Roberta Close revela que galãs se recusavam a beijá-la em novela
Depois de muito tempo no ostracismo, Roberta Close, 50, voltou a dar o ar da graça em entrevista exclusiva ao "Gugu" (Record) desta quarta-feira (20).
Entre os anos 1980 e 1990, Roberta Close foi a transexual mais conhecido do país. Foi capa de várias e diversificadas revistas, da "Sexy" a "Contigo", era considerada uma das musas do Carnaval e participou dos principais programas de entrevistas da TV brasileira, incluindo Faustão, Hebe Camargo e "Fantástico".
Protagonista do clipe "Close", de Erasmo Carlos, aparentemente inspirado nela própria —embora o compositor negue—, Roberta relembrou quando participou como atriz da novela "Mandacaru" (na extinta Manchete, em 1997) e sentiu mais uma vez o preconceito.
"Me perguntaram se eu gostaria de ter um par romântico na novela. Eu disse: claro, gostaria de ter um galã", conta Roberta. "E os galãs da época só queriam a parte da 'festa', mas não queriam exercer a profissão. Diziam: não, eu não beijo a Roberta Close, não! Porque vai depor contra a minha conduta de galã", relata.
Ao ser questionada se guarda alguma mágoa da história, Roberta diz que "não, mas eu vi bem onde eu estava, me dei conta de quem me rodeava. Olhei para todo mundo e falei: ah, é assim, é? Ok. Acabou saindo o beijo", afirmou Roberta.
O ator Benvindo Siqueira, que vivia o vilão Zebedeu na mesma novela, comentou o fato: "O brasileiro é conservador e o galã é construído em cima de uma imagem de virilidade na qual os machos da sociedade têm simpatia por ele e empatia, porque se identificam. As mulheres também têm fantasias eróticas com o galã e se isso tudo é quebrado, a cabeça tem que dar uma volta e entender, e aceitar. Eu acho que afeta sim a imagem do galã!", declarou.
Mas o ator tem uma lembrança diferente da de Roberta: "Não, não teve o beijo. Não veio nenhuma cena escrita de beijo. Nem eu sei como seria, como é que eu ia resolver essa questão. Como profissional provavelmente eu faria o beijo... mas também poderia recusar, é um direito do ator", concluiