Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes

Na véspera de seu aniversário, Xuxa comete um dos maiores erros da carreira

Apresentadora defendeu em live que remédios sejam testados em presidiários

Xuxa em Que História é essa, Porchat?, exibido pelo canal GNT
Xuxa em Que História É Essa, Porchat?, exibido pelo canal GNT - Juliana Coutinho/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Maria da Graça Meneghel completa 58 anos neste sábado, 27 de março. A eterna rainha dos baixinhos está em plena forma, mais bonita e interessante do que nunca. Tida como uma das mulheres mais lindas do Brasil desde a adolescência, ela agora exala a beleza que só a maturidade é capaz de dar: a experiência de uma vida bem vivida, em todos os seus altos e baixos.

Xuxa também anda falante, dando muitas entrevistas e revelando detalhes saborosos de sua longa trajetória. Livre do contrato com a Record, virou figurinha fácil nos programas do Grupo Globo, sua antiga casa. Já foi ao Conversa com Bial, ao Lady Night, ao Que História É Essa, Porchat?. Logo mais estará no Altas Horas, sendo homenageada por Serginho Groisman pelo seu aniversário.


E foi justamente na véspera desta data querida que a apresentadora cometeu um dos maiores erros de sua carreira. Foi durante uma live no Instagram da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) sobre direitos dos animais. Xuxa, que sempre foi uma ardorosa defensora dos bichos e hoje em dia é vegana, se disse contrária aos testes de cosméticos e medicamentos em animais de laboratório. Até aí, tudo bem: este é um posicionamento que já foi encampado pelas maiores indústrias do ramo, há muitos anos.

No entanto, logo em seguida, Xuxa nos deu uma panorâmica dos cantos mais sombrios de sua mente:

"Eu tenho um pensamento que pode parecer muito ruim para as pessoas, que pode parecer desumano, porque, na minha opinião, eu acho que existem muitas pessoas, muitas pessoas que fizeram muitas coisas erradas, que estão aí pagando seus erros num ad eternum, para sempre em prisão, que poderiam ajudar nesses casos aí, de pessoas para experimentos, sabe?”, disse a apresentadora. “Acho que pelo menos eles serviriam para alguma coisa antes de morrer, entendeu? Para ajudar a salvar vidas, com remédios, tudo."

Ato falho? Não, porque, na sequência, ela demonstrou ter plena consciência de como suas ideias são controversas.

“Aí vai vir um pessoal que é dos direitos humanos e vai dizer, 'não, eles não podem ser usados'. Mas se são pessoas que já estão provadas que vão viver 60 anos na cadeia, 50 anos na cadeia e vão morrer lá, eu acho que poderiam usar um pouco da vida delas para ajudar algumas pessoas, provando remédios, provando vacinas, provando tudo nessas pessoas para ver se funciona, entendeu? Essa é a minha opinião. Já que vai ter que morrer na cadeia, que pelo menos sirva para ajudar em alguma coisa."

A declaração é surpreendente pela ignorância. Não existe prisão perpétua no Brasil; a pena máxima por aqui é de 40 anos. Com o sistema de progressão de penas, são raros os detentos que ficam esse tempo todo atrás das grades.

Mas o que mais chocou foi o desprezo pela vida humana. Com essas palavras torpes, Xuxa se igualou aos que pregam “direitos humanos para humanos direitos”. Tratou os presidiários como uma subespécie, sem direito sequer ao próprio corpo. Esqueceu de que muitos dos que mofam nas horrendas cadeias brasileiras nem sequer foram julgados. E ainda ignorou que a imensa maioria de presos é de pretos e pardos, que tiveram o azar de nascerem pobres num país racista.

A internet reagiu na hora, com indignação mais do que justificada. No Twitter, surgiram expressões como “Xu Xu Klan” e “Xuxa Menenghele” —esta, uma referência ao médico nazista Josef Mengele, que fazia experiências horripilantes com prisioneiros de campos de concentração.

Tampouco demorou para Xuxa responder. Por volta das duas horas de manhã deste sábado, a apresentadora postou um vídeo em sua conta no Instagram, pedindo desculpas.

“Quem sou eu para dizer que essas pessoas estão ali e que devem ficar ali ou morrer ali? Quem sou eu para fazer isso? E se eu faço isso eu estou sendo ruim tanto quanto as outras pessoas que maltratam outras vidas, que não deveriam fazer isso."

Pelo tom e pelos agradecimentos a todos que a “julgaram certo”, Xuxa parece estar sendo sincera, e não apenas tentando apagar um incêndio que pode consumir sua imagem. Ela assume o erro com todas as letras, e em nenhum momento diz que foi mal interpretada ou que suas palavras foram tiradas de contexto.

Menos mal, porque Xuxa é incancelável. Não dá para apagá-la da memória afetiva de duas gerações de brasileiros, que cresceram com o Xou da Xuxa. Ou da de tantos outros que a viram crescer e evoluir, passando de menina bobinha para dona de seu nariz, sempre em busca de aperfeiçoamento.

Ainda assim, é apavorante perceber que até mesmo Xuxa, que há tantos anos se alia a tantas causas louváveis, compartilha do mesmo pensamento tacanho que saiu vitorioso nas últimas eleições presidenciais, levando o Brasil a um dos piores governos de sua história. Ela, pelo menos, parece disposta a se redimir.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem