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Celebridades

'Devagar? Rubinho Barrichello era um gostosinho, isso sim', diz Regininha Poltergeist

Símbolo sexual nos anos 1990 fala de namoros, prostituição e até surra que levou

Regininha Poltergeist, de vstido preto abaixo do joelho; ela parece com as mãos na cintura, em pé no corredor do lado externo de uma casa branca, com algumas manchas na parede
Regininha Poltergeist, na casa onde mora com o pai, no bairro carioca do Engenho de Dentro: "Ganhei muito dinheiro, mas perdi tudo" - Eduardo Anizelli/ Folhapress
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Rio de Janeiro

O silêncio da tarde em uma rua do subúrbio carioca do Engenho de Dentro é interrompido pelo barulho estridente da campainha. Quem aparece para abrir a porta de um sobrado de paredes brancas que começam a descascar é uma loira exuberante, toda vestida de preto e um pouco desconfortável ao caminhar sobre os saltos finos, de 14 centímetros. "Perdi o costume", diz, apontando para as sandálias, a mulher que foi um dos maiores símbolos sexuais do Brasil nos anos 1990.

Falante, Regina de Oliveira Soares, 51, pergunta em seguida à repórter: "Acha que estou muito diferente?". Ela se refere ao tempos em que encarnava a personagem sexy e lasciva Regininha Poltergeist nos espetáculos do escritor e artista multimídia carioca Fausto Fawcett, décadas atrás. A ex-dançarina não espera nem a resposta e já conta que fez questão de se produzir especialmente para a reportagem. Pintou os cabelos, fez as unhas, ajeitou a sobrancelha —tudo à base de permuta com um cabeleireiro e amigo de longa data, Eduard Fernandes. "Ele me ajuda muito. Faz até doações para me manter", confidencia.

Regininha passa por uma fase que ela mesma define como "bem complicada" na vida pessoal e profissional. "A verdade é que eu estou no fundo do poço", admite. Estrela de espetáculos transgressores que juntavam uma superbanda —Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Dé Palmeira (Barão Vermelho), Ary Dias (A Cor do Som) e João Barone (Os Paralamas do Sucesso)— a mulheres lindas, gostosas, erotizadas e sem vergonha nenhuma disso (Alô, Anitta!), Regininha brilhou em "Santa Clara Poltergeist" e no musical "Básico Instinto", um marco da cena cultural underground carioca, que em 2022 completa 30 anos.

Numa época em que a censura ainda riscava discos de vinil, ela e sua parceira de palco, Marinara Costa (policial federal e hoje filiada ao PL de Jair Bolsonaro) povoavam o imaginário masculino —feminino também, por que não?— com representações de loiras fatais, donas de si, ora com um pé no sadismo, ora na submissão. Poltergeist rebolava com gosto, de lingerie e sandália de salto, encarnando devoradoras como a "louraça belzebu", que "só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas, dessas com armamentos bordados", de "Kátia Flávia", um dos maiores hits de Fausto. Daí para as capas de revistas masculinas, como "Playboy" e "Sexy", foi um pulo.

Dinheiro não era problema, mas hoje é. Um problemaço. Num discurso às vezes desconexo, ela conta que "perdeu tudo", sem saber explicar ao certo como. Diz que voltou para a casa dos pais depois de dormir "de favor" num posto de gasolina, se prostituiu ("Muitos fãs me chamavam para sair", ressalta), fez filmes pornô, encontrou Jesus e abraçou o Evangelho. Regininha hoje vive da aposentadoria do pai e da ajuda de amigos e não entende o que aconteceu com a persona Poltergeist. Certeza, por enquanto, ela só tem uma: precisa voltar a trabalhar.

Mãe de Lucas, de 17 anos, cujo pai ela não revela o nome, a dançarina também relembra o início de sua trajetória com Fawcett, da surra que levou de Marinara (enciumada, ela aplicou um "mata-leão" em Regininha e lhe deu socos e tapas ao vê-la com seu ex-marido, o então apresentador da Globo Fernando Vannucci, no camarote de um show), e do namoro com famosos, como o ex-piloto de Fórmula 1 Rubens Barrichello. "Devagar? Ele era um gostosinho, isso sim", afirma.

​​​Sua vida profissional deslanchou com os espetáculos performáticos de Fausto Fawcett, como "Santa Clara Poltergeist" e "Básico Instinto", que está completando 30 anos. Como foi este começo?
O Fausto estava procurando uma jovem dançarina, loira e desconhecida. Temos um amigo em comum, que fez a ponte. Assim que ele me viu, falou: 'Você é a minha Santa Clara Poltergeist'. Eu tinha 19 anos, trabalhava como modelo e vivia no mesmo gás do Fausto: tudo era uma festa. Os shows tinham umas coisas loucas, um estilo de dança muito sensual, e não foi fácil. Eu não estava acostumada com aquele universo. Não só pela minha pouca idade, mas também por conta do meu mundo até então.

