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X de Sexo Por Bruna Maia

Vibrador não limita o prazer das mulheres, o que limita é homem chupa-uretra

Convém parar de repetir bobagens de gente conservadora que não pode ver mulheres gozarem

Ilustração do livro 'The Fornicon', do artista francês Tomi Ungerer
Ilustração do livro 'The Fornicon', do artista francês Tomi Ungerer - Reprodução
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Este prezado veículo para qual escrevo dá muita liberdade a seus colunistas para criticá-lo. Aproveitar-me-ei disso para falar da péssima manchete "Vibradores não viciam, mas podem limitar prazer da mulher no sexo, dizem especialistas", motivada pelo Dia do Orgasmo, que foi 31 de julho. Reparem que critico o título, e não a matéria em si, que evidencia em vários pontos a maravilha que é o vibrador –ainda que tenha uma ou outra fala equivocada e sobre o assunto. Essas manchetes são tentadoras. Apelam para a curiosidade e acenam para o conservadorismo de gente que surta só de ouvir falar que mulheres são capazes de gozar (e muito) com "vibros".

Entre os leitores que se entusiasmam com esse tipo de chamada há vários homens que não aceitam não ser o centro das atenções e têm a masculinidade tão frágil que se sentem usurpados por um singelo sugador de clitóris. Mas também sempre aparecem mulheres comentando, algumas parecem ter medo de descobrir outra forma de prazer, outras parecem temer que um brinquedinho de silicone e bateria de lítio lhes destrua capacidade de amar.

Já rodou na internet esse delírio de que vibrador vicia e dessensibiliza o clitóris. Pra essa galera, vibrador é que nem crack. Você nunca consegue o barato da primeira vez e, com o tempo, cria tolerância. Pois bem, aqui vai a minha experiência pessoal. Comecei a usar o sugador de clitóris em 2019, e, desde então, ganhei vibradores de todo o tipo. Com penetração. Sem penetração. Mistos. Anos de uso, meu clitóris segue muito sensível. No primeiro dia depois que minha menstruação do mês passado acabou, o tesão me atropelou e meus brinquedos me sossegaram com sete (pois é) orgasmos incríveis e intensos no espaço de meia hora.

Monique Ventura, proprietária da loja de produtos sexuais Sinestesya, conta que as suas clientes nunca reclamaram de qualquer limitação, algumas gostam de menos potência outra de mais potência e isso tende a não mudar ao longo do tempo –mulheres que curtem a vibração mais leve não passam a querer velocidades cada vez mais altas. "Quando falam isso, parece que existe um limite de orgasmos que você pode ter, é como se você alcançasse esse número e não conseguisse mais, como se você não pudesse gozar, relaxar, gozar, relaxar e gozar de novo. Se limitasse meu prazer ou dessensibilizasse meu clitóris, eu já teria parado de gozar há anos", diz.

A noção de vício, por sua vez, passa pela noção do "excesso". E, quando se trata de mulher tendo prazer em nossa sociedade repressora, qualquer coisinha já é considerada excessiva. Sete orgasmos em meia hora? Não há "excesso" nisso. Nenhum prejuízo para minha vida pessoal, profissional, social, afetiva ou sexual. Quando transo com parceiros, consigo gozar, a menos que eles sejam completamente analfabetos no assunto sexo. Às vezes com oral, às vezes com dedada, às vezes com penetração. E às vezes (por que não?) com o auxílio de um vibrador. Se o cara com quem estou transando fica intimidado com isso, então considero ele um mané, e mané me broxa. E se o mané me broxou, não tem porque repetir, né? Por sorte, meus parceiros recentes gostaram bastante de usar e me verem usando os brinquedos.

Já na reportagem da Folha, o argumento apresentado em um trecho é de que os brinquedos sexuais são reducionistas, focam o prazer só na região pélvica, sem estímulo de outras partes do corpo. Calma lá galera. Tem um total de zero problemas você gozar horrores estimulando só a região da buceta, não precisa se sentir mal porque não tem um cara chupando teu peitinho e te beijando.

Agora vamos falar do que realmente LIMITA O PRAZER da mulher heterossexual: é o falocentrismo, é o boy que não acha o grelo, é o carinha sem talento que não sabe que dedo é importante no sexo. Ao contrário dos homens, nós não somos estimuladas a nos masturbar desde cedo, não tínhamos a revista Playgirl passada de tia pra sobrinha, encontrada no porão da mamãe, comprada escondido na banca, certo? Muitas de nós não fomos estimuladas a conhecermos nossos corpos e a tocar uma siririca gostosa. Há mulheres que só gozam pela primeira vez quando mais maduras. "O que chega na loja de mulher que teve o prazer limitado são as que foram casadas por anos e nunca gozaram porque os maridos nunca fizeram elas gozarem. Aí elas separam, compram um vibrador e ficam lá, limitadíssimas na casa delas gozando cinco vezes", diz Monique.

Isso se soma a homens falocêntricos, que acham que sexo gira em torno do pau mixuruca deles, que é só meteção. Caras que desconhecem, ou simplesmente esquecem, que o clitóris é o órgão do prazer feminino e que, pra transa ser boa, os dois têm que gozar. Tem também os caras que até inventam de chupar a buceta pra ver se ficam com boa fama, mas o fazem protocolarmente. Tão protocolarmente que nem encontram o clitóris lá gritando "TÔ AQUI" e lambem o lugar errado que nem um cachorro bebendo água. É o famoso Chupa-Uretra.

Essa é a situação de muitas mulheres que começam a se aventurar com vibradores. Elas descobrem um prazer que não costumam ter nas relações sexuais. Mas a imprensa precisa ir lá, se alimentar do pânico moral, caçar uns cliques, gerar engajamento, avisando: CUIDADO, MOÇAS! NÃO VÃO GOZAR DEMAIS AÍ SOZINHAS QUE QUANDO APARECER MACHO CÊS NÃO VÃO CURTIR. Fato: se você usa vibrador e aí vai lá, transa com um cara e não curte, é porque ele fode mal, tá? Até porque (de novo), se ele fodesse bem, aproveitaria os brinquedos com você.

Estranho que era Dia do Orgasmo, não dia do orgasmo feminino. Poderia ter rolado uma reportagem especial sobre orgasmo e prazer masculino, não é mesmo? Cadê a manchete falando: cuidado, garoto, bater punheta demais pode assar seu pau, você vai sujar todas as suas meias de porra, vai gastar seu estoque de esperma, focar na punheta faz com que você não enfie o dedo no cu e não conheça o prazer da próstata, você vai ficar tão viciado em pornô que não vai conseguir transar direito com uma mulher (ok, essa última é verdade). Bora tomar cuidado com esse sensacionalismo beato, querida imprensa?

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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