outro filme ou comercial desde então.

Enquanto a Globo diz ser "inaceitável" a imposição de Camila Queiroz sobre o destino de Angel, a atriz avisa, por meio de comunicado publicado em seu Instagram, que a personagem tomou rumos absolutamente distintos daqueles que lhes foram propostos quando ela aceitou fazer a nova safra de capítulos do folhetim originalmente criado em 2015.

O texto da Globo distribuído à imprensa não menciona esse desencontro entre o que foi proposto e o que de fato foi gravado. Nos bastidores da produção, fala-se ainda que o elenco, de modo geral, não tinha noção de que as cenas de sexo demandariam uma exposição tão maior do que aquelas vistas na primeira temporada, que teve outro diretor, Mauro Mendonça Filho, outro profissional a se desentender com o autor e substituído agora por Amora Mautner.

A nota da empresa menciona que Camila fez todas essas imposições para assinar apenas um novo contrato com prazo de sete dias, quando as gravações com a atriz se encerrariam, mas consta que este já seria o segundo aditivo que ela negociaria pela obra, já que seu acordo com a Globo não é mais exclusivo e depende do tempo de produção da novela.

As duas renovações foram consequência de atraso sobre a previsão inicial, o que tem sido comum durante a pandemia, já que protocolos de segurança e trabalhos de pós-produção exigem mais tempo para determinados trabalhos, sem falar que quando um ou outro profissional testa positivo para a Covid, o cronograma tem de ser refeito.

Além da insatisfação com os rumos tomados por Angel, Camila também não menciona que não poderia ter sido "demitida" da novela porque, na prática, nem contratada estava, visto que seu último acordo venceu há uma semana.

Em "O Bem Amado" (1973), a atriz Dilma Lóes (1950-2020) apareceu na gravação, ensaiou e, na hora de gravar, sumiu. Seu contrato com a emissora havia sido encerrado e ela não havia renovado. Por causa disso, o autor Dias Gomes foi obrigado a matar a personagem (no capítulo 163, no final da novela) colocando uma dublê para levar um tiro.

De acordo com entrevista de Dias Gomes à revista Playboy (ed.125), Dilma "exigiu, vinte dias antes do término das gravações, uma nota altíssima para renovar seu contrato, e a Globo não topou."

Em depoimento ao site Teledramaturgia, do jornalista Nilson Xavier, Dilma alegou que passava por um mau momento, com saúde fragilizada, e que não era de seu interesse renovar o contrato. A Globo tentou forçá-la a gravar cenas da novela além do previsto, para dar um desfecho a sua personagem (como sequências da morte, baleada na rua, depois no posto de saúde e no velório), mas ela de fato foi embora, tendo gravado apenas as cenas pré-estabelecidas, de acordo com seu contrato.

Nunca mais se viu Dilma Lóes na Globo, mas a filha dela, Vanessa Lóes, casada com o ator Thiago Lacerda, chegou a fazer vários trabalhos na emissora.

Outro caso similar ao de Ana Paula Arósio aconteceu com Norma Bengell, dispensada de "Dancin'Days" (1978) após já ter gravado várias cenas, por imposições tratadas na época como inaceitáveis pelo então diretor Daniel Filho. A Globo jogou fora o que ela já havia gravado e entregou a Joana Fomm a antagonista da história de Gilberto Brga, Iolanda Pratini, que foi um enorme sucesso.

O modelo de negócios atual da Globo/GloboPlay e canais Globo tem prezado por contratos por obra. Sucesso em "Verdades Secretas 2", Camila dispensou contrato de exclusividade com a empresa, como reforça em seu comunicado no Instagram, esclarecendo que partiu dela a vontade de não ficar presa à empresa.

Mas trabalhar para empresas distintas e sets diversos pede um rigor de agenda que a pandemia, mesmo agora, arrefecida, nem sempre permite, atrapalhando compromissos firmados com antecedência.

Enquanto está no GloboPlay, a atriz também encabeça um dos títulos mais vistos na concorrência, como apresentadora do reality Show Casamento às Cegas, da Netflix. Esta coluna tem informação precisa de que a atriz já tem outros compromissos firmados fora da Globo e também ficou contrariada com os atrasos em "Verdades 2".

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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