'Volta por Cima' traz de volta o clichê do suburbano feliz e batalhador
Presença maciça de atores negros é ponto forte da nova novela das sete, que ainda recorre ao surrado núcleo dos ricos falidos
O cidadão pobre, honesto e batalhador do subúrbio carioca que nunca perde o alto astral, cercado da família e do samba. A família ex-rica, hoje falida da Zona Sul, que vive sem perder a pose. A má notícia: é em terreno bastante conhecido (ou melhor, desgastado) que "Volta por Cima", a nova novela das sete, transita. A boa notícia: ao contrário das novelas do passado, dominadas por brancos, agora quase metade do elenco é de atores pretos.
No lugar do motorista de táxi, protagonista de novelas como "Bandeira Dois", "Pecado Capital" e "Antonio Alves, Taxista", entra o motorista de ônibus, mais raro no universo das novelas. É a profissão de Lindomar (MV Bill), pai da batalhadora Madá (Jéssica Ellen).
Madá é a ponta de um triângulo que se anuncia previsível, entre o noivo, o malandro Chico (Amaury Lorenzo), e o fiscal de ônibus Jão (Fabrício Boliveira), que, na boa e velha receita das comédias românticas, ela odeia porque no fundo ama. Chico esconde de Madá o caso que tem com Roxelle (Isadora Cruz), a moça do café da esquina.
FOCO, FORÇA E FÉ
Não estamos muito longe do universo proposto por "Vai na Fé", o último grande sucesso das 19h, com a mocinha negra e batalhadora no centro da trama. De leve, já tivemos o sonho do trabalhador por ascensão na carreira (a entrevista de Jão) e a importância da fé na vida desse cidadão (o escapulário que Lindomar não deixa de usar em suas viagens).
Como reza a cartilha, o núcleo suburbano já cruzou o núcleo rico algumas vezes. Osmar (Milhem Cortaz), o tio encostado de Madá, explora a rica Violeta (Isabel Teixeira), viúva de um grande contraventor. O falido Gigi (Rodrigo Fagundes) é obrigado a tomar o ônibus de Jão e Lindomar por falta de dinheiro para chamar um Uber.
SAL NO CAFÉ
Como já virou marca da autora Claudia Souto (de "Cara e Coragem" e "Pega Pega"), o primeiro capítulo já trouxe uma mistura de comédia e ação, com o enfarto de Lindomar ao volante que deixou o ônibus no perigo de cair de um viaduto. A alegria do subúrbio, apesar de não trazer nada de novo, pelo menos já é um universo mais palpável que o da novela anterior, "Família É Tudo".
Mas as cenas de comédia foram ralas demais para sustentar o interesse do público das sete horas, cansado de tanta repetição. A cena em que Roxelle botou sal no café de Madá, digna de um "Chaves", diz muito sobre o humor pueril que virou marca do horário.
Betty Faria e Drica Moraes, os dois nomes mais veteranos do elenco, não tiveram uma cena de apresentação à altura do seu talento na pele das ricas decadentes. Será preciso mais do que leveza e simpatia para que o horário das sete consiga dar a volta por cima que anda merecendo.
"Volta por Cima"
Globo, de segunda a sábado às 19h30
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