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X de Sexo Por Bruna Maia

Tá tudo bem exaltar o próprio pau

Nenhuma mulher foi oprimida e nenhum grelo foi invisibilizado pela bobeirinha de Martinez

Goleiro de uniforme verde limão exibe o trofeu que ganhou na copa do mundo, colocando-o à frente de sua árena genital, como se fosse uma extensão do pênis
Xinhua
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Volto a falar de Copa, afinal, só daqui a quatro anos teremos outra. São muitas observações, mas começo pela mais recente problematização dos inimigos da alegria. Emiliano Martinez, goleiro da Argentina e um dos protagonistas dessa vitória dramática que nem um tango, pegou a taça na mão e esfregou no pinto.

Usou como extensão fálica, como se o troféu fosse uma continuação da própria rola. Calma lá gente, tá massa. É um contexto de comemoração, êxtase, diversão, zoeira, não teve nenhuma mulher assediada ou oprimida por aquele gesto. Nenhum grelo foi invisibilizado pela bobeirinha de Martinez.

Diz ele que foi uma resposta às vaias dos franceses. Você imagina uma mulher fazendo isso diante de adversários? Não só imagino, mas quando eu ganhar algum prêmio, é provável que lamba a pontinha do jeitinho que gosto que me mamem. Aliás, tá entre meus objetivos de vida ganhar um Jabuti, prêmio de literatura. E ele tem um formato propício pra isso. Aquela taça de Martinez, aliás, tinha os dedinhos e tudo para eu exaltar meu clitóris.

Às vezes é bom abandonar essa sanha freudiana de ver significado profundo em qualquer menção fálica. Também convém pensar duas vezes antes de extrapolar cada gesto para uma discussão estrutural. Às vezes uma rola é só uma rola. Uma zoeira é só uma zoeira. Uma provocação é só uma provocação.

A comemoração excitada e brincalhona dos argentinos foi um belo jeito de coroar essa alegria. É bonito. O futebol é um campo de homoafetividade inigualável entre homens, a maioria deles heterossexuais. Lembram daquela foto fofa e cheia de amor em que Giroud pegou Mbappé no colo e eles se olharam no fundo dos olhos? Como disse uma tuiteira que sigo "gostaria de renascer jogador de futebol para ser amada de verdade por um homem".

Falando nesses dois. Vi o jogo da França contra o Marrocos pela Globoplay e Tiago Leifert, com seu eterno jeito de apresentador de BBB, estava narrando na maior zoação. Lá pelas tantas ele mandou: todo jogo da França tem uma Mbappézada e uma Giraudzada. Ele falava de gols, eu já imaginei outra coisa.

Desejei que todos os dias da minha vida fossem assim. Foi um pensamento passageiro, não sei se aguento tantos anos com uma dupla de ataque daquelas, bicho. Giraud com aquele narigão sexy e Mbappé com aquele carisma todo, meio arrogante? Ora, tem tanto homem que se acha mais com muito menos bolas na rede.

Na Argentina, o destaque no campo é mesmo Messi. Mas e o Rodrigo De Paul, que braços e coxas tatuados são aqueles? Delícia de ver no jogo, com toda a energia vigorosa que somente jogadores sul-americanos que passaram por uma Libertadores são capazes de ostentar.

Enquanto isso, nossa seleção foi eliminada – o que não aconteceria se tivéssemos usado o tal jeitinho Libertadores de jogar. Ficou como legado a lição de que uma equipe de psicólogos faria bem aos nossos craques, e também a simpatia por Richarlison.

Ele virou namoradinho do Brasil. Aquele cara que entra na festa você não olha. Aí olha, acha meio feio. Então ele sorri e você acha bonito. Quando ele fala você não tem nenhuma alternativa a não ser sequestrá-lo e prender no porão da sua casa para amá-lo eternamente.

Calma, é força de expressão, minha casa nem tem porão e teria que ser no quarto mesmo!

Só que a excitação geral com Richarlison diminuiu um pouco quando ele tatuou Ronaldo e Neymar nas próprias costas. E A PRÓPRIA CARA NO MEIO DOS DOIS. É uma tatuagem errada. Mas isso não diminui meu desejo de viver nove semanas e meia de amor com ele. Eu não como cu de homem e não existe nenhuma posição sexual razoável em que ele vá transar e eu tenha que ver suas costas.

Ai, mas o espelho de motel? Detesto, acho cafona, e prefiro transar nos meus lençóis cheios de pelos de gato do que num lençol nojento de motel. Insisto: não vai acontecer de a tatuagem de Richarlison me brochar. Em último caso, sempre dá pra cerrar os olhos.

Ainda por cima, ouvi dizer que Richarlison até curte uma artista, uma moça meio intelectual. Não sei se é verdade, mas se ele cansar das influencers, estou solteira.

PS: é trans, assexual, homossexual, bissexual, demissexual ou outra pessoa LGBTQIA+ e não se sentiu contemplado nessa coluna? Fique tranquile, ela sai uma vez por semana e teremos tempo e espaço para isso. Inclusive, criei esse formulário para que as pessoas compartilhem dúvidas, anseios e histórias. Assédio, transfobia, homofobia e outras formas de LGBTfobia não são acolhidos.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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