Substituir Faustão: a missão impossível de Anne Lotterman e João Guilherme
Um programa diário de auditório, no horário mais concorrido da TV, não colou
Um terremoto abalou a Band na semana passada. A saída repentina de Fausto Silva, menos de um ano e meio depois de sua reestreia na casa, confirmou o fracasso de Faustão na Band, o programa comandado pelo apresentador nas noites de segunda a sexta.
Faustão foi embora, mas o programa continua. Por causa de compromissos comerciais já assumidos, Faustão na Band permanece no ar até julho. Substituindo o titular, estarão seus dois assistentes de palco: Anne Lottermann e João Guilherme Silva.
Anne, que deixou o jornalismo da Globo para se aventurar no entretenimento da Band, garante que já estava tudo planejado. "Fausto nos preparou para assumir. Estava combinado desde o dia 1°. Aprendi bastante nesse período e com o melhor comunicador", disse ela à colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo. "A gente costuma dizer que um ano e meio de programa na Band equivalem a sete anos de 'Domingão'. É muito intenso".
Para João Guilherme, que é filho de Faustão, suceder o pai seria algo ainda mais natural. O rapaz sonha em emplacar uma carreira de apresentador, e um voo solo a esta altura, ainda que de curta duração, seria uma maneira de estabelecer uma identidade própria.
Mas eu não gostaria de estar no lugar de nenhum dos dois. Se o Faustão na Band rendeu uma audiência muito aquém da esperada tendo à frente um dos comunicadores mais conhecidos do país, Anne e João Guilherme podem se preparar para um fiasco ainda maior.
Aqui não entra nenhum juízo de minha parte quanto ao talento dos dois. O problema, infelizmente, está no formato e na frequência da atração. Um programa diário de variedades, no horário mais concorrido da TV brasileira, simplesmente não colou.
Faustão na Band bate de frente com dois campeões do Ibope, o Jornal Nacional e a novela das 21 horas da Globo. E não chega a ser o que os americanos chamam de "counterprogramming": um produto que atraia o espectador que não se interessa pelos líderes da faixa. Porque o público de todos esses programas é basicamente o mesmo.
Por equivocada que seja, a estratégia da Band era compreensível. Durante décadas, a emissora alugou seu horário mais nobre para uma igreja evangélica. O faturamento era garantido, mas a audiência despencava e não se recuperava mais. Um programa de grande apelo popular talvez resolvesse o problema.
Faustão foi contra a ideia. Numa entrevista ao podcast Rap 77, em janeiro de 2022, o apresentador disse a Junior Coimbra, filho do ex-jogador Zico, que preferia continuar aos domingos, mas que a Band o queria de segunda a sexta.
O fato é que Faustão na Band alavancou, sim, a audiência noturna da Band, mas não o suficiente. O programa acumula um prejuízo de R$ 40 milhões. Além do mais, vem tendo repercussão pífia.
A Band já estuda uma nova atração para o horário e debate internamente quem deveria comandá-la. Será que vai insistir no erro de um programa de auditório diário, no horário em que a concorrência é mais acirrada?
Além do mais, a era dos apresentadores com salários astronômicos parece estar chegando ao fim. Os programas de Eliana, no SBT, e Rodrigo Faro, na Record, não dão mais o mesmo Ibope que antes. Marcos Mion e Luciano Huck ainda seguram a onda, mas contam com o poder e a estrutura da Globo.
Tudo isso é um mau sinal para os planos de João Guilherme de seguir os passos do pai. Os tempos são outros, a mídia é outra, o dinheiro mudou de mãos. De qualquer forma, boa sorte para ele e Anne Lottermann. Eles vão precisar.
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