Renato Kramer

'No meu tempo as mocinhas tinham mais prestígio', diz Regina Duarte

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"Eu sou de uma geração que lia muito", afirma a atriz Regina Duarte em entrevista para Bianca Ramoneda no "Ofício em Cena" (GloboNews) do sábado (9).

"Eu li todos os clássicos, então eu tenho um estoque de vivências humanas muito grande em função da literatura", complementa.

E argumenta: "Por que os clássicos são importantes? Porque eles não descrevem uma ação e dão cinco linhas de subtexto para os personagens. Eles dedicam três páginas para descrever o estado interno de um personagem".

"É o nosso ofício que está ali! A gente tem que se servir dessa literatura para criar nossos personagens. Com a literatura, a gente não precisa sair de casa para adquirir esse arsenal de instrumentação para poder criar um personagem que talvez esteja longe de você", diz Regina.

Ainda sobre a sua maneira de criar seus personagens, Regina enfatiza: "A criação de um papel é holística! Você tem que abrir o leque, ter um radar para captar tudo. E se concentrar no mais difícil: se livrar do texto".

Protagonista de incontáveis novelas, a atriz dá algumas dicas para a plateia de jovens atores: "Na televisão, você tem que trazer a lição de casa pronta, texto decorado, porque diretor não tem tempo. Em geral em televisão, é a primeira emoção que vale: você leu, bateu, não fique em dúvida não: vai firme nessa direção".

A atriz ainda confidencia alguns vícios no trabalho: "Eu tenho tendência a ficar acelerando a cena, porque eu tenho medo que o espectador lá do outro lado do aparelho durma! Então falo rápido e acelero... Depois eu mesma assisto e me pergunto: pra que correr? Que pressa é essa? Se tiver que cortar depois, corta, mas pelo menos você fez no andamento que você sentiu quando leu a primeira vez".

E faz um desabafo: "Eu adoro ser dirigida e ultimamente os diretores não me dirigem mais, raramente. Acho que eles pensam que eu já sei. Eu acho isso um horror! Eu não sei! Tudo o que eu sei tá na prateleira. Me dirijam, pelo amor de Deus!", implorou a atriz.

Sobre o fato de nunca ter feito uma grande vilã, Regina coloca: "No meu tempo as mocinhas tinham mais prestígio e a vilã era odiada. O público acreditava no que estava vendo. Teve gente que foi apedrejado na rua porque fazia uma pessoa muito má! Eu até pedi pra (autora) Janete Clair (1925-1983) várias vezes. Ela até tentou numa novela (Fogo Sobre Terra – 1974). Ela me deu a Bárbara, toda rebelde, questionando os pais e tudo. O público reclamou e ela fez a Bárbara ficar cega!".

Sobre a hipervalorização das vilãs de hoje, Regina Duarte faz uma rápida defesa das mocinhas, personagens que sempre defendeu com excelência: "Naquela época elas tinham um valor, uma importância. Elas carregavam a história. Mesmo boazinhas e vítimas, elas tinham um lado espertinho", declara.

Quanto a projetos futuros, Regina confessa que se preocupa muito em manter o nível de qualidade que atingiu em sua trajetória: "Alguma coisa tem que crescer nesse bolo. Eu não posso ficar fazendo o que eu já fiz, nem menos do que eu já fiz. Isso é chato, porque aí eu começo a ficar muito limitada como atriz".

Então o que ela deseja para o momento? "Eu quero agora trabalhar com o ator fora de cena. Trabalhar junto com o ator na descoberta dos entendimentos básicos do trabalho que ele tem que fazer. Essa é a minha grande proposta nesse momento", conclui a rainha da televisão brasileira.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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