Fernanda Torres compara o Brasil atual ao de 'Filhos da Pátria' e se diz 'cética sobre o futuro'
Segunda temporada da série estreia na Globo no dia 8 de outubro
O tempo passa, as coisas mudam, mas em algum ponto continuam sempre iguais. Isso é o que mostra a série “Filhos da Pátria” (Globo), que volta para sua segunda temporada em outubro. Para a atriz Fernanda Torres, 53, que está no elenco, motivo de desesperança tanto na telinha quando na vida real.
“Quem era escravo vira empregado doméstico, quem era corrupto continua corrupto, quem era o dono do dinheiro continua sendo. O esqueleto da sociedade continua sempre igual”, diz Fernanda sobre a série de Bruno Mazzeo, antes ambientada em 1922, na pós-independência do Brasil, e agora nos anos 1930, no início da Era Vargas.
A atriz interpretará Maria Teresa nesta nova temporada. Uma mulher que fica encantada com os militares e quer que seu marido, Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), se torne um. “Ela fica sonhando com essa coisa do Geraldo ser militar, e entra para uma liga de donas de casa perfeitas, que são as mulheres dos militares.”
A atriz revela que sua personagem também terá dificuldades, nesta nova temporada, para entender as mudanças em relação aos direitos trabalhistas, que começavam a surgir e diz que Maria Teresa não consegue entender como a empregada tem que ter folga, horário. "Ela acha um absurdo isso".
“Como tudo no Brasil, essas relações se dão pelo afeto e ela fica magoada pela [ex-escrava] Lucélia (Jéssica Ellen) ter uma folga (...) Ela é uma loucura, diz coisas racistas, mas você acaba tendo algum carinho, um sentimento afetuoso, porque não é possível uma pessoa ser tão imbecil assim (risos)”.
Para Fernanda, o personagem de Alexandre Nero também tem aquilo que ela considera uma mistura bem brasileira: “Não é totalmente corrupto, mas também não deixa de ser. É um pai bem-intencionado, mas também é um canalha”.
Fazendo um paralelo entre a série e a situação atual do Brasil, a atriz se diz cética em relação ao futuro do país e afirma que vivemos um misto de mínimas conquistas e de retrocessos. “A gente está vivendo um momento meio apocalíptico no mundo, sem muito futuro”, desabafa.
“Eu nasci na ditadura, vivi a redemocratização, esse sonho de que a sociedade seria diferente e em muitos sentidos foi. Vivo numa sociedade mais aberta do que na época em que eu era criança. A crise econômica do Sarney, o fechamento do Brasil para o mundo… Isso tudo melhorou. Por outro lado, a democracia também nos provou que não há santos, que o problema do Brasil é estrutural.”
Fernanda ressalta que o jogo político-econômico do poder está organizado na raiz da formação do Brasil e cita a desigualdade social como um dos problemas que nunca foram resolvidos. “A gente não tem saneamento básico em mais da metade do Brasil… Vivi 50 anos para olhar e falar: ‘Caramba, é o mesmo assunto da minha infância’”.
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