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Tony Goes

Prestes a fazer 60, Xuxa é das pessoas mais legais do Brasil

Apresentadora vem recebendo homenagens na Globo, sua antiga emissora

Xuxa - Blad Meneghel/Record
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Eu implicava com a Xuxa. Normal: sou quase três anos mais velho do que ela, que despontou para a fama no início da década de 1980 como a namorada do Pelé. Pouco tempo depois, Xuxa começou uma bem-sucedida carreira de apresentadora, e o resto é história. Mas eu não era seu público-alvo.


Cresci assistindo a programas infantis em que o anfitrião era chamado de "tio" pela garotada. Com Xuxa não havia essa hierarquia. Ela era tão ou mais imatura que seus baixinhos, os quais tratava na porrada. Quer dizer, ela nunca chegou às vias de fato, mas sua truculência com as crianças era fascinante. E o pior era que as crianças adoravam.

Quando se transferiu da extinta TV Manchete para a Globo, em 1986, Xuxa já era um fenômeno. Seu programa matinal era líder de audiência e centenas de produtos levavam a marca da apresentadora. Para mim, jovem adulto já no mercado de trabalho, aquilo tudo parecia acontecer numa galáxia distante, onde o traje típico eram shortinhos prateados.


Teleguiada pela poderosa Marlene Mattos, Xuxa soava feito uma menina mimada, cheia de caprichos e sem nenhuma noção da realidade. Mas seu poder de fogo era avassalador. Depois de conquistar o Brasil, ela expandiu seu império para a Argentina e chegou a fazer programas para o mercado norte-americano, que se horrorizava com seus figurinos sumários.

Xuxa e Marlene romperam em 2002, depois de 18 anos de parceria profissional. Àquela altura, a apresentadora já vinha dando entrevistas cada vez mais francas. Admitia que se sentia uma inútil, cantando bobagens enquanto o mundo pegava fogo. Xuxa estava amadurecendo em frente às câmeras, e não deve ter sido um processo indolor.

Aos poucos, foi deixando de ser a Rainha dos Baixinhos. A geração que fez o sucesso de seu programa cresceu e não foi prontamente substituída por outra. Além disso, a legislação começou a dificultar a propaganda de produtos voltados para crianças, o que praticamente inviabilizou a programação infantil nos canais da TV aberta. Um pouco tarde demais, Xuxa tentou transicionar para o mercado adulto, mas o êxito inicial não se repetiu.

Enquanto isso, ela teve uma filha, abriu uma fundação, abraçou diversas causas e foi ficando cada vez mais despachada nas redes sociais. Interagia com os fãs sem cerimônia nem medo de disparar opiniões polêmicas. Comoveu o país quando revelou ter sido vítima de abuso sexual e ganhou aliados e inimigos quando se posicionou claramente contra o desgoverno de Jair Bolsonaro.

Na próxima segunda, 27 de março, Xuxa completa 60 anos. É ligeiramente chocante pensar que aquela moleca agora é uma senhora que já poderia ter netos, até porque seu visual não mudou tanto assim.

Nas últimas semanas, por causa de seu aniversário, Xuxa vem sendo homenageada em programas dos canais do grupo Globo, onde trabalhou por 30 anos. Ela voltou a aparecer na tela de sua antiga emissora quando seu contrato com a Record já estava no fim, e qualquer mágoa com seus ex-patrões parece estar mais que superada.

Foi a convidada especial da estreia da nova temporada do Saia Justa, no GNT, onde falou sobre feminismo e empoderamento a partir de sua própria experiência. Ganhou uma festa emocionante no Altas Horas de Serginho Groisman, na TV Globo. E, nesta terça (21), rodeada pela filha, Sahsa, pelo marido, Junno Andrade, e por muitas amigas, foi o centro de uma edição especial do "Que História É Essa, Porchat?", também no GNT.

Porchat e Xuxa
Cena do especial de 60 anos da Xuxa do programa 'Que História É Essa, Porchat?', da GNT - Divulgação


Linda, dona de si mesma e com um timing cômico impecável, Xuxa fez a plateia e o espectador desabarem de rir com suas desventuras como mochileira ou seu inusitado confronto com a polícia, que poderia ter acabado muito mal.

Hoje em dia eu a venero. Somos da mesma geração, vivemos os mesmos fatos históricos e chegamos a conclusões parecidas. Ela, que me parecia uma tonta sem o menor estofo 40 anos atrás (e vai ver que era mesmo), atualmente me representa. Mesmo eu não sendo mulher, louro ou milionário.

Parabéns, Xuxa. Que venham outros 60 anos. Agora eu digo sem ressalvas: você é uma das pessoas mais legais deste país.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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