Qual era o seu mundo?
Sou bailarina profissional, formada pela Escola de Dança do Teatro Municipal. Meu mundo era o balé clássico, a vida no subúrbio carioca, minha família conservadora. Dois pólos diferentes. Me assustei. Sofri um baque, mas depois fui com tudo. Quando comecei a ganhar dinheiro, então, não teve mais volta.

Como era a sua relação com as outras meninas que dançavam com você no Básico Instinto: Kátia Bronstein (hoje Kátia B.), Gisele Rosa, Luciana Brites e Marinara Costa?
Sempre me dei bem com elas. Sempre fui espontânea e até inocente demais. Nunca quis ser melhor que ninguém e fugia de qualquer confusão. Era muito segura com relação ao trabalho. Eu tinha sex appeal e sabia usar ao meu favor. Quando a gente é seguro de si, não tem inveja nem recalque de ninguém.

Mas você e a Marinara chegaram a brigar. Inclusive fisicamente, não?
Ela me deu uma surra. Eu me relacionei com o Fernando Vannucci (1951-2020), com quem a Marinara tinha sido casada. Pelo menos foi isso que ele me disse em 1993, quando a gente começou a namorar. Contou que tinha se separado dela e estava solteiro. Não sei se, na época, ele já tinha terminado mesmo a relação. Até acredito que na cabeça da Marinara ainda existia algo ou ela ainda não tinha se conformado com a separação. O que aconteceu foi que eu estava com ele, e nos encontramos em um evento. Ela me bateu muito, fiquei toda cheia de hematomas. O caso virou uma confusão danada e deu até polícia.

Você nunca mais falou com ela?
Fiquei muitos anos sem vê-la e acabei a encontrando na igreja (Bola de Neve) da qual faço parte desde a minha conversão ao Evangelho, em 2008. Um amigo em comum me contou que ela frequentava a igreja e queria me encontrar. Decidi ir e foi bacana, libertador. A Marinara me abraçou, pediu muitas desculpas por conta do que tinha me feito e eu a perdoei. Mas não dá para esquecer o escândalo. Apanhei muito e olha que eu nunca fui de briga. Fiquei apavorada. (Procurada por F5, Marinara Costa não quis dar entrevista.)

E o Fernando Vannucci?
Acabou. Ele queria casar comigo. Alugou uma casa em um condomínio da Barra e até fez questão de levar os meus pais lá, para fazer uma visita. Fez um pedido formal de casamento, com direito a um almoço entre as famílias, mas eu fiquei muito confusa depois da surra da Marinara e fui perdendo a empolgação. O relacionamento esfriou e resolvi terminar.

Você chegou a se envolver em outras confusões por conta de ciúmes?
Eu nunca briguei com outra mulher. Tinha horror. As mulheres falavam muito mal de mim pelas costas, algumas soltavam piadinhas. Eu fingia que não via e não ouvia. Mas ficava arrasada por dentro. Eu não estava preparada para enfrentar esse tipo de agressões de outras mulheres.

Você nunca soube, então, o que é sororidade.
Eu sempre tive apoio dos homens (risos).

Regininha Poltergeist aparece de lingerie no show "Básico Instinto", de Fausto Fawcett, em 1992
Regininha Poltergeist no show "Básico Instinto", de Fausto Fawcett, em 1992 - Sérgio Andrade/Folhapress

Financeiramente, como foi essa fase da sua vida?
Eu ganhei dinheiro, mas poderia ter ganhado muito mais. Quando fiz a "Playboy", o cachê poderia ter sido mais alto, por exemplo. Eu estava bombando na mídia, mas era uma das meninas do Fausto Fawcett… Na mesma época, atrizes da Globo pediram e ganharam mais. Só que quem bombava era eu.

Como foi sua saída do ‘Básico Instinto?’
Eu pedi para sair. Não queria mais continuar. O lance com a Marinara apressou o meu desejo de tentar outros voos.

O que te levou a virar evangélica?
A minha família sempre foi muito católica. Fui filha de Maria e anjinho nas coroações das santas, frequentei as igrejas do bairro durante muitos anos. Na fase mais adulta, conheci outras religiões como o budismo, a umbanda e o candomblé. Fiquei muitos anos trabalhando em um centro como médium. Saí e depois voltei como frequentadora de outro centro. Ali, eu comecei a gastar muito dinheiro com trabalhos.

Que tipo de trabalho?
Trabalhos para voltar a trabalhar e para afastar pessoas invejosas. Não queria mal de ninguém, não pedia a morte de ninguém, queria ‘ter o caminho livre’. Foram muitos trabalhos pesados. Mas outras pessoas também fizeram para mim. Era muito dinheiro para fazer e desfazer trabalhos. Um dia, uma pessoa me falou que só Jesus iria me ajudar, então decidi procurá-lo (Jesus). Passei a frequentar uma igreja perto da minha casa, na Barra, a Bola de Neve, e me converti logo depois.

O que aconteceu com a Regininha Poltergeist?
Não sei. Na verdade eu queria ser bailarina clássica. Dançar, ser professora de balé, ter uma escola de dança. Depois, quando entrei para o "Básico Instinto", comecei a gostar da ideia de ser atriz. Fiz cursos, fiz participações em produções da Globo como Zorra Total e Malhação. Gravei dois filmes ("Drão", de Cacá Diegues e a série "Como Ser Solteiro") e atuei em peças. Apareciam propostas em todas as áreas, para cantar, dançar, modelar, lancei até um CD. Eu topava fazer tudo e estava no auge.

E depois?
Comecei a querer largar tudo. Fui cansando das pessoas e daquela vida.

Você ganhou bastante dinheiro.
Sim. Muito dinheiro, mas perdi tudo.

Perdeu como?
Gastei, dei, emprestei e paguei dívidas. Devo ter sido passada pra atrás também por empresários. Perdi apartamento, carros, roupas, joias, eletrodomésticos.

Quando isso começou a acontecer?
Depois que meu filho nasceu, em 2005, eu sumi. Parei de trabalhar e precisava pagar as contas. Fui me desfazendo dos meus bens, pagando aqui e ali, mas não conseguia repor.

O que você fez para se manter?
Nessa época, muitos fãs me chamavam para sair. Vários homens queriam realizar a fantasia de sair com a Regininha Poltergeist, e decidi sair e cobrar. Me prostituí. Eu precisava de dinheiro.

Os fãs ainda te procuram para fazer programas?
Sim. Mas, eu não saio com mais ninguém. Não faço mais programa. Eles insistem e até pedem para eu dar um preço, mas eu nem respondo. Estou resistindo.

Tentou trabalhar em outras áreas também?
Eu tentava voltar a trabalhar como atriz, mas não conseguia e acabava procurando emprego em qualquer área. Fui vendedora e comecei a fazer marmitas para vender nas ruas. Queria ter dinheiro para pagar as contas e tentar voltar à faculdade de jornalismo (chora).

É verdade que você chegou a morar num posto de gasolina?
Morei em vários apartamentos, e o último deles foi no Terreirão, uma comunidade no Recreio [dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio]. Comecei a sentir que estava sendo perseguida. Escutava uns barulhos estranhos, umas vozes e aquilo foi me deixando muito tensa. Me abriguei no posto por alguns dias. Quando resolvi voltar, não me deixaram entrar no meu apartamento. Fui de novo para o posto, fiquei duas semanas e depois voltei a morar com os meus pais, na casa onde nasci e cresci.

Como é voltar a morar com os pais depois dos 50 anos?
Perdi muitas coisas, mas acabei ganhando a oportunidade de estar com a minha família novamente. Moro com meu pai (Nelson), que está com 80 anos. Cuido dele. Arrumo casa, lavo as roupas e as louças e faço comida para nós dois. Sempre gostei muito de cozinhar e isso tem sido uma terapia. Infelizmente, a minha mãe (Rosa Maria) faleceu há quatro meses. Ela tinha 76 anos, e foi bom ter ficado um curto tempo, acho que menos de quatro meses, com ela agora. Nós tínhamos uma relação muito complicada.

Complicada como?
Ela sempre foi contra mim. Nunca me apoiou. O grande amor dela foi a minha irmã mais velha, Rosane, que faleceu há 12 anos, de câncer de mama. Minha mãe ficou arrasada com a morte dela e a nossa relação ficou bem mais estremecida. Melhorou agora no final da vida dela, o que me conforta um pouco.

Há algum trabalho em vista?
Não. Queria trabalhar em uma novela da Record, atuar em uma trama bíblica, adoro aquele figurino de época. Ou então dar aulas de dança, ser vendedora. Eu queria uma oportunidade, de preferência na área artística, mas se não der, ter pelo menos um emprego para viver dignamente. Vivo da ajuda de alguns amigos e do meu pai que tem aposentadoria, mas queria voltar a trabalhar.

As pessoas ainda te reconhecem na rua?
Não. Mas eu não ligo, nunca liguei.

Quando você fala que pretende escrever uma autobiografia, qual seria a grande revelação? Contaria sobre namoros e casos com pessoas públicas, por exemplo?
Quero que as pessoas saibam que eu fui feliz, mas que sofri sendo a Regininha Poltergeist. Vou contar tudo. Saí com muitos famosos e namorei com alguns: o Paulo Ricardo, Eri Johnson, Alexandre Frota, Fernando Vannucci e Rubinho Barrichello.

Como foi esse namoro com o Barrichello?
Foi antes de eu ser conhecida como Regininha Poltergeist. Eu trabalhava como modelo e fui trabalhar numa feira como garota da (marca de produtos alimentícios) Arisco, que o patrocinava. Eu o conheci e começamos a namorar. Ele estava bem apaixonado, queria que eu fosse para São Paulo para ficarmos juntos, mas eu era muito nova, tinha acabado de fazer 18 anos.

Rubinho virou meme e é piada recorrente por ter alcançado poucos bons resultados em sua carreira de piloto. Ele era mesmo devagar? Devagar? Não! (Enfática). Ele não era devagar. Era bem gostosinho, isso sim. O Rubinho era um cara para casar, sabe? Casar, ter filhos e ficar cuidando da família.

Abaixo, a íntegra de uma apresentação de "Básico Instinto". Regininha Poltergeist aparece a partir dos 40 minutos do vídeo.

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