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Colecionador cria página com acervo da Playboy e incomoda ex-musas hoje evangélicas

Radialista Geylson Paiva tem todos os exemplares lançados no país e suas postagens dividem ex-capas da publicação; muitas o agradecem pela lembrança

Capas da Playboy com Adriane Galisteu, Regininha Poltergeist e Ticiane Pinheiro com a mãe, Helô Pinheiro
Capas da Playboy com Adriane Galisteu, Regininha Poltergeist e Ticiane Pinheiro com a mãe, Helô Pinheiro - Montagem/Reprodução
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Rio de Janeiro

Um dos maiores colecionadores da revista Playboy no Brasil vive entre pilhas de exemplares. O radialista maranhense Geylson Paiva, 37, possui todas as edições nacionais lançadas aqui, desde seu surgimento, em 1975, até o término, em 2017. São mais de 500 publicações, guardadas com esmero em sua casa, em São Luís (MA).

De posse desse acervo, ele criou um site onde disponibiliza gratuitamente o conteúdo das publicações. Para Geylson, democratizar este verdadeiro tesouro é ressignificar a memória da revista: "Fiz esse espaço respeitosamente para que as pessoas tenham acesso a um material imperdível, é um recorte histórico do nosso país em quatro décadas", afirma.

O Inside Playboy Brasil vai além da nudez, mostra também outras seções como as longas entrevistas, humor e reportagens. É um trabalho solitário, em que o criador do site posta gradualmente sua vasta coleção, que ainda levará um bom tempo para estar na íntegra na web.

Nem todas as mulheres retratadas curtem essa lembrança, mas muitas delas, sim. Atriz e ex-destaque da abertura do "Fantástico" nos anos 1980, Isadora Ribeiro, é uma delas. "[a página] É uma oportunidade de os internautas curtirem as fotos e outros conteúdos que a revista oferecia", diz.

Ex-musas chegam a entrar em contato com Paiva para agradecê-lo pelas postagens. "Uma pessoa que ficou feliz foi a Solange Couto, resgatei um ensaio interno dela e bombou, muita gente não sabia [que ela tinha posado nua]", diz o colecionador. Outra que aprovou esse resgate foi a atriz Monique Lafond.

"Achei interessante a iniciativa, meu ensaio, em Búzios, em 1981, foi lindo, lembro de ter ido à redação em São Paulo e sugerir algumas fotos", puxa da memória a estrela do cinema nacional, ressaltando que naquela época o cachê não era tão alto.

O feedback positivo vem também de ex-funcionários da publicação, como fotógrafos e editores de redação, que seguem a página e interagem. Até pedidos de materiais que se perderam no tempo são solicitados por eles. "O site pode ser considerado o único no Brasil, talvez no mundo, voltado totalmente ao acervo da revista", conta Paiva.

Sem ganhar um tostão

O colecionador faz questão de salientar que não teve nenhuma intenção de faturar quando decidiu criar a página. Diz que não ganha nada, e que nenhum tipo de propaganda é aceita. "Deixei o site o aberto, não tem publicidade, justamente para não gerar renda para mim", afirma ele. Precavido, Paiva sempre dá os créditos a todos os envolvidos no ensaios.

"Sei que existe a proteção de direitos de imagem, as pessoas têm esse direito sobre esse material; por isso mesmo não poderia cobrar, não faria sentido", enfatiza.

Indagado se já recebeu propostas para vender alguma edição específica, ele informa que não usa isso para comercialização. "Tem gente que vive de vender e trocar exemplares, já me procuraram muito, mas não trabalho com isso e faço questão de não associar nada com isso".

A identificação com a publicação veio antes dos 18 anos, ainda nos anos 1990, quando o irmão mais velho fez uma assinatura para ele. As edições mais antigas dos anos 70/80 foram obtidas em sebos de São Paulo. Não eram apenas os ensaios com mulheres nuas que o fascinavam, garante, mas todo o recheio da revista. "Há muitos recortes históricos importantes: Plano Real, Viagra, várias coisas, muitos acham que é apenas uma mulher pelada ali", indigna-se. "A Playboy era bem mais do que isso".

