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Thiago Stivaletti
Descrição de chapéu Televisão

Por que o Estrela da Casa não pegou?

Elenco sem carisma, ausência de subcelebridades e falta de humor nas edições ajudam a entender por que nem os perfis das redes que amam realities aderiram ao novo programa

Mulher sorri sentada em sofá
Ana Clara comanda o Estrela da Casa - Manoella Mello/Globo
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São Paulo

Gael indica Lucca e Heloísa ao primeiro Duelo, e Lucca dispara: "você mexeu com a pessoa errada". Cresce o amor entre Matheus e Unna, mas o romance está ameaçado porque Mayarah indicou o casal ao segundo Duelo. Nick diz a Ramalho que ele precisa ser mais simpático, e o rapaz chora com a crítica.

Se você não entendeu nada do parágrafo acima, é porque não está vendo Estrela da Casa, o reality show que a Globo lançou no último dia 13. Talvez você não esteja sozinho: a sensação é a de que a combinação de BBB e The Voice comandada por Ana Clara Lima ainda não "pegou", como se diz em televisão. Ao contrário de seu primo mais velho, o Big Brother Brasil, o Estrela não entrou em pauta nas conversas de zap ou de bar. Por quê?

Algumas razões parecem externas ao programa. Talvez os fãs raiz de reality show já estejam acostumados a esperar o BBB no primeiro semestre do ano e A Fazenda no segundo semestre, sem muito espaço para uma terceira atração.

O público do BBB já se acostumou ao vaivém dos horários na grade da Globo –mas, para um novo reality, ter os programas de quarta-feira entrando quase meia-noite, depois do futebol, não ajuda em nada a adesão.

SAUDADES, GRETCHEN


O Estrela também parece remar contra a maré numa tendência consolidada em A Fazenda e importada pelo BBB desde 2020: a inclusão de famosos no time de participantes. Desde que Gretchen, Márcia Fu, Fiuk e outros viraram sucesso de meme nas redes, acompanhar um programa apenas com jovens artistas desconhecidos requer muita paixão pelo formato.

A falta de interesse se espalha pelas redes. Sites e perfis de notícias sobre TV e celebridades, como Hugo Gloss e Fofoquei, dedicam poucos e protocolares posts ao programa, sem exalar aquela paixão evidente pelos rumos da casa que o BBB desperta.

O próprio perfil do Estrela no Insta reunia no último domingo pouco mais de 180 mil seguidores, um número baixo para a Globo, ainda mais se comparado aos mais de 20 milhões de seguidores do BBB na mesma rede.

Essa falta de interesse é merecida? Em parte, sim. O elenco sofre de uma certa falta generalizada de carisma, e nenhuma voz parece ter arrebatado o público até agora. Alguns, como o sertanejo Lucca, tem potencial para movimentar o jogo.

Se, por um lado, ele incomoda alguns colegas com uma certa arrogância, por outro o seu evidente talento vocal faz dele um forte concorrente –posição que ele confirmou ao vencer a primeira competição do Hitmaker, com a música mais ouvida pelo público.

Alguns quadros ainda precisam ser ajustados para fisgar o espectador. Na última quinta (22), um workshop sobre teatro musical comandado por Danielle Winits, Jennifer Nascimento e Érico Braz não pareceu nem interessar a todos os participantes, que dirá ao público no sofá.

Ocupou dez minutos de programa, quando merecia no máximo três. O quadro é um dos que levanta uma dúvida sincera em relação ao programa: o espectador de casa tem interesse em ver o processo de formação de um novo artista musical? Ou prefere já vê-lo "pronto", como o The Voice nos habituou a fazer?

PLATEIA APAGADA


Também não ajuda o fato de que todos na casa têm o mesmo objetivo, o de se transformar em cantores e cantoras de sucesso. Quem aspira a esse lugar de fama tende a frear seus piores impulsos e fazer um certo esforço em esconder, ou ao menos disfarçar, seu lado ruim.

O BBB tem um ponto de partida mais interessante: cada um entrou na casa por diferentes motivos –ou, às vezes, sem motivo nenhum, o que também é ótimo para o jogo. Essa diferença de metas alimenta melhor os conflitos que o povo ama ver.

No caso da Fazenda, a mecânica é o oposto do que o Estrela faz: seus famosos decadentes já deixaram o auge da fama há um bom tempo, o que tira deles todo e qualquer pudor em expor seu lado pessoal. É o famoso "dane-se, não tenho mais nada a perder", um belo combustível para conflitos, seja na ficção ou na vida real.

Voltando ao Estrela: o primeiro programa de eliminação –às terças-feira, como reza a cartilha do BBB– padeceu de certa frieza, com uma plateia mantida no escuro, talvez para não transparecer sua falta de empolgação com as finalistas.

Um longo clipe com os "melhores momentos" na casa de Heloísa, a primeira eliminada, também ficou deslocado –como sabemos há muitos anos, ninguém desenvolve apego emocional com o primeiro eliminado a ponto de chorar saudades.

E falta o humor, seja com a presença dos humoristas que dão as caras no BBB há anos, seja com edições mais "zoeira", que não tenham medo de debochar daquilo que está sendo visto –algo que a internet faz melhor do que a TV.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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