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Tony Goes
Descrição de chapéu LGBTQIA+

Cássia Kis vira problema para 'Travessia' e vai para a geladeira da Globo

Atriz teve seu papel reduzido na novela e não participará de outros programas

Cassia Kiss nos bastidores da peça "Meu Quintal É Maior que o Mundo" - Zanone Fraissat - 31.jan.19/Folhapress
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São Paulo

Era para ser uma despedida, se não triunfal, pelo menos digna. Depois de quase 40 anos no ar, ao longo dos quais criou personagens marcantes como a Leila de "Vale Tudo", a Adma de "Porto dos Milagres" e a Dulce de "Morde e Assopra", Cássia Kis anunciou que "Travessia" seria sua última novela.

Seu papel na trama de Glória Perez é o de Cidália, uma mulher forte e independente que assessora o empresário Guerra, vivido por Humberto Martins. Mas não é dos mais importantes, tanto que está em vias de ser descartado. Como informa a colunista Cristina Padiglione, Cidália mal aparece no mais recente bloco de capítulos entregue à Globo pela autora. A emissora quer preparar o terreno para uma eventual saída precoce da atriz.

"Travessia" está longe de alcançar a mesma audiência e repercussão de sua antecessora na faixa das 21h, "Pantanal". O enredo cheio de furos –uma característica de Gloria Perez, que sempre disse que gosta de "voar"– vem sendo muito criticado nas redes sociais. O par central, formado por Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede), tampouco empolgou o público.

Para piorar, a influenciadora e ex-BBB Jade Picon vem sendo massacrada por sua atuação titubeante como a patricinha Chiara. Sem experiência prévia como atriz, Jade vem estudando muito desde que foi anunciada no elenco da novela. Mas poderia ter sido poupada do sotaque carioca, que ela não consegue fazer bem. Era tão simples de resolver: Chiara teria estudado a vida inteira em São Paulo, ou no exterior, num colégio muito frequentado por paulistas. Mas a Globo não soube proteger direito sua nova estrelinha.

Em meio a esses problemas, que não chegam a ser gravíssimos, eis que despontam as falas homofóbicas de Cássia Kis. Convertida ao catolicismo mais conservador e retrógrado, a atriz, que já passou por diversos casamentos, agora deu para desmerecer as relações homoafetivas. Como se as dela, todas fracassadas, fossem muito melhores.

Cássia também se converteu ao bolsonarismo mais radical, e consta que infernizou os colegas na tentativa de convencê-los a votar no futuro ex-presidente. Virou persona non grata, tanto nos Estúdios Globo como na internet.

A Globo vem há anos cultivando uma atitude progressista, de respeito à diversidade e inclusão das minorias. Está fazendo um nítido esforço para escalar mais atores negros em seus elencos e, há quase 10 anos, tornou o beijo entre pessoas do mesmo sexo algo frequente em sua dramaturgia.

A emissora também dá liberdade para seus contratados expressarem preferências políticas, contanto que fora de suas dependências. Mas o caso de Cássia Kis extrapola a mera liberdade de opinião. Suas falas homofóbicas transformaram-na num problema, tanto para o êxito da combalida "Travessia" como para a imagem institucional da Globo, que precisou soltar uma breve nota condenando a atriz.

A jornalista Carla Bittencourt, do site Notícias da TV, informou nesta terça (1º) que a emissora também pediu às produções de seus programas de variedades que evitem convidar Cássia Kis. Dessa forma, ela está vedada em atrações como Encontro com Patrícia Poeta, Mais Você, Caldeirão com Mion e Domingão com Huck. Nem mesmo para falar exclusivamente de sua personagem na novela.

"Esse é um problema meu e da TV Globo", respondeu Cássia, através de uma mensagem enviada por celular, depois de ser questionada pela apresentadora Gaby Cabrini, do Fofocalizando (SBT) sobre a nota emitida pela emissora.

Aí é que ela se engana. Sua homofobia não é uma questão de foro íntimo, a partir do momento em que ela externa sua crença de que os homossexuais são inferiores aos héteros e representam uma ameaça ao futuro da humanidade.

Homofobia é crime. O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT+ no planeta. Ao se revelar homofóbica, Cássia Kis contribui para aumentar a violência, em todos os sentidos, contra os homossexuais. A Globo faz bem em deixá-la na geladeira, e faria ainda melhor se a desligasse logo de seus quadros.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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