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X de Sexo Por Bruna Maia

Beijo cheio de tesão de Lula e Janja é tapa na cara dos inimigos da alegria

Ministério do Namoro deveria priorizar educação sexual voltada ao prazer e ao consentimento

Lula e Janja se beijam no dia da posse do presidente - Reprodução/Partido dos Trabalhadores
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Fascista odeia gente feliz, quer condenar todas as mulheres ao papel de cuidadoras do marido. Fascismo não quer educação sexual, não quer que as pessoas gozem. Pode reparar nos beijos do casal presidencial anterior. Já beijei postes com mais empolgação. E, aí, no meio das comemorações da posse, o presidente resolveu lascar um beijão na primeira-dama. Quebraram o protocolo de qualquer beijo cênico, e a linguona apareceu.

É simbólico, os anos do gozo no desprazer do outro e da repressão do tesão estão indo embora. E também uma demonstração de que a vontade de dar uns amassos não passa com os anos –Lula tem 77 anos, e a língua tá pra jogo.

Foi também um exemplo de educação sexual. Já andei dando uns beijos por aí em que o outro lado não disponibilizava o componente essencial de um beijo de língua, que é a língua. Sim, pois é, eu não consegui entender muito bem o que estava acontecendo nessas ocasiões, porque não fazia sentido sexual ou semântico. Mas esses tempos, assim como o governo Bolsonaro, são passado.

Em 2023, as línguas serão exaltadas e os fascistas sabem muito bem disso. Tanto que um dos delírios dos grupos de fascistas nos aplicativos de mensagens na época de eleição era que Lula estava ainda mais rouco do que de costume porque estava fazendo sexo oral demais em Janja. E que o boné com as letras CPX que ele usou no Complexo do Alemão significava Cerveja, Picanha e Xereca. Foi daquelas situações em que você se pergunta: essa pessoa é fã ou hater?

Para completar as muitas camadas de semiótica dessa posse, um dos drinks servidos na festa foi feito com clitória, uma flor cujo nome é autoexplicativo: parece uma buceta com um grelo avantajado. Espero que todo mundo tenha conseguido achar a bebida.

Agora temos que saber se uma promessa de campanha, das mais desafiadoras, vai ser cumprida: a de que todo mundo vai namorar. Praticamente um Ministério do Namoro.

Fico imaginando quais seriam as políticas públicas dessa pasta. A primeira, sem dúvida, é a intensificação da educação sexual. E uma educação sexual que não seja baseada no medo e na repressão, e sim na segurança, no prazer e no respeito ao consentimento do outro. Importante também é a exaltação da camisinha e a conscientização sobre ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) –a transmissão vem aumentando. O Ministério do Namoro também vai promover uma ampliação gigantesca do acesso a direitos reprodutivos para homens e mulheres.

Mas não basta as pessoas namorarem e amarem. Têm que namorar e amar direito. E quem sou eu para dizer o que é amar do jeito certo? Ok, ninguém. Mas sei dizer o que é amar do jeito errado. Não é amor desrespeitar o desejo do outro. Não é amor tirar a camisinha sem avisar. Não é amor minar a autoestima de quem está com você. Evidentemente que agredir psicologicamente ou fisicamente o outro não é amor. Não é amor explorar o trabalho doméstico não remunerado das mulheres. Não é amor exigir receber cuidado afetivo, mas dizer que qualquer carinho que o outro pede é carência demais. Não é amor não se importar se a outra pessoa está curtindo a transa e não estar nem aí para o orgasmo dela.

Não estou sendo utópica, apenas exijo o mínimo, que é o fim do desamor nas relações afetivas e a apoteose do consentimento. Não importa se é casal, trisal, polisal, se é ficante, ficante premium, namorado, marido, esposa, parceiro, companheiro, uma pessoa que você pegou na euforia de Carnaval. O Ministério do Namoro tem que contemplar todos os formatos e firmar uma relação de amizade com a pulsão de vida, com o desejo, com a alegria e com os orgasmos unitários e múltiplos.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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