Baseada no filme "Serra Pelada", exibido nos cinemas em 2013, a minissérie que adotou o subtítulo "A Saga do Ouro" para contar o fenômeno que aconteceu no sul do Pará no início dos anos 80, estreou na Globo nesta terça-feira (21).

Com roteiro de Vera Egito e Heitor Dhalia, ele que também dirige a minissérie com maestria, a trama envolve dois amigos de infância, Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Julio Andrade), que resolvem deixar São Paulo e partir para o garimpo atrás de fortuna.

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Julio, um pacato e desempregado professor, deixa a graciosa mulher Isabel (Eline Porto) grávida e parte atrás do sonho de dar uma vida melhor para o filho. Juliano, ex-boxeador agressivo, deixa para trás apenas uma dívida e alguns agiotas no seu encalço.

Na chegada ao garimpo, a adaptação é feita aos trancos, segundo as regras do lugar. Joaquim, numa interpretação impecável de Julio Andrade, acaba envolvendo-se numa disputa de espaço com uma das mais perigosas "Marias" –como eram chamadas as bichas do garimpo.

Cazarré –que representa um Juliano com muito vigor e uma energia que parece vir das entranhas, chega para ajudar o amigo e mata o intruso. "Matei um homem", confidencia Juliano com um tom vazio e sereno, "nunca tinha matado. (Pausa) Gostei de matar!", conclui o ex-boxeador sem euforia nem remorso.

"Vou te falar uma coisa, grandão", comenta Joaquim com o amigo que o salvou, "esse lugar piora a gente". Mais tarde, outras Marias vão aparecer e soltar faíscas com os olhos em direção a Juliano por ter matado a amiga. E quando um outro garimpeiro mexe com uma delas, ela avança até ele com um estilete e o ameaça com veemência: "Quando passar por mim baixa a cabeça e peça a bênção. Tô de olho." Ótima cena.

O ouro vai aparecendo e o dinheiro vai entrando na vida dos amigos que fazem um pacto de irmão. O garimpo cresce cada vez mais e finalmente chegam as mulheres, com a abertura da "Boate Hollywood". É lá que Juliano vê pela primeira vez a bela prostituta Tereza (Sophie Charlotte), noiva do rico fazendeiro Carvalho (o talentoso Matheus Naschtergaele). E o primeiro encontro dos dois é ali mesmo, no "toilette" do lugar.

É aí também que entra em cena o sempre exuberante Wagner Moura, vivendo o poderoso Lindo Rico. Ele quer apenas se divertir mas um cabra invocado exige que ele se retire, tratando-o muito mal. Ele tenta desconversar mas o outro insiste, até que Lindo se levanta e lhe dá uns três, quatro tiros. "Precisava disso?", questiona Lindo Rico guardando a sua arma com tranquilidade. "Não tinha necessidade nenhuma disso", e dá as costas para o defunto e sai. Grande Wagner Moura.

Com apenas quatro episódios, a minissérie "Serra Pelada, A Saga do Ouro" teve uma estreia vibrante e intensa. A fotografia é literalmente cinematográfica, a ambientação transmite com realismo a crueza do garimpo e as interpretações dão verossimilhança à história. Mais um acerto dentro dessa atual boa safra de minisséries.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"