Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Thiago Stivaletti
Descrição de chapéu Televisão

'Mania de Você' estreia em clima de 'A Lagoa Azul' e com situações absurdas

Ao contrário do que diz Thiago Fragoso, só deu homem branco e hétero na nova novela das 9

Agatha Moreira e Nicolas Prattes como Luma e Rudá em 'Mania de Você' - Manoella Mello/Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Thiago Fragoso não tem mesmo noção. No primeiro capítulo de "Mania de Você", a nova novela das nove da Globo, só deu homem hétero branco: Rodrigo Lombardi, Nicolas Prattes, Chay Suede, Fábio Assunção. Nenhum deles, ao que consta, é o Herson Capri nem namora a Larissa Manoela.

A nova trama de João Emanuel Carneiro estreou esbanjando imagens de uma Angra dos Reis paradisíaca, de mar verdejante e praias de comercial de bebida. É lá que Rudá (Prattes), um pescador parrudo saído direto de "Kubanacan", e Luma (Agatha Moreira) apareceram num clima "A Lagoa Azul", ou Adão e Eva no paraíso. Molina (Lombardi) e Mércia (Adriana Esteves), a dupla de vilões, começaram a construir seu castelo de mentiras, aproveitando a morte da mulher dele no parto para ficar com a herança de uma filha que não é dele.

O primeiro capítulo teve o mérito de se concentrar nos quatro protagonistas e nos dois vilões principais para estabelecer as principais linhas da história, sem espaço para personagens secundários –ainda não vimos Mariana Ximenes, Eliane Giardini e Thalita Carauta, entre tantos outros. E ainda não deu para ver nascer a tal enorme amizade entre Luma e Viola (Gabz).

Os primeiros conflitos pareceram rasos demais, indignos de uma novela das nove. Luma não quer estudar gastronomia em Paris, enfrenta a oposição do pai, mas logo volta para ficar com seu amado. E já deu para ver os absurdos típicos do universo de Carneiro, daqueles que o espectador precisa de muita boa-fé para relevar.

Mavi (Chay Suede), um estudante recém-formado, chega de lancha na casa onde trabalha sua mãe para pedir emprego ao patrão dela, que ele não sabe ser seu pai. Pouco tempo depois, ao fazer um serviço para um chefão do morro, conhece Viola, se apaixona de cara e, sem muita dificuldade, consegue escapar do local com ela em meio a um conflito entre o tráfico e a polícia.

Sem pensar muito, ele já pede a moça em namoro e, após tomar um não, ainda fica seguindo ela pelas ruas, até dormir ao lado dela embaixo da ponte numa noite de chuva. Seria o manual do macho tóxico e stalkeador, mas... como o rapaz é o gato do Chay Suede e a música romântica toca ao fundo, somos levados (forçados) a torcer pelo novo casal.

Como em todo primeiro capítulo, porém, o noveleiro precisa se agarrar a algumas esperanças. Molina comanda "a maior empresa de tecnologia e segurança do Brasil", e já deu para perceber sua obsessão com câmeras de segurança que vigiam todo mundo o tempo todo, numa espécie de Big Brother sinistro. A premissa pode render belos conflitos.

E Adriana Esteves deve tirar vários coelhos da cartola com sua Mércia, uma espécie de governanta com acesso a todos os segredos do patrão. Ainda que seja sempre um pouco frustrante vê-la menos efusiva do que em Carminha, Carneiro não é besta de ter Adriana no elenco sem lhe oferecer muitas grandes cenas.

O problema maior da estreia de "Mania de Você" começa antes dela. Para além do roteiro, as novelas da Globo sofrem hoje de um elenco cada vez mais reduzido. Rodrigo Lombardi é o pai rico de Agatha Moreira, assim como foi em "Verdades Secretas". Adriana Esteves é mãe de Chay Suede, tendo sido há pouco tempo em "Amor de Mãe". Nicolas Prattes, um galã em formação, saiu há pouco tempo do mocinho de "Fuzuê" às 19h e de "Todas as Flores". E Fábio Assunção cumpriu tabela em três cenas para morrer logo e entrar na próxima das 18h.

"O jogo vira o tempo todo", diz a frase de lançamento da novela. Não sei por quê, mas a frase me lembrou imediatamente "A Regra do Jogo", um fracasso na carreira de Carneiro, do qual poucos se lembram. Talvez seja melhor o jogo não virar tanto assim, para que o público tenha tempo de se conectar aos personagens sem ficar esperando a chegada do remake de "Vale Tudo", que estreia depois dela.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem