'A Força do Querer' encerra com maratona e um especial no 'Globo Repórter'
Desde o final de "Avenida Brasil", em 20 de outubro de 2012 –exatos cinco anos antes– que a Globo não dedicava um "Globo Repórter" ao último capítulo de uma de suas novelas.
Nem mesmo o histórico beijo gay entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), que encerrou "Amor à Vida" em 2014, mereceu tamanha honraria, apesar da ampla cobertura pelos telejornais da casa.
Mas o fato é que, mesmo tendo feito enorme sucesso, o folhetim de Walcyr Carrasco não superou a audiência de "Avenida Brasil". "A Força do Querer" tampouco alcançou tal façanha, mas conquistou um mais do que honroso segundo lugar entre as novelas exibidas desde então.
Mais do que isso: lavou a alma (e forrou o cofre) da emissora, que vinha emplacando sucessivas decepções em seu horário mais nobre. "Babilônia" (2015) foi considerada um desastre, com média de apenas 25 pontos na Grande São Paulo; "A Regra do Jogo", "Velho Chico" e "A Lei do Amor" também ficaram todas aquém das expectativas.
Eu mesmo cheguei a suspeitar que a era da novela das nove estava chegando ao fim. Afinal, mudava-se o autor, mudava-se o estilo, mas nenhuma se transformava naquele tipo de programa que as pessoas comentam no dia seguinte.
E aí veio "A Força do Querer". Não entendi o primeiro capítulo: achei um monte de tramas desconjuntadas, sem um eixo central que as interligasse.
Só que era justamente esta a grande cartada de Glória Perez. A autora veterana lançou mão de toda sua experiência para criar uma novela sem trama principal, com núcleos de protagonistas que iam se revezando no ar.
Glória limpou seus excessos: evitou os cenários exóticos e reduziu o número de personagens, dois defeitos que prejudicaram seus trabalhos recentes.
Mas, acima de tudo, construiu personagens femininas fortes, complicadas e críveis. Todas elas tinham características extremas, pouco comuns no dia a dia do espectador.
Ritinha (Ísis Valverde) era adepta do sereísmo. Jeiza (Paolla Oliveira) lutava MMA. Silvana (Lília Cabral) era viciada em jogos. Bibi (Juliana Paes) se envolvia com o narcotráfico. Ivana (Carol Duarte) se descobria transexual. Só sua mãe Joyce (Maria Fernanda Cândido) era uma mulher mais dentro dos padrões, e mesmo assim dona de uma complexa vida emocional.
O último capítulo, exibido nesta sexta (20), teve duas horas de duração e poucas surpresas. Apesar do sigilo prometido pela emissora, quase todos os finais foram vazados pela imprensa. Tampouco se inovou muito: vilões foram punidos, heróis (ou quase) tiveram finais felizes.
Pena que o show das Divinas Divas na Estudantina, que prestaria homenagem à recém-falecida Rogéria, foi quase todo cortado. Pena maior ainda que o beijo entre Ivan e Cláudio (Gabriel Stauffer) não passou de um selinho.
A direção talvez tenha ficado com medo de confundir o público: afinal, Ivana agora é Ivan, um homem trans e gay (ele não alterou sua orientação sexual). E Cláudio, seu ex-namorado, vai continuar com ela? A questão ficou em aberto.
O último bloco foi meio atabalhoado, com uma locução off explicando o que aconteceu com cada personagem –como se as duas horas anteriores não tivessem sido suficientes.
Mas o "Globo Repórter" que veio em seguida foi divertido e elucidativo, com entrevistas, bastidores e encontros de atores com as pessoas que inspiraram seus personagens.
"A Força do Querer" teve um bota-fora à altura de seu sucesso. Vamos ver se o pique continua alto com sua sucessora, "O Outro Lado do Paraíso", que estreia na segunda (23).
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