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Tony Goes

Quem gosta de mamata são as celebridades que apoiam Bolsonaro

Muitos famosos que votam no presidente têm dívidas milionárias

Neymar Jr., André Valadão, Mario Gomes e Zé Neto
Neymar Jr., André Valadão, Mario Gomes e Zé Neto - Montagem
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São Paulo

Uma das fake news mais perniciosas e resilientes que circulam no Brasil diz que os artistas que declaram voto a Lula estão, na verdade, de olho na grana fácil propiciada pela Lei Rouanet e outros mecanismos de incentivo à cultura.

Nenhum desses atores e músicos acreditaria nos mesmos ideais que o ex-presidente. Só querem vender seu apoio em troca de dinheiro. É a famosa mamata, que Jair Bolsonaro teria extinguido ao assumir a presidência da República.

Nomes que nunca utilizaram a Lei Rouanet para nenhum projeto, como até mesmo estrelas internacionais, são vilipendiados na internet por gente que não faz a menor ideia de como funciona a legislação.

Ao mesmo tempo, um grupo de artistas, atletas e outras celebridades posam de vestais, acusando os colegas de agirem de forma espúria, ao mesmo tempo em que declaram um apoio nada desinteressado à reeleição de Bolsonaro.

Neymar, o mais famoso desses apoiadores, deve cerca de R$ 8 milhões à Receita Federal. A carreira do craque é polvilhada por escândalos desse gênero. Ele também estaria em dívida com o fisco espanhol, por causa de transações suspeitas quando se transferiu do Santos para o Barcelona, em 2013.

Aqui no Brasil, corre que Neymar e seu pai chegaram a um acordo com Bolsonaro, que teria perdoado a dívida. O próprio Lula disse, em entrevista ao podcast Flow, que o jogador não votava nele por medo de ter esse perdão exposto.

O pastor e cantor gospel André Valadão, outro bolsonarista inflamado, também deve cerca de R$ 2 milhões à União, entre impostos atrasados e dívidas previdenciárias de sua produtora. Talvez seja por isto que ele tenha tentado se vitimizar na semana passada, mentindo que o ministro do TSE Alexandre de Moraes teria determinado que ele retirasse do ar acusações que fez contra Lul a.

Além disso, a Rede Super, canal de TV ligado à Igreja Batista da Lagoinha, de propriedade da família Valadão, recebeu R$ 756 mil do governo Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos.

O ator Mário Gomes, que fracassou em sua tentativa de se eleger deputado estadual pelo Republicanos, partido da base de apoio de Bolsonaro, teve sua mansão no Rio de Janeiro leiloada pela Justiça, para pagar dívidas trabalhistas. O imóvel também está com o IPTU atrasado.

Inúmeros cantores sertanejos que apoiam Bolsonaro tampouco se furtam de criticar colegas que já se utilizaram dos mecanismos legais de incentivo à cultura. Em maio, Zé Neto, que faz dupla com Cristiano, atacou Anitta durante um show em Sorriso (MS), dizendo que não dependia da Rouanet nem precisava "tatuar o toba" para aparecer.

O tiro saiu pela culatra: logo foi descoberto que Zé Neto & Cristiano, assim como muitos outros astros sertanejos, fazem shows pelo país inteiro com cachês milionários pagos pelas prefeituras, sem nenhum controle nem prestação de contas –exatamente o contrário do que faz a Lei Rouanet.

Daria até para dizer que vários desses nomes, que proclamam apoiar incondicionalmente a "defesa da família" e "dos valores tradicionais" pregada por Bolsonaro, também têm vidas privadas bastante complicadas, com filhos bastardos, amantes secretas e ex-esposas que precisam recorrer à Justiça para receber as pensões que lhe são devidas.

Mas este não é o foco da coluna. Aqui o ponto é outro: muitos dos famosos que defendem a reeleição de Jair Bolsonaro têm dívidas milionárias com a União, ou se beneficiam de esquemas pouco transparentes, como os shows bancados por prefeituras pobres. E depois eles vêm dizer que são os apoiadores de Lula que gostam de uma mamata?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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