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Com questões de gênero e deslizes no humor, comédia com Thati Lopes entretém

Filme 'Socorro, Virei uma Garota!' estreia nos cinemas nesta quinta (22)

Júlia (Thati Lopes) e Melina (Manu Gavassi) em cena do filme 'Socorro, Virei uma Garota!'

Júlia (Thati Lopes) e Melina (Manu Gavassi) em cena do filme 'Socorro, Virei uma Garota!' Divulgação

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São Paulo

Uma comédia romântica adolescente, que aborda desde questões de gênero até relações familiares. Com uma receita que não é novidade, mas entretém, o filme “Socorro, Virei uma Garota!” chega aos cinemas nesta quinta-feira (22) com comédia e um quê de drama e reflexão.

O longa conta a história de Júlio (Victor Lamoglia), um nerd da escola, de boas notas, mas excluído dos círculos sociais para além do seu fiel escudeiro, Cabeça (Léo Bahia). Ele é apaixonado pela garota mais popular, Melina (Manu Gavassi).

As confusões começam quando, após passar por uma situação embaraçosa em frente a todos os seus colegas, inclusive sua crush, durante um acampamento da escola, Júlio deseja ser "a pessoa mais descolada". E acorda num quarto, como é chamado por ele, de “Meu Pequeno Pônei”, com um closet gigante e banheiro próprio –o oposto do que ocorria no seu universo original.

Ao mesmo tempo, ele leva um susto ao tentar fazer xixi em pé, se olhar no espelho e ver Júlia (Thati Lopes). A jovem é totalmente diferente dele, não só nas relações entre amigos e colegas, mas também com a família. É nesta última questão que o filme toma corpo e deixa de ser só uma comédia romântica adolescente e passa a levantar questionamentos para o espectador, independentemente de sua idade.

“Não é só para um público. Eu me surpreendi quando assisti depois a todas as cenas. Ele pega em vários pontos, a questão familiar, que é muito forte. Se disfarça de comédia romântica, mas é muito mais profundo que isso. Esse lance de aceitação não se limita à adolescência”, diz Manu Gavassi sobre o longa.

Produtor e roteirista, Paulo Cursino afirma acompanhou a ideia do filme desde o início com o diretor Leandro Neri. Há oito anos, quando o longa começou a ser pensado, eles trabalhavam em outro projeto que não avançava. Cursino indagou se Neri não teria uma outra ideia, quando o diretor compartilhou o enredo do que seria “Socorro, Virei uma Garota!".

Uma preocupação era a repetição da história, pois os anos 2000 tiveram produções de troca-troca, como "Se Eu Fosse Você" (2006), "Uma Sexta-Feira Muito Louca" (2003) e "Ela É o Cara" (2006), entre outros. "Havia filmes com trocas de corpos ou um cara que se passa por uma garota ou o contrário. Mas não é isso. Ele vai se tornar realmente a garota mais legal da escola", conta Cursino.

"Trouxe o elemento de que ela já existia antes. Isso trouxe a novidade necessária para um formato clássico de uma história de transformação, de nova realidade", completa. Ele relata que, além da ideia de Neri e de seus toques, a história cresceu muito com a chegada do elenco, outro ponto da produção que pode causar estranheza ao espectador.

O mais novo do núcleo principal é Lamoglia, com 25 anos, oito anos mais velho do que Júlio, um jovem de cerca de 17 anos. "Queríamos muito apostar [em jovens atores], mas quando fazíamos teste com os mais jovens, percebíamos que eles vinham com bastante escola dramática, mas o humor não fluía. É uma escola que não existe no Brasil”, explica o produtor e roteirista do longa.

A faixa etária dos atores foi definida na casa dos 20 e poucos anos quando a protagonista, Thati Lopes, 29, foi escolhida para o papel de Júlia. “Precisávamos ter pelo menos a protagonista com muita comédia. Se a gente não achasse essa adolescente, não ia render. Quando achamos a Thati Lopes, [vimos que] ela era perfeita para o papel. Não é adolescente, mas é atriz suficiente para passar a impressão."

