Globo surpreende ao anunciar 'Olho por Olho' para o streaming, mas estratégia faz sentido
Prevista para suceder 'Pantanal', novela estreará diretamente no Globoplay
Em entrevista a este colunista em dezembro de 2021, Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo, contou que a emissora estava pensando em arriscar mais justamente no produto que é seu carro-chefe há mais de 50 anos: a telenovela.
Durante três anos, alguns autores teriam carta branca para contar histórias fora dos padrões habituais, sem o compromisso de arrebentar na audiência. Essa tentativa de alargar os limites do gênero serviria para atrair de volta um público que parece ter se desinteressado pelos folhetins, os jovens.
Parece que o plano começará a ser posto em prática no final de 2022, mas não na TV aberta. Em sua principal janela, a Globo continuará privilegiando tramas de sabor tradicional. Como o remake de "Pantanal", que entra no ar no dia 28 de março.
A experimentação, pelo menos num primeiro momento, ficará relegada ao streaming. Já há um exemplo bem-sucedido: "Verdades Secretas 2", lançada pelo Globoplay em outubro do ano passado. Com apenas 70 capítulos e tórridas cenas de sexo, a novela de Walcyr Carrasco alcançou um alto número de visualizações e uma ampla repercussão nas redes sociais, apesar de ter sido enxovalhada pela crítica.
Na semana passada, a Globo surpreendeu o mercado ao confirmar que "Olho por Olho", anunciada há pelo menos dois anos como a sucessora de "Pantanal" na faixa das 21 horas, desembarcará diretamente no Globoplay, sem data prevista para chegar à TV aberta. A trama de João Emanuel Carneiro terá apenas 85 capítulos, bem menos que os 150 habituais, e estreará com o final ainda em aberto –o desfecho dependerá da reação do público.
"Pantanal" será substituída por "Travessia", assinada por Glória Perez. Ou seja: na TV aberta, a Globo prefere apostar na fórmula que ainda lhe garante uma liderança folgada, apesar de distante dos índices estratosféricos de duas décadas atrás. Prefere não alienar o espectador que ainda lhe é fiel, enquanto testa as novidades no Globoplay.
É uma estratégia que faz sentido. Até porque a concorrência está se mexendo. A HBO Max já anunciou a produção de "Segundas Intenções", telessérie (neologismo inventando pela plataforma) estrelada por Camila Pitanga. O marketing do programa inclui até mesmo o quadro "Uma Nova Estrela para o Brasil", no Faustão na Band, que escolherá uma jovem atriz para o elenco.
O curioso é que o novelão nos moldes antigos, com centenas de capítulos e vilões e mocinhos bem demarcados, parece longe de seu último suspiro. Na Netflix, a caretíssima trama colombiana "Café com Aroma de Mulher" passou vários dias como a atração mais assistida da plataforma. A própria Globo tem feito mais sucesso com a reprise de novelas antigas do que com suas novas produções originais.
Mas a garotada, habituada ao ritmo vertiginoso das séries e à variedade temática que estas oferecem, não quer mais acompanhar uma novela todo dia no mesmo horário, como seus pais e avós faziam. Até porque o final é para lá de previsível: o par romântico fica junto no último capítulo, e todos vivem felizes para sempre.
As novelas no streaming serão bem-sucedidas? É muito provável que sim. Com menos subtramas e nenhuma enrolação, elas podem de fato se transformar num gênero híbrido da teledramaturgia. Mas a metamorfose só estará completa no dia em que chegarem à TV aberta.
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