Sua coletânea fica armazenada em um enorme móvel de madeira, com exemplares plastificados e catalogados por mês. Escolher um ensaio favorito não é uma tarefa fácil para ele, que prefere exaltar um fotógrafo a uma edição específica. "Aprecio qualquer ensaio do Bob Wolfenson", resume.

Com tanta experiência no assunto ele percebeu uma mudança no estilo das imagens ao longo do tempo; ele afirma que nos anos 70 e 80 as fotos eram quase sempre em estúdio, na década seguinte, a revista começou a explorar as paisagens mundo afora. Nos anos 2000, foi a hora dos cenários externos com história e uma personagem a ser explorada.

O bom gosto não foi alterado, mas a apresentação corporal, sim. Os vastos pelos pubianos, uma tendência nos anos 1980, praticamente desapareceram na década seguinte.

Apesar da resposta favorável do público (seu perfil no Instagram tem um pouco mais de 20 mil seguidores), algumas ex-musas demonstraram desagrado com a lembrança, por seguirem outros caminhos pós-nudez.

Segundo Paiva, duas delas pleitearam a retirada do conteúdo, renegando o passado: "Quando alguém pede pra tirar, eu faço. Tem uma capa no site que está censurada porque uma delas não quis".

A pedido dele, preservamos a identidade da moça, que atualmente vive longe dos holofotes; embora tenha conquistado uma breve notoriedade na época. Outra que prefere não comentar a nudez pregressa é Regininha Poltergeist, 52. "Não falo sobre isso, sou da Igreja agora", esquivou-se, por telefone a ex-dançarina e coelhinha de uma das edições de 1994.

Sem demagogia, Débora Soares, 57, fala com naturalidade sobre quando venceu o Concurso das Panteras em 1986 e estampou, no mesmo ano, a Playboy. "Era a maior vitrine para a fama, um ótimo cachê e muitas portas abertas para campanhas, desfiles e televisão; eu só enxergava o sucesso e a fama", reflete a carioca, hoje pastora com o marido em uma igreja de Niterói, RJ. "Troquei tudo por Jesus, que me deu o que a fama não conseguiu: paz e liberdade", conclui.

O fim de uma era

A Playboy encerrou suas atividades pela editora Abril em 2015 após 40 anos, deixando uma legião de saudosistas. Ao longo do tempo, ela desnudou as maiores estrelas brasileiras nos quatro cantos do mundo e entrevistou personalidades renomadas. A ex-modelo Magda Cotrofe avalia: "Fiz as minhas capas (85/86/87) em um período em que a revista estava no auge, só pessoas importantes apareciam; fazer parte dessa história foi gratificante". A atriz Cláudia Alencar rememora os bastidores do seu ensaio em 1987, "botei uma música da Edith Piaf e fiz o que sabia fazer: dançar; e o Wolfenson fez os cliques".

Em 2016, outro grupo assumiu o controle da revista e sua tiragem deixou de ser mensal para se tornar sazonal, mas resistiu por pouco tempo. Saiu de cena em 2017. O fácil acesso ao erotismo nos meios digitais pode ter representado um caminho sem volta para as publicações adultas.

A revista aterrissou no Brasil em agosto de 1975. Nomeada A revista do Homem, estava refém da censura, que estipulava normas que soam risíveis hoje; seios a mostra? Apenas um. Somente em julho de 1978 o título Playboy foi autorizado.

"A primeira estrela brasileira na capa da segunda edição já com esse nome foi a Betty Faria", informa Paiva. Contudo, o ápice da publicação foi nos anos 90, com as três maiores vendagens: Joana Prado (a Feiticeira), Suzana Alves (a Tiazinha) e Adriane Galisteu (com a famosa foto da raspadinha com barbeador nos pelos pubianos, um case de sucesso da revista).

Uma geração mais jovem agora tem a chance de conferir edições históricas com alguns cliques. Para os marmanjos veteranos, revisitar um acervo precioso é voltar ao passado, quando isso não era possível por ausência de maioridade. A última capa da revista pela editora Abril foi a modelo Lu Ferreira, em dezembro de 2015. Foi a beldade que saiu e apagou a luz, encerrando uma era de prestígio, fama e sensualidade.

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Uma montagem com a atriz Taís Araujo foi inicialmente incluída entre as capas da revista e já retirada.

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