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Rosana Hermann
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O problema da Globo é que ela não pode errar

Responsabilidade da emissora em criar programa para Eliana aumenta, pois atração terá de ser vitoriosa e inovadora

A apresentadora Eliana - Rogerio Pallatta - 2023/SBT
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São Paulo

Você se lembra do programa Se Joga, da Globo? E do Zig Zag Arena, alguma memória? E do Divertics, um programa de humor, ficou alguma lembrança? Não? Quem sabe você tenha visto o Tá brincando!. Nada? Ah, já sei: Casa Kalimann? Tudo bem. Sem problema.

Mesmo que você lembre vagamente, esses programas têm algo em comum: não deram certo. Ficaram pouco tempo no ar ou foram considerados fracassos de audiência. Eu mesma participei de um fracasso antigo da Globo, uma série de ficção que misturava humor e terror, o "Terrir", ideia do saudoso diretor Roberto Talma, que se inspirou no Grand Guignol francês. Já ouviu falar? Não, nem ninguém, por isso não deu certo.

Em geral, fracassos são comuns. Deveriam ser considerados normais, parte da estatística de erros e acertos. Mas não para a Globo. A emissora é líder, e quando ela erra a cobrança é gigantesca, interna e externamente. O público, a crítica e a concorrência, tratam os erros da Globo com muita acidez, desprezo e até agressividade.

Por isso a Globo testa.

Testa formatos, testa atores, testa apresentadores, tudo. Muitas vezes, começa testando artistas em seus outros canais, como Multishow, GNT e até em sua plataforma de streaming, o Globoplay. Mesmo artistas consagrados passam por essas emissoras antes de chegar à "nave mãe". Testa influenciadores como atores de novela. Mesmo artistas consagrados, como Fábio Porchat e Tata Werneck, tiveram seus programas originalmente fixos em canais por assinatura (Que história é essa, Porchat? e Lady Night, respectivamente), exibidos na grade da Globo, porque deram muito certo.

Influenciadores também são testados, como foi o caso da ex-BBB Jade Picon na novela "Travessia". O Big Brother, aliás, tem servido de "celeiro" de novos globais. Fernanda Bande e Giovanna Pitel estão em teste. Beatriz Reis vai fazer um quadro no Fantástico, provavelmente um ensaio para que, futuramente, ela tenha seu próprio programa.

Quem foi "testado" também no Fantástico e se transformou no maior acerto recente da Globo é Paulo Vieira. O quadro "Avisa lá que eu vou" é absolutamente maravilhoso, sucesso de crítica e de público, graças ao dom natural de Paulo para conversar com pessoas e tirar o melhor de cada uma delas. E porque Paulo Vieira é um artista completo, múltiplo, ele dublou "Frozen" no Domingão do Huck, foi jurado do The Masked Singer, cantou com Ivete Sangalo.

E mais: Paulo é um criador fantástico. A partir de relatos que publicou no Twitter, contando histórias de seu pai e de seu melhor amigo, criou a série "Pablo e Luisão", que está em fase de captação para ser exibida pelo Globoplay. Quem sabe seja um teste para que um dia Paulo se torne autor de uma novela?

E é justamente porque Paulo Vieira foi um grande acerto que agora esperamos que todos os talentos contratados pela Globo, sejam eles novos ou consagrados, deem certo. Acredito que esse seja o caso de Eliana. Imagine a responsabilidade da Globo em criar um programa para Eliana, uma veterana, uma apresentadora com uma longa trajetória de sucesso. A Globo não pode errar. O programa tem que ser não apenas vitorioso, mas inovador.

Porque tudo o que for parecido com qualquer outra coisa já feita vai receber críticas. Esse é o problema de quem está na frente, de quem é vencedor. Do perdedor, não se espera nada, então ele pode fracassar sem problemas. Do vencedor se espera a perfeição. E é esse o problema da Globo. Mesmo perdendo relevância, mesmo num novo mundo em que a TV não é mais hegemônica na mídia, ela é o primeiro lugar no pódio das emissoras. E quem está no alto do pódio, não pode errar. Do vencedor se espera sempre a medalha de ouro.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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