Concurso de Miss Universo transcorreu sem gafes, mas também sem muita graça
Dois anos atrás, Steve Harvey protagonizou o episódio pelo qual será lembrado pela posteridade.
Ao anunciar a vencedora do concurso Miss Universo, o apresentador americano se confundiu. Bradou em alto e bom som que a nova portadora da faixa era Miss Colômbia.
A coitada chegou a ser coroada antes que Harvey percebesse o erro. A verdadeira ganhadora era Miss Filipinas.
A gafe viralizou e levou o venerando concurso às manchetes do mundo inteiro. De repente, uma instituição anacrônica como o Miss Universo voltava à ordem do dia.
Corta para 2017. Como já havia acontecido antes, mais uma vez Steve Harvey comandou o evento, e mais uma vez a representante da Colômbia estava entre as duas finalistas.
Mas dessa vez não houve erro. A vencedora foi mesmo a belíssima sul-africana Demi-Leigh Nel-Peters. Tudo funcionou às mil maravilhas.
Mas será que funcionou mesmo? Sem nenhum deslize aparente, o certame realizado ininterruptamente desde 1952 (e, com interrupções, desde 1926) voltou a ficar com cara de ultrapassado.
É certo que há muitas tentativas de modernizá-lo. Para começar, as misses não são mais padronizadas. Não se exige mais que todas tenham aquele típico cabelão, apesar de muitas ainda o portarem.
Agora é possível que a Miss China apareça com os cabelos bem curtinhos, ou que a deslumbrante Miss Brasil, Monalysa Alcântara, ostente uma juba admirável. Viva a diversidade.
As infames perguntas que, teoricamente, servem para avaliar a personalidade das finalistas, também deram uma maneirada. Neste ano, as misses não tiveram que propor em 30 segundos uma solução definitiva para os conflitos no Oriente Médio ou para o desperdício dos recursos naturais.
Os temas perguntados foram mais próximos do dia-a-dia e do noticiário, como o assédio sexual ou a desigualdade entre homens e mulheres. Mesmo assim, houve quem se enrolasse, como Miss Filipinas. Mas, antes de criticar, suba você num palco, de salto alto e maquiagem, com transmissão ao vivo para um bilhão de pessoas, e tente ser inteligente diante das câmeras.
Já defendi aqui neste espaço que os concursos de beleza deveriam se assumir pelo que de fato são - concursos de beleza - e não testar os talentos nem os conhecimentos gerais das candidatas. Ao mesmo tempo, acho que a diversidade de tipos físicos tinha que ser muito mais ampla: gordas, baixas, portadoras de deficiência, todas deveriam poder concorrer.
O Miss Universo até que está se aproximando deste formato. Mas a cerimônia sem grandes surpresas ou emoções corre o risco de ficar burocrática.
Talvez esteja na hora do concurso fazer como as candidatas venezuelanas, que não têm o menor prurido de entrar na faca, e passar por uma bela recauchutada.
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