Tudo começou porque Fátima (Fernanda Torres) percebeu a enorme tatuagem que Bia (Malu Rodrigues) tinha no corpo enquanto se trocava. Fátima não teve dúvidas: "também vou fazer uma tatuagem assim, bem bonita!", disse para Sueli (Andréa Beltrão), que também assistia a cena. Sueli, mais realista, respondeu um tanto desacorçoada: "é que ela é jovem... nessa idade até espinha nas costas fica bonito!".

Bia, filha de Jorge (Fábio Assunção), atual 'namorisco' de Sueli, acabara de conseguir uma vaga de assistente de vendedora na 'Djalma Noivas'. Ela estava feliz da vida colocando o uniformezinho cafona, segundo ela própria --enquanto as duas, Fátima e Sueli, ainda espantadas com a nova aquisição, assistiam a tal troca. "Cafona não", objetou indignada Fátima. "Esse uniforme é um clássico!". "Pra mim continua cafona", respondeu Bia sem dar muita importância.

Foi então que, no seu horário de almoço, Fátima resolveu ir correndo contar o seu projeto novo para o seu amante Armane (Vladimir Brichta). Chegou ansiosa no estabelecimento do bonitão, despejando sobre ele a sua decisão de fazer uma bela tatuagem. Não foi bem recebida.

Bateu pé até que Armane concordou, desde que ele a acompanhasse. E assim foi feito.

Enquanto isso, Flavinha (Fernanda de Freitas) sente a falta de Fátima, que já deveria ter voltado da hora do almoço. Pressiona Sueli para contar-lhe aonde Fátima se encontra e a amiga, acuada, arrisca rapidamente uma velha emergência dentária. "Nem que ela fosse um jacaré teria assim tanto dente para arrumar!", esbraveja Flavinha ao perceber o 'golpe'.

No estúdio, Fátima se deixa tatuar pelo "Dinossauro do Tatoo", embora não ponha muita fé na figuraça. Pede para o namorado ciumento ficar de olho, já que a tatoo é nas costas, perto da cintura. Armane se distrai com o longo telefonema do filho e deixa de acompanhar o procedimento. Serviço terminado, e devidamente coberto para uma primeira proteção, só se poderia ver realmente como ficou no dia seguinte.

De manhã cedo, Fátima chega toda nervosa na loja e quer que Sueli seja a primeira a ver como ficou a belezura. Tira a blusa, a proteção quer cobria a tatuagem, enquanto vai explicando para a amiga que é "daquela música 'forever young, I'll wanna be, forever young...', lembra?!" e mostra para Sueli. Cinco minutos de pânico. "Ué, Sueli, não gostou?!", pergunta Fátima quase histérica.

Sueli, com toda a cautela que consegue reunir no momento, pergunta pausadamente: "você quer dizer a música do Mussum?!". Os mais maduros sem dúvida devem lembrar-se de que o grande comediante Mussum (Os Trapalhões), tinha o costume de colocar a sílaba 'is' em todos os terminais de palavras possíveis e até impossíveis.

"Que Mussum, Sueli, tá louca? Todo mundo conhece" e cantarola mais um pouco. "Forever young!", confirma Fátima. "Forevis Young", é o que está escrito aqui, Fátima!". "Que forevis?" (Olha pelo espelho.) "Eu não acredito... aquele dinossauro me paga, que cara louco... e o Armane que não viu isso?!".

Logo em seguida Armane vê. E cai na gargalhada. Ela vai correndo até ele para tentar desfazer o estrago. "Forevis", é a tattoo do Mussum? Ô, da poltrona... isso é coisa dos 'trapalhões': ei, psit!", e Armane 'rachava o bico'. Fátima furiosa só queria saber de voltar no tal 'dinossauro do tattoo' e arrumar aquilo."Eu é que vou tatuar a minha mão na tua cara!", ameaçou Fátima se Armane não se apressasse em ir com ela resolver aquilo naquele instante.

Pronto, foi o que bastou para preencher de graça, colorido e humor o episódio de "Tapas & Beijos" desta terça-feira. Me fez lembrar de uma cena de "Os trapalhões' em que Dedé (Santana) entrava na sala, todo apressado e chamava por Maria. Entrava Mussum, loura e de uniforme de governanta. Dedé olha para Maria e lhe dirige a palavra: "Maria, o patrão quer a mala. (Ele e Didi iam viajar.) Maria fixa-o bem nos olhos e o esbofeteia. "Diga pra ele que eu não sou dessas!", e sai, digna. Grande Mussum.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"