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Tony Goes

Sem nocaute nem bala de prata, último debate foi quase penoso de assistir

Lula escapou de armadilhas, mas perdeu oportunidades contra Bolsonaro

Em foto colorida,  dois homens circulam em um estúdio
Os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate da TV Globo - Divulgação/TV Globo Sérgio Zalis
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São Paulo

A pergunta que não quer calar: onde está o celular de Gustavo Bebianno?

O deputado André Janones, do Avante, passou a semana insinuando no Twitter que estava de posse do aparelho do falecido ministro da Secretaria Geral da Presidência. Deixou que se criasse a expectativa de que segredos escabrosos seriam revelados por Lula durante o último debate entre os presidenciáveis desta campanha eleitoral.

A mais longa de todos os tempos, aliás, apesar de não ter durado nem três meses. Mas a sensação é a de que se passaram anos, especialmente neste interminável mês de outubro. Estamos todos exaustos, e uma aparição do celular de Bebianno neste derradeiro debate talvez o tornasse mais palatável.

Debate, propriamente, não houve, mas isto já era mais do que esperado. Mais uma vez, o que rolou na tela da Globo estava mais para um áspero confronto de personalidades do que o de propostas de governo.

Jair Bolsonaro, do PL, de cabelo recém-cortado e gravata azul, abriu os trabalhos ainda mais tenso e agressivo do que de costume, tratando Lula por "Luiz Inácio". Não cumprimentou ninguém e já partiu para o ataque.

Lula, do PT, estava mais relaxado, de gravata vermelha e sorrisinho irônico nos lábios. Não mordeu as numerosas iscas atiradas por Bolsonaro, mas também perdeu oportunidades de apanhá-lo em mentiras deslavadas. Mesmo assim, conseguiu se colocar num patamar superior: "parece que meu adversário está descompensado", alfinetou.

O fato é que o burburinho da plateia, pouco captado pelos microfones, incomodou o presidente a ponto de ele pedir silêncio duas vezes.

Outro momento inusitado foi o "direito de resposta" que o mediador William Bonner concedeu a si mesmo, para esclarecer que não tirou da própria cabeça a informação de que Lula nada deve à Justiça.

Foi combinado que, dessa vez, os candidatos não poderiam se tocar (Bolsonaro encostou a mão no ombro de Lula durante o debate do pool Folha/UOL/Band/Cultura). Mesmo assim, o candidato do PL tentou se aproximar do petista várias vezes, talvez para intimidá-lo, até levar um chega-pra-lá definitivo: "não quero ficar perto de você", disse Lula.

A fúria ostentada por Bolsonaro nos primeiros blocos foi se amainando ao longo do debate. Lula, por seu lado, não se exaltou em nenhum momento, mas pode ter se equivocado ao deixar sem resposta clara várias das perguntas do incumbente, na tentativa de desqualificá-las.

Nas redes sociais, o andar curioso do presidente levantou suspeitas de que ele teria algo suspeito nas calças. Em dado momento, escorregou e quase tropeçou, gerando um GIF instantâneo.

Depois de deixar que Bolsonaro falasse sozinho por longos minutos no penúltimo debate, Lula aprendeu a administrar melhor seu tempo. E ainda se deu ao luxo de passar um pito em Bolsonaro no final do segundo bloco: "se comporte, tenha postura de presidente".

Aborto, pandemia, inflação, armas: quase todos os temas quentes que dominaram o noticiário nos últimos dias foram citados em algum momento. Bolsonaro ainda insistiu na patética tentativa de pintar Lula como "amigo" de Roberto Jefferson, e mentiu ao dizer que decretou imediatamente a prisão de seu correligionário depois que ele atacou agentes da PF com tiros e granadas – até porque o presidente da República não tem o poder de mandar prender ninguém.

Mais uma vez, não houve nocaute, nem vitória por pontos. Tampouco a proverbial bala de prata, capaz de ferir de morte a candidatura adversária. De modo geral, Lula parece ter se saído melhor, falando com mais calma e simpatia. Bolsonaro, bem mais exaltado, parecia se dirigir apenas a seus seguidores mais fanáticos.

Não foi um debate fácil de ser visto, apesar do formato mais solto. Em diversos momentos, os candidatos pareciam estar falando sozinhos, como se o outro não estivesse ali, e a tensão beirava o insuportável. Quando tudo terminou, foi um alívio. Que falta fez o celular do Bebianno.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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