Thati, já conhecida pela comédia e por fazer parte do Porta dos Fundos, convence como adolescente. Os trejeitos de Júlia são parecidos aos de Júlio, resultado da construção conjunta da personagem protagonizada pelo casal.

A atriz diz que o fato de o namorado ser a versão masculina ajudou na “imitação”, além de ela ter trazido sua própria personalidade de “moleca” da época da adolescência. "Facilitou ele ser meu namorado, mas foi um processo muito legal. Fizemos um mês antes de workshop, fazia exercícios, eu lia a parte dele, ele lia a minha, a gente criava os trejeitos", explica Thati sobre a criação da personagem.

Para Lamoglia, o ganho foi justamente essa composição em conjunto. "Era muito legal porque ela não estava fazendo o Victor, nós criamos juntos um Júlio, para que independentemente de sexo, estar nos dois personagens."

O elenco ainda conta com Lua Blanco, Nelson Freitas, Kayky Brito, Vannessa Gerbelli e Bruno Gissoni. Junto com a idade do elenco, vem o ambiente escolar de Júlio e Júlia retratado no longa. Os atores veem que aquela realidade conversa muito mais com a sua adolescência do que necessariamente com a atual.

"Sinto que talvez o filme represente mais o que a gente viveu há dez anos do que a adolescência atual. Tenho visto que a galera de 13 e 14 anos já é muito mais desconstruída, está em outra fase", afirma Manu.Lamoglia compartilha a experiência de casa para reafirmar a impressão da colega. "Vejo pelas minhas primas, uma tem 16 e a outra tem 14, e elas tocam em assuntos que eu fui falar disso semana passada."

DISCUSSÃO ATUAL PARA UM HUMOR ANTIGO

Envelopada no humor está o debate sobre identidade de gênero, o que é ser menino e menina. Lamoglia, como nerd nos seus tempos de escola, “não o de boas notas, mas o que gostava de Star Wars”, ressalta que é muito bom o filme tocar nesse ponto. “Está tudo bem ser assim. Vai ter alguém que vai gostar de você assim.”

Lua Blanco, que vive Renata, a irmã de Cabeça nos dois universos, também destaca a conclusão do longa. “Apesar de ter algumas piadas ultrapassadas, que a gente não faria hoje em dia, a mensagem final do filme é um caminho bom, é uma mensagem boa para passar para os jovens que vão assistir. O foco final é igualdade e autoaceitação.”

Esse humor um tanto ultrapassado foi um ponto delicado e que chama a atenção no desenrolar da história. Os deslizes são reconhecidos pelo próprio produtor. “Era um grande medo nosso fazer piada, porque as pessoas poderiam se ofender. Mas se a gente não tiver o riso, a gente perde o público. O negócio é brincar e não tentar agradar todo mundo."

Para ele, a discussão é importante, mas destaca que o longa não quer levantar bandeira. “É uma questão fundamental hoje discutir a sexualidade. Dá para discutir a sexualidade ali, o que é ser homem, o que é ser mulher de uma forma que seja acessível para o grande público, mas evitando levantar bandeira. Não quero levantar bandeira, quero contar uma história.”

Além disso, ele acredita que, para vender uma ideia –neste caso, a discussão de gênero–, não se deve enfiá-la goela abaixo. “A função da dramaturgia é amaciar aquilo que incomoda. Tem que seduzir. O filme cumpre essa função. Ele seduz mais do que tenta doutrinar."

"Socorro, Virei Uma Garota!"

  • Quando Estreia dia 22/8
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Thati Lopes, Manu Gavassi, Victor Lamoglia, Leo Bahia, Lua Blanco, Lipy Adler, Nelson Freitas, Kayky Brito, Vannessa Gerbelli e Bruno Gissoni
  • Direção Leandro Neri
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