'Diário de um Confinado' faz crônica bem-humorada do distanciamento social
Criada pelo casal Bruno Mazzeo e Joana Jabace, série estreia nesta sexta (26)
Criada pelo casal Bruno Mazzeo e Joana Jabace, série estreia nesta sexta (26)
A quarentena já fez surgir um novo gênero da teledramaturgia. Por enquanto ele ainda não tem nome, só uma descrição: histórias que se passam durante o período de confinamento, captadas por celulares e computadores, com quase todos os diálogos acontecendo por chamadas em vídeo. Os atores e os membros da equipe (se houver) interagem remotamente, cada um em sua casa.
O escopo é limitado. Não dá para fazer nada de muito épico. Mas o custo baixo e a relativa facilidade garantida pela tecnologia fizeram com que inúmeros exemplos viessem à luz nos últimos meses, no Brasil e no exterior.
Por aqui, o novo gênero inclui a atual safra de esquetes do Porta dos Fundos, o programete "Sinta-se em Casa" de Marcelo Adnet, a série "Diálogos Risíveis" com Leo Castro e Renata Castro Barbosa (exibida dentro do Zorra), a websérie "Se Eu Não Estivesse Aí" com Débora Falabella e Gustavo Vaz, e o quadro Como Lidar de Paulo Vieira (exibido dentro do Fantástico).
Nesta sexta (26), um novo espécime do estilo estará disponível na plataforma Globoplay: "Diário de um Confinado", escrito e estrelado por Bruno Mazzeo e dirigido por sua mulher, Joana Jabace. A partir de sábado (4), o programa passa a ocupar a faixa do Zorra, na Globo. E, no dia 6 de julho, estreia no Multishow.
"Quando a quarentena começou, eu achei ótimo ficar um tempo quieta em casa, com marido e filhos", diz Joana Jabace em entrevista por telefone. A diretora, que mora no Rio de Janeiro, já estava há mais de um ano passando a maior parte do tempo em São Paulo, gravando a série "Segunda Chamada", e pensou que finalmente iria descansar.
Mas, depois de um mês e pouco confinada, começou a ficar inquieta. "Bruno escreve e atua, eu dirijo –precisávamos aproveitar essa oportunidade para criar alguma coisa! Mas eu queria sair um pouco desse esquema das lives gravadas com celular. Apresentamos uma proposta à Globo sem nem saber direito o formato final. Recebemos a aprovação três horas depois."
Bruno Mazzeo confirma, também por telefone, que foi Joana quem teve a iniciativa. “Eu não pretendia escrever nada este ano”, diz ele, que foi roteirista-chefe das duas temporadas da série “Filhos da Pátria”. “Tinha quatro projetos como ator já engatilhados, até janeiro de 2021. Aí veio a pandemia e adiou todos”.
"A primeira ideia foi explorar os relacionamentos amorosos nesses tempos esquisitos, mas logo fomos além. Desenvolvi o personagem de Murilo, um cara solteiro que está preso em casa, com a Rosana Ferrão, minha parceira habitual de escrita. Depois, chamei dois roteiristas com quem nunca tinha trabalhado, o Leo Lanna [Isso a Globo Não Mostra, quadro do Fantástico] e a Veronica Debom [Tá no Ar, Globo] para desenvolvermos as situações por que o Murilo passa: faxina, análise, reunião de condomínio."
Da concepção à estreia, foram menos de dois meses. As gravações dos 12 episódios levaram apenas 23 dias. Joana e Bruno transformaram a sala do apartamento em que vivem no pequeno apartamento de Murilo. E ainda trouxeram o fotógrafo Glauco Firpo para morar com eles, durante um mês. Glauco e Joana cuidaram de toda a parte técnica, inclusive da captação de som –que não é a especialidade de nenhum dos dois.
"Eu senti na pele a falta de uma equipe grande", ri a diretora. "Da produção, do contrarregra, da continuidade... fizemos quase tudo sozinhos."
Mas profissionais dos estúdios Globo passavam orientações à distância. E ainda desenvolveram um kit com dois celulares com câmera e equipamentos de iluminação, para que os atores convidados pudessem gravar a si mesmos.
Só dois deles contracenaram presencialmente com Mazzeo. Débora Bloch, que vive no mesmo prédio que o casal, faz justamente uma vizinha de Murilo, obcecada por limpeza. E Matheus Nachtergaele, que mora perto, aparece passeando com um cachorro no último episódio, na única externa da série.
Todo o resto do elenco –que inclui Arlete Salles, Lúcio Mauro Filho, Renata Sorrah, Lázaro Ramos e Fernanda Torres– participa remotamente. Fernanda e Bruno, aliás, atuam "juntos" pela primeira vez. Ela foi a protagonista de "Filhos da Pátria" (Globo), série criada por ele, e ele está escalado para a minissérie "Fim", baseada no livro escrito por ela, mas os dois nunca haviam dividido a cena.
"Senti muita falta das leituras e dos ensaios presenciais", conta Bruno. "Mas também percebemos que muita coisa pode ser feita à distância", acrescenta Joana. "Este é um aprendizado que vamos levar para o resto da vida."
"Diário de um Confinado" não tem a pretensão de arrancar gargalhadas. "Fizemos uma crônica leve desse nosso novo e estranho cotidiano", conclui Bruno Mazzeo. "É tudo muito simples. E é isto o que vai ficar quando acabar a pandemia: a simplicidade."
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