Um ônibus me fez gozar, meus namorados não
O orgasmo feminino é poderoso, mas os homens são meio burros, o que dificulta tudo
O orgasmo feminino é poderoso e os homens precisam aprender a fazer mulheres gozarem. Muitas nunca chegaram lá. Ou pelo menos nunca chegaram em relações sexuais –principalmente com homens. Vamos ilustrar esse drama com a história real de minha amiga Regina. Ela é uma moça de beleza padrão. Loura, corpo violão, sorriso largo, muito carisma. Nunca teve dificuldade para namorar. Ainda assim, ela demorou anos para encontrar o orgasmo. Durante 27 anos da sua vida ela não havia gozado.
Seu primeiro orgasmo não veio de um homem ou de uma mulher –Regina é bissexual. Veio de um ônibus. Durante uma viagem para um congresso, o trepidar da estrada fez as cadeiras (as do veículo e as suas) balançarem e a calça jeans roçar na sua buceta, e o gozo aconteceu.
Até então, sexo sempre tinha sido "gostosinho", mas nunca apoteótico. A partir dali ela não aceitou nada menos. Encheu-se de vibradores e fez questão de curtir a pegação, sempre mantendo parceiros e parceiras com quem conseguia ter prazer. Hoje em dia goza muito e compensa anos de falta de orgasmo com siririca e trepadas de qualidade.
Os namorados dela eram muito legais. Mas sofriam de uma desconexão sexual com o corpo feminino que é comum em homens*. E ela, por mais bem informada e aberta que fosse sobre sexo, não recebeu muitas informações sobre a importância do clitóris durante a adolescência. Uma pesquisa do programa de sexualidade (Prosex) da USP, publicada em 2016, apontou que 55,6% das mulheres têm dificuldade para gozar quando fazem sexo com homens.
O gozo de quem tem clitóris não deve depender somente do parceiro. Podemos atingi-lo na masturbação. No sexo, descobrir o que nos faz chegar lá mais rápido e comunicar ao outro sem ter vergonha é essencial. Às vezes, é um tipo de chupada específica. Em alguns casos é uma posição ou um ritmo. Mas, para isso, os homens têm de saber onde fica o grelo e também entender que a transa não deve durar poucos minutos –mulheres precisam de mais tempo para começar a curtir.
O sexo não gira em torno do pau –o corpo da parceira não é apenas um buraco. Além disso, sempre é importante frisar que eles dispõem de outros instrumentos poderosos como dedo e língua. Primeiro vem ondas de tensão pulsantes, a vulva lateja, o corpo se contrai, então, quando tudo parece insuportavelmente bom, quando sentimos que nosso corpo se concentra todo em um ponto, acontece a explosão. Talvez várias explosões.
Depois, geralmente vem uma sensação de alegria e bem-estar. É assim que muitas mulheres descrevem seus orgasmos, e é extremamente injusto que tantas de nós não tenhamos essa experiência. Em um contexto de desigualdade sexual como esse, reivindicar prazer é uma demanda feminista e gozar é arma de guerra. E, se pareço muito focada em falar de quem tem vulva, aviso aos portadores de piroca que me ler vai ser educativo.
*nem todo homem
PS: É trans, assexual, homossexual, bissexual, demissexual ou outra pessoa LGBTQIA+ e não se sentiu contemplado nessa coluna? Fique tranquile, ela sai uma vez por semana e teremos tempo e espaço para isso. Inclusive, criei este formulário para que as pessoas compartilhem dúvidas, anseios e histórias. Assédio, transfobia, homofobia e outras formas de LGBTfobia não são acolhidos.
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