Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Televisão

Com menções a tramas antigas, 'Vai na Fé' cria multiverso próprio para novelas da Globo

Entenda por que citações de Wilma, personagem de Renata Sorrah, são sucesso com o público

Wilma (Renata Sorrah) tem protagonizado boa parte das referências a outras tramas em 'Vai na Fé' - Manoella Mello/Globo/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Não são só os filmes do Oscar que criam multiversos onde diversas versões de um mesmo personagem podem estar vivendo suas próprias histórias em universos paralelos. A atual novela das 19h, "Vai na Fé" (Globo), aponta na mesma direção ao citar novelas de diferentes décadas em meio à trama da atriz decadente Wilma, vivida por Renata Sorrah.

No mundo criado por Rosane Svartman para a novela, não foi Susana Vieira quem interpretou a babá Nice na primeira versão de "Anjo Mau" (1976). Nem José Wilker (1944-2014) quem fez o papel de Rodrigo nesse folhetim. Os personagens foram vividos por Wilma e Fábio (Zé Carlos Machado), que depois se tornou marido dela. Mas as menções a outras tramas não param por aí.

Em três meses de exibição, os espectadores já se divertiram, por exemplo, com a atriz frustrada perdendo um papel para Christiane Torloni, que fez uma participação especial, ou reproduzindo a icônica fala "Me serve, vadia!" de "Avenida Brasil" (2012). "Adriana Esteves roubou o meu papel em 'Avenida Brasil', mas você vai ver como eu seria uma ótima Carminha", explica Wilma antes de tomar seu dry martini cenográfico.

Ao F5, a autora conta que a ideia de inserir essas cenas partiram de sua vontade de honrar outras tramas. "Na verdade, eu acredito e celebro muito a telenovela", diz Svartman, que fez doutorado no tema. "A Wilma circulou nas mídias anteriores à teledramaturgia, e esse meu mergulho na história da telenovela e da TV me deram a vontade de fazer essa homenagem."

Esse carinho pelo gênero acaba funcionando como um afago para os fãs. Para Claudino Mayer, doutor e pesquisador em teledramaturgia e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) do curso de cinema e audiovisual, até a escolha por Renata Sorrah para o papel foi acertada nesse sentido.

"A Rosane tem depositado as referências na personagem da Renata, porque ela é top das tops, uma das mais importantes da nossa dramaturgia", lembra. "E o mais importante, não é forçado, faz completamente parte da história dela, e todos conseguem reconhecer e aprovar."

Apesar de Sorrah ter atuado em parte das novelas referenciadas, há uma preocupação da autora e de sua equipe em deixar tudo bem delimitado. "A Renata e a Wilma, apesar de terem muitas coisas em comum, não são a mesma pessoa", reforça Svartman.

REFERÊNCIAS

Uma das citações mais recentes de "Vai na Fé" foi a "Vale Tudo" (1988-1989), trama de Gilberto Braga na qual a própria Renata Sorrah interpretou Heleninha, a filha alcoólatra de Odete Roitman (Beatriz Segall). "Eu queria ter vivido a Maria de Fátima ou a Odete", brinca Wilma, em cena.

A dupla referência —tanto ao passado da atriz quando ao da personagem—, faz a novela assumir outro status, na opinião de Mayer. "O público gosta de repetição, tanto de personagens quanto de falas, porque gera familiaridade", afirma o especialista. "A vida é uma eterna repetição que, se não tiver, a gente estranha."

A autoria diz que tenta trazer apenas alusões que façam sentido com sua história, contando para isso com uma equipe de escritores e pesquisadores. "As novelas vão se encaixando, e muitas vezes peço ajuda da [pesquisadora] Paula [Teixeira] com coisas específicas, como: 'Vamos buscar uma cena de traição'", exemplifica Svartman.

"Não basta ser qualquer novela, tem que ser uma que converse com a cena em uma intertextualidade de novelas que tenham o mesmo significado", confirma Teixeira. A lista de referenciados, até aqui, já conta com autores como Silvio de Abreu, Gilberto Braga e Gloria Perez.

Para Mayer, no entanto, outros nomes que fizeram parte da história das novelas poderiam ser lembrados no multiverso criado pela autora —ele apostaria em Janete Clair e Ivani Ribeiro. "O espectador vai cair no papo e ser ainda mais conquistado por ele", avalia.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem