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Estilo

Cabelo sem volume, pele 'natural' e muito bege e branco: conheça a estética 'clean girl'

Estilo é um retrocesso e pode causar distorção de autoimagem, dizem especialistas

Hailey Bieber - @haileybieber no Instagram
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São Paulo

Em um vídeo publicado há três meses no Tiktok, uma influenciadora de 22 anos ensina os cinco passos indispensáveis para se tornar uma "clean girl"—garota limpa, em bom português. O termo se refere a uma tendência de beleza que vem fazendo sucesso nas redes sociais.

A estética "clean girl" consiste em um visual minimalista, com aspecto básico, que remete a frescor e naturalidade. Abrange desde a maquiagem, cabelo e roupas até a decoração da casa e estilo de vida. A tiktoker ensina que o primeiro passo é o "make up no make up", ou seja, uma maquiagem de quem "acordou assim".

Nada de batom vermelho, sombra colorida ou olhos com contorno marcado. A ideia é justamente o contrário: ter uma pele que pareça lisa, corada e viçosa, por força da natureza.

O cabelo ideal de uma "clean girl" precisa estar sempre controlado, de preferência preso num coque baixo com gel, sem nenhum fiozinho arrepiado. O guarda-roupa consiste em peças em tons pastéis, muito bege, branco e cinza —nada de estampas. Os acessórios devem ser minimalistas, como joias delicadas e "de preferência, douradas", ensina a tiktoker.

Dados do Google Trends mostram que o interesse pela estética "clean girl" começou a crescer ao redor do mundo em 2022, sendo Hailey Bieber frequentemente associada a essa tendência. Ela está entre as principais pesquisas relacionadas à estética na plataforma. Neste ano, o interesse voltou a crescer em janeiro, coincidindo com a ascensão de outra tendência nas redes sociais: a "mob wife", que vai na contramão da proposta "clean girl", ao valorizar o glamour, o luxo, o exagero e a ousadia nos figurinos.

A aristocrata e mulher de Justin Bieber descreveu, em uma entrevista de 2023 à Harper's Bazaar, o que chama de sua "filosofia de beleza". "O que funciona para mim é o 'menos é mais'. Uma vibe natural, nada muito pesado, tudo bem minimalista", falou Hailey, que é dona de uma marca de cosméticos. Além dela, famosas como Selena Gomez, Bruna Marquezine, Kendall Jenner e Bella Hadid estão entre as adeptas do "clean girl".

O FALSO NATURAL

Para Natália Marques, consultora de imagem e estilo, a tendência é um retrocesso no caminho da autoaceitação que se vinha construindo nos últimos anos. "Essa estética traz o estereótipo da pele impecável, perfeita, mas ninguém tem a pele assim", explica. "É um retrocesso. O ideal seria a gente estar abraçando as nossas imperfeições."

A professora e consultora de moda Monayna Pinheiro, da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), conta que a tendência surge como uma repaginação da década de 1990, quando as supermodelos passaram a apostar em visuais básicos quando estavam fora das passarelas.

"Elas andavam quase sem maquiagem, com roupas confortáveis, como jeans largos e regatas. Isso foi alvo de críticas por reforçar um estereótipo do que é ser bonito naturalmente", diz.

Para ela, o "clean girl" oferece o mesmo risco ao difundir a imagem do "falso natural". Enquanto vendem um visual supostamente simples, muitas influenciadoras estão, nos bastidores, recorrendo até mesmo a procedimentos invasivos.

"Para obter a pele com o aspecto mais tratado possível, sem manchas, sem espinhas, sem rugas, sem linhas de expressão, o que teoricamente contempla um minimalismo e uma naturalidade, a pessoa pode estar indo para o caminho contrário: uma obsessão", diz Monayna.

QUERO SER RICA

Para as especialistas, o "clean girl" vem na esteira de outra tendência equivocada: a ideia de querer parecer rica, que nos últimos anos veio com tudo no TikTok. "Tem unha de rica, calça de rica, cabelo de rica. Criaram uma imagem do 'ser rica' que não condiz com a realidade. Pessoas ricas não se vestem todas iguais", diz Natália. A consultora vai além: essa imagem pode estar ligada a padrões eurocêntricos e eugenistas.

Para ficar com o cabelo alinhado, por exemplo, influenciadoras usam pomadas e géis que agem como uma cola, deixando até mesmo os fios crespos e cacheados sem nenhum frizz. "A questão é: isso valoriza e representa todo mundo?", questiona Natália.

"Venderam essa ideia de que o elegante é apenas o minimalista, o cabelo lambido e a roupa bege. Isso não é verdade. Usar cores, estampas e cabelo volumoso não faz com que ninguém deixe de ser elegante", diz. Ela alerta para o perigo de não só atropelar a própria personalidade, mas rejeitar o contexto em que se vive. "O Brasil é um país colorido, tropical. Dizer que o colorido é ruim é uma visão eurocêntrica."

Colaborou Vitoria Pereira

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