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X de Sexo Por Bruna Maia

Dá pra transar com outro homem e ser um homem heterossexual?

Ainda é difícil para os homens assumir a bissexualidade

Cena da série 'Game of Thrones'
Cena da série 'Game of Thrones' - Divulgação
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Conheço muitas mulheres bissexuais. Muitas mesmo. Elas gostam de rola, de buceta, de seios, curtem receber e dar prazer para homens e mulheres. Algumas gostam de ménage, de suruba, outras preferem um parceire de cada vez. Há as que estejam em relacionamentos afetivos com homens e as que estão namorando mulheres. Na bolha mais moderninha em que vivo, as bissexuais não têm tanto constrangimento de falar sobre isso.

Porém conheço poucos homens bissexuais. Desses poucos, a maioria demorou bastante tempo para assumir o desejo de agarrar outro cara nu, fazer e receber oral nele e dele, talvez dar e comer cu. A descoberta de alguns deles foi no sexo com mulheres, que usaram dedos e brinquedinhos para brincar com seus cus.

Um amigo conta que começou com aquela lambida na costura do ovo, que fica na parte de trás do testículo. Depois, seguiu para o estímulo perianal, que é a região entre o saco e o cu, e por fim, com carinho, jeitinho e gel lubrificante, a parceira enfiou um dedinho e depois dois. Ele curtiu. A próxima etapa foi a moça vestir um cintaralho e mandar ver, mas ele conta que demorou um tempinho até conseguir encarar a penetração com um artefato maior —ele prefere os dildos de tamanho médio, com 14 cm. O estímulo na próstata acompanhado de uma punheta o fez gozar mais do que nunca.

Daí, seguiu-se a curiosidade de experimentar com paus de pele. Demorou pra pôr o desejo em prática, até que fez um ménage com outro homem. Na primeira vez foi só oral mútuo e carícias. Lá pela terceira vez ele finalmente se sentiu à vontade para comer e ser comido pelo outro. Hoje ele é um bissexual bem feliz, que transa com mulheres e homens cis e trans. Ele tem um relacionamento aberto com a namorada, o que lhe permite viver aventuras com e sem ela. Além de gostar de dildos e paus, ele anda às voltas com um estimulador prostático, um vibrador para enfiar no cu, com formato anatômico e controle remoto para ajustar o ritmo.

Atenção: alguns homens heterossexuais podem gostar de ser penetrados apenas por mulheres e não sentirem vontade de experimentar com outros caras. Dar o cu ou curtir umas dedadas ali não significa que um homem seja bissexual ou gay, certo? E também nem todo homem bissexual ou gay gosta de receber estímulo anal!

Mas, voltando aos bis que EU conheço, eles gostam, sim, de dar o cu ou pelo menos receber umas linguadas e dedadas ali. A maioria é discretíssima —claro que não tem problema nenhum nisso, ninguém é obrigado a anunciar sua sexualidade por aí. Vários deles começaram dizendo que eram "héteros curiosos" antes de se identificarem como bissexuais. São poucos os que não têm constrangimento nenhum de falar: sou bi, adoro transar com homem, com mulher, às vezes com os dois, às vezes ao mesmo tempo.

Essa resistência tem motivo. O preconceito contra LGBTQIA+ é grande. Muitas vezes, quando eles dizem que são bi, as pessoas dizem que eles são gays que não se assumiram ainda. É como se a experiência de chupar uma rola apagasse todas as experiências que eles já tiveram e têm com mulheres. Além de ser um saco quando um intrometido resolve definir sua sexualidade por você. No caso das minas, noto que acontece um outro processo, bastante escroto, que é a fetichização do sexo entre elas, como se a bissexualidade delas existisse para servir a um hétero que gosta de ver mulheres se chupando.

Porém, respondendo à pergunta do início da coluna: dá sim para transar com outro homem e ser heterossexual. Pode acontecer de o cara ter tido algumas poucas transas com rapazes e ter percebido que não era a dele. Homens que curtem suruba podem curtir ficar apenas com as mulheres. A sexualidade é um espectro com múltiplas possibilidades e que pode fluir durante o tempo. Mas este Mês do Orgulho LGBTQIA+ é uma oportunidade de refletir! E boa jornada aos héteros que querem tentar algo novo!

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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