Renato Kramer

'Escuto que a novela vai acabar há muito tempo', diz Glória Pires

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O Globo Repórter (Rede Globo) desta sexta-feira foi todo em homenagem aos 60 anos da telenovela. Em 1951, Vida Alves e Walter Foster protagonizaram o primeiro beijo na televisão em "Sua Vida Me Pertence". "Foi um beijo técnico", assegura a atriz. "Há sessenta anos que eu explico isso". A novela ia ao ar duas vezes por semana. Ao vivo.

O apresentador Sérgio Chapelin entrevistou logo de início o ator Francisco Cuoco, protagonista de grandes sucessos da casa. Em 1977, o ator fazia Herculano Quintanilha em "O Astro". Recentemente fez o misterioso Ferragus, mentor de Herculano, vivido por Rodrigo Lombardi no remake de "O Astro".

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Brilhou também em 'Assim Na Terra Como No Céu'(1970), na qual faz o padre Vitor Mariano que abandona a batina para ficar com Helô ( a grande e saudosa Dina Sfat). Depois em 'Pecado Capital' (1975), quando fez o ciumento taxista Carlão, apaixonado pela serelepe operária Lucinha (Betty Faria).

Mas talvez o seu maior sucesso tenha sido como o Cristiano Vilhena, de 'Selva de Pedra' (1972), novela de Janete Clair. 'O Cristiano sofria muita influência do Miro (Carlos Vereza), ele que me ajudava a matar a Regina Duarte', conta Cuoco. Sim, porque era Regina Duarte (Simone Marques/ Rosana Reis) quem co-protagonizava a trama rivalizando com a ardilosa Fernanda (Dina Sfat), numa novela que dava 100% de audiência no país.

'Era uma paixão que a gente via no olho brilhando das pessoas nas ruas', conta Regina Duarte. Mas esse não foi o primeiro par romântico do casal. 'Fizemos 'Finalmente Juntos', na (TV) Excelsior', lembra a atriz. 'Eu lembro que estava fazendo essa novela e não estava indo muito bem. Daí disseram: o único jeito é chamar a Regina!', conta Francisco Cuoco, só para dar uma pequena amostra do carisma da então 'Namoradinha do Brasil'.

Para a atriz, duas cenas lhe vieram à mente quando Chapelin lhe pediu para citar algo marcante. Uma é a noite de núpcias de Maria do Carmo, em 'Rainha da Sucata' (1990) - na qual ela é rejeitada por Edu (Tony Ramos). A outra é a troca dos bebês, que seu personagem Helena exige que o médico (Marcelo Serrado) faça, ao perceber que o bebê de sua filha morrera logo após o parto ('Por Amor' - 1997).

Tony Ramos, que confessa aos quatro cantos a sua paixão pelo que faz em seus quarenta e oito anos de profissão, escolhe uma cena singela, segundo ele. É quando seu personagem Boanerges perde o bigode numa aposta em 'Cabocla' (2004) - novela que já tinha sido realizada pela emissora em 1979, com Glória Pires no papel título. Mas a cena que mais o emocionou foi a do seu personagem Opash descobrindo que Shankar (Lima Duarte) é seu verdadeiro pai em "Caminho das Índias" (2009) - novela que ganhou o 'Emmy' internacional.

'Eu fui o primeiro bandido da televisão', confessa Lima Duarte. Ele foi o responsável pela direção de um marco na história da telenovela: 'Beto Rockfeller' (1968), com o ator Luiz Gustavo, na extinta TV Tupi. Participou também, entre tantas outras, da primeira novela em cores no Brasil: O Bem Amado' (1973), na qual fazia o seu famoso "Zeca Diabo". A saudosa e esfuziante Sandra Bréa também fazia parte deste elenco, cujo protagonista era o talentoso Paulo Gracindo.

Mil e um flashes de grandes momentos da telenovela brasileira foram mostrados. Atores e atrizes brilhantes como Raul Cortez, Dina Sfat, Jardel Filho, Yara Cortes, Maria Luiza Castelli e Armando Bógus, entre tantos outros, foram lembrados. O casal Tarcísio Meira e Glória Menezes também teve a sua grande contribuição valorizada. Marília Pêra confessou à repórter Glória Maria que não tem saudades porque foi tudo "ontem". "O tempo passa tão rápido!", diz a atriz.

A bela Tônia Carrero deu o ar da sua graça. Em rápidas imagens, vislumbramos a belíssima atriz vivendo a viúva milionária Cristina Guimarães em 'Pigmalião 70'. O corte de cabelo da atriz fez tanto sucesso que todas as mulheres queriam um corte 'pigmalião', como ficou sendo chamado. Nessa mesma novela trabalharam outras duas grandes saudosas atrizes: Jacyra Silva (Marlene) e Carmem Silva (Condessa Cavanca). E o então jovem ator Marcos Paulo também teve destaque com o seu personagem Kiko.

Algumas das mais tenebrosas vilãs também tiveram vez: a Odete Roithman (Beatriz Segall) de "Vale Tudo"; a Nazaré (Renata Sorrah) de "Senhora do Destino"; a Flora (Patrícia Pillar) de "A Favorita" e até a Clara (Mariana Ximenes) de "Passione". "Fazer a mocinha também não é fácil não", diz Ximenes. "Você tem que cuidar pra não ficar chata".

A importância dos efeitos especiais, dos cenários e figurinos foi ressaltada. A costureira Ana Lúcia Santos, com 38 anos de Globo, conta que seus preferidos são os vestidos de noiva. Entre eles o de Jade (Giovanna Antonelli) em "O Clone" (2001). O guarda-roupa da emissora, que conta com aproximadamente cento e cinquenta mil peças, é coordenado pelas competentes figurinistas Beth Filipecki e Marília Carneiro.

"As meias 'dancin' days'? Eu vi numa capa de um disco e resolvi colocar na Sônia Braga", relata Marília Carneiro para Glória Maria. "Pronto, virou mania nacional". A atriz Sônia Braga fazia Júlia Matos na novela "Dancin' Days" (1978). Era uma ex-presidiária que tentava reconquistar o amor da filha Marisa (Glória Pires).

"Eu escuto que a novela vai acabar há muito tempo...mas não acaba...é algo que vai se renovando", declara a excelente atriz Glória Pires. "Eu só tenho a agradecer a esse público de tantos anos, pelo carinho, pelo amor", despede-se Regina Duarte: a eterna "Namoradinha do Brasil".

Claro que teria muito mais coisas para serem citadas. Afinal, são sessenta anos! E importantes, afinal: "Tudo o que acontece ali (na novela), acontece na vida real", declarou uma senhora entrevistada na rua

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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