Com final melancólico, quarta temporada de 'Dix Pour Cent' talvez não seja a última
Produtores já falam de spinoff ou episódio especial da série francesa
“Dix Pour Cent” (Dez por Cento) chegou sem fanfarra ao catálogo brasileiro da Netflix. A temática desta série francesa passa longe dos filmes de ação e comédias adolescentes que costumam frequentar a lista de mais vistos da plataforma: o agitado cotidiano de uma agência de talentos em Paris (o título se refere à porcentagem cobrada dos contratos dos clientes).
Esse tipo de agência, que cuida da carreira de atores, diretores, roteiristas e outros profissionais do audiovisual, também existe no Brasil. Mas, por aqui, elas não têm o poder ou o glamour de suas similares estrangeiras. Mesmo assim, “Dix Pour Cent” conquistou uma sólida base de fãs no país, por causa dos personagens bem construídos e, principalmente, pelas estrelas famosas interpretando a si mesmas –não raro, fazendo papel de bobas.
As três primeiras temporadas trouxeram Isabelle Adjani, Isabelle Huppert, Jean Dujardin, Juliette Binoche e muitos outros medalhões do cinema francês tendo ataques de estrelismo, passando por crises existenciais e arrumando problemas cabeludos para os agentes da ASK, a empresa fictícia onde se passa boa parte da ação. As três primeiras temporadas, com apenas seis episódios cada uma, foram rapidamente maratonadas, e deixaram um gostinho de quero mais nos espectadores.
Essa vontade levou dois anos para ser saciada. Na quinta-feira passada (21), finalmente estreou a quarta temporada de “Dix Pour Cent” na Netflix, depois de ser exibida na França pelo canal aberto France 2 entre outubro e novembro de 2020. Um alívio, mas também uma tristeza: os produtores avisaram que esta nova safra também é a última.
Uma coisa curiosa aconteceu com os roteiros. Cada episódio ainda é batizado com o nome do astro especialmente convidado. Entre eles, pela primeira vez, há uma atriz americana: Sigourney Weaver, da franquia “Alien”, ostentando um francês quase perfeito. Também há outras celebridades como coadjuvantes, como Mimie Mathy, uma atriz portadora de nanismo que é popularíssima na TV francesa, ou diretores como Valérie Donzelli ou Xavier Beauvois. Dá para perceber que tem fila de famosos querendo participar de “Dix Por Cent”.
No entanto, dessa vez, os dramas cômicos protagonizados por estes grandes nomes ficam em segundo plano. O mais importante é o destino da agência ASK, que perdeu um de seus sócios, Mathias (Thibaut de Montalembert), e está sofrendo um forte ataque da concorrência.
Os personagens também passam por dilemas pessoais. A workaholic Andréa (Camille Cottin) enfrenta um abalo conjugal, e não tem com quem deixar sua bebê. Hervé (Nicolas Maury) descobre que tem mais jeito para ator do que para agente. A ex-recepcionista Sofia (Stefi Celma), que também começou uma carreira de atriz, comete deslizes profissionais, e ainda precisa desatar sua história amorosa com Gabriel (Grégory Montel).
São tantas as subtramas que sobram algumas pontas soltas. Sofia perde numa festa um brinco de brilhantes emprestado por uma joalheria, e fica por isso mesmo. Andréa deixa a filha na creche e, logo depois, num impulso, decide ir embarcar para Los Angeles para resolver um pepino, esquecendo-se completamente da garota (a viagem, felizmente, é cancelada).
Mas são problemas menores, de uma série que manteve o alto nível mesmo depois que sua criadora e showrunner, a roteirista Fanny Herrero, se afastou do projeto depois da terceira temporada. O mais grave é o episódio final, um pouco abrupto e melancólico demais.
Será mesmo o último? Talvez não. “Economicamente, não é mais possível fazer uma quinta temporada”, disse o produtor Michel Feller à revista Premiere –ele talvez se refira ao salário de Camille Cottin, que se tornou uma atriz requisitada até mesmo por Hollywood. “Mas talvez haja algum derivado, de outra forma”, conclui. Já Anne Holmes, diretor a da France 2, sonha em fazer um episódio especial com uma hora e meia de duração, quem sabe em Nova York.
Faz sentido. “Dix Pour Cent” é, de longe, o produto da TV francesa de maior repercussão internacional dos últimos anos. Ganhou remakes locais no Canadá e na Turquia, e já se fala em adaptações para a Espanha, a China, a Índia e o Reino Unido. Sinal de que o fascínio pelos bastidores do showbiz é universal. Afinal, quem não gosta de ver que seu ídolo também é humano?
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