Renato Kramer

Gloria Pires fala de novo filme e relembra Oscar: 'Não vou fazer personagem, eu sou assim'

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"Ao longo da minha vida artística eu tenho sido presenteada com essas mulheres icônicas", declarou a atriz Gloria Pires no "Saia Justa" (GNT) desta quarta-feira (13).

Gloria se referia também a atual personagem que representa no filme "Nise, o Coração da Loucura" (Roberto Berliner), que conta a trajetória da revolucionária psiquiatra Nise da Silveira, interpretada pela atriz.

A atriz lembra que já conhecia um pouco da história de Nise. "Sempre tinha matérias no jornal com ela. Muitos atores, muita gente de teatro ia até o grupo de estudos dela, que ainda existe", declara a atriz.

"Imagina, isso se passa na década de 40, e hoje ainda se tem tanto preconceito para se falar de louco. Ainda está se discutindo a questão ambulatorial", interveio a jornalista Barbara Gancia.

"Realmente ainda está em processo o fechamento dos hospícios, mesmo porque em algum momento as pessoas teriam que entender que a prisão não é cura para nada", completa Pires.

Para a atriz Monica Martelli, coapresentadora do programa, Nise deveria ser reverenciada. "Porque ninguém quer saber de louco, até hoje. As pessoas têm medo de louco. As famílias escondiam os loucos. E não tem política pública para cuidar dessas pessoas."

Nise da Silveira chegou a ser presa por mais de um ano por envolvimento com o marxismo —seu marido, também médico, era ativista. 

"Ela sempre foi muito rebelde, essa é que é a verdade", declara Glorinha. "Ela queria ser livre, não se prender a nada e poder ter o pensamento dela, mas ela lia tudo, inclusive Marx", completa.

"O que me encanta no filme é a gente poder conhecer a história de uma mulher revolucionária", diz Astrid Fontenelle.

Para Gloria, Nise também era acima de tudo uma servidora pública. "Ela tinha consciência de que ela estava a serviço do povo brasileiro", esclarece a atriz remetendo a contemporaneidade do tema.

​Em se tratando de heroínas, Gloria declara abertamente: "Eu tenho uma galeria de heroínas no meu currículo".

Mas reforça o nome de Nise da Silveira, "que é fera!", e Lota, a arquiteta-paisagista interpretada pela atriz em "Flores Raras" (2013).

"Você já foi sufocada pela fama?", perguntou Astrid.

"Não", respondeu Glorinha de pronto. "Meus pais eram muito pé no chão. E ter acompanhado, ter visto tanta gente que era o máximo, depois estava lá embaixo, na miséria, sabe? Essa ideia de que a vida não era justa, no sentido de que você não consegue controlar, isso sempre me manteve muito centrada", diz Pires.

E confidencia: "Até o meu estilo de interpretação que as pessoas dizem ser uma coisa econômica, é muito baseado nessa vivência. É o meu tamanho, sabe? É até onde a minha perna alcança", conclui a melhor atriz da sua geração.

De volta ao Oscar

Claro que a recente participação da atriz como uma das comentaristas na entrega do Oscar não poderia deixar de vir à tona.

"Essa necessidade das pessoas estarem ligadas, de estarem por dentro de tudo (...). Todo mundo tem uma opinião, mas elas as vezes não sabem sobre o que estão opinando", comenta a atriz. "Eu acredito que muita gente que comentou nem tenha assistido. E falaram: ela não viu nada, ela não assistiu nada. Não é verdade", defende-se Glorinha.

"Você acha que a música tal é capaz de ganhar? Eu não sei, eu não sou capaz de opinar sobre isso", relembra, sobre alguns dos momentos mais criticados nas redes sociais.

"Não sou uma pessoa que vai fazer um personagem na vida. Eu sou assim. Eu procuro ser uma pessoa compreensiva com os outros, porque afinal de contas eu faço um trabalho que atinge o grande público e eu sou feliz com a reação das pessoas com o meu trabalho", conclui a grande atriz Gloria Pires.


Em tempo: acabo de ser avisado que fui dispensado da minha função de colunista do site "F5", a qual completaria cinco anos em julho próximo.

Só tenho a agradecer o convite generoso de Sérgio Dávila e a paciência dos editores do site, que sempre, apesar das nossas diferenças, souberam respeitar os meus textos que não correspondiam exatamente aos manuais da Folha.

Obrigado a todos pelo carinho, respeito e especialmente, obrigado aos leitores que me receberam durante tanto tempo, diuturnamente.

Um forte abraço, Renato Kramer.


Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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