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Rosana Hermann
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O fim do reality e o choque da realidade

O BBB 24 acabou e agora é momento de encarar uma montanha-russa de emoções extremas no mundo

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Mulher leva homem morto para fazer empréstimo em banco - Reprodução
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São Paulo

Neste dia 16 de abril, os brasileiros viveram uma terça-feira atípica, bizarra, uma montanha-russa de emoções extremas no mundo da comunicação.

De um lado, acompanhamos a final do BBB 24, que gerou pico de audiência pela vitória de Davi, com direito a desmaio de sua mãe e celebração de final de Copa do Mundo em sua cidade natal, Salvador (BA). De outro, o jornalismo nos trouxe uma das notícias mais chocantes dos últimos tempos, o caso da suposta sobrinha que levou seu tio morto a um banco para assinar a documentação de um empréstimo.

O choque desses dois acontecimentos desestabilizou o Brasil. Porque depois de passar cem dias acompanhando "a casa mais vigiada do país", percebemos que não é só dentro de um reality show que temos câmeras registrando tudo, na realidade acontece a mesma coisa. Felizmente, aliás. Porque foi graças às funcionárias do banco que gravaram o atendimento a um homem perceptivelmente em óbito e a todas as câmeras de segurança que pudemos ver o percurso feito pela mulher, desde o momento em que ela chega com seu tio, provavelmente já morto, em um carro de aplicativo, até sua chegada ao banco.

Na verdade, não foi só o Brasil que ficou atônito com a notícia. Veículos de mídia do mundo inteiro reagiram com a mesma intensidade. O jornalista Tom Phillips, correspondente para a América Latina do The Guardian, postou no Twitter um print com as notícias internacionais mais lidas do jornal inglês e o caso da "brasileira presa depois de levar um cadáver para assinar um empréstimo no banco" estava em primeiro lugar.

Todos os desdobramentos do dia seguinte à final do Big Brother seguiram seu ritual: entrevista na Ana Maria Braga com o campeão, batendo recorde de telespectadores, notícias de entretenimento falando do encontro de todos os participantes, comentários sobre os looks dos participantes, os contratos assinados por cada um. Mas a quarta-feira foi marcada mesmo por todas as descobertas do caso do 'Tio Paulo', como a mulher se referia ao falecido que empurrava na cadeira de rodas.

Todos estavam atentos a qualquer informação que pudesse esclarecer uma das muitas perguntas que populam nossas mentes. A mulher é mesmo sobrinha dele? Ela sabia que ele estava morto quando entrou no banco? Ou ao entrar no banco ele ainda estava vivo, como alegam seus advogados de defesa? E o motorista do carro de aplicativo que levou a mulher e o tio, não notou nada de estranho quando a ajudou a tirar 'o Tio Paulo' do carro? Mas como não notou se ele não se movia? Quem é o casal que encontrou com eles na garagem, exatamente nesse momento em que ele era tirado do carro? E por que os peritos não conseguem afirmar o momento em que ele morreu? A mulher estava mesmo sob forte efeito de medicamentos? Ela tem mesmo problemas psiquiátricos? Ela teve um surto?

As perguntas não param porque tudo o que envolve esse caso nos assombra num grau absurdo. Estamos falando de possíveis limites humanos. Como o limite da desumanidade ou do desespero. Do extremo da ganância ou da ingenuidade. E, enquanto não temos as respostas definitivas, assistimos às cenas de todos os vídeos divulgados nos meios de comunicação e nossos cérebros inventam possibilidades para preencher os vazios das respostas.

Inventam também histórias, comentários, memes que beiram o grotesco, piadas de gosto questionável.

Mas assim é. Agimos de acordo com a terceira lei de Newton, aquela que diz que para cada ação existe uma reação de mesma intensidade e em sentido contrário. Para um acontecimento aterrorizante e anormal, respostas assustadoramente inadequadas.

O reality show que entreteve milhões por cem dias, acabou. Agora é hora de voltar para a realidade, por mais dura que seja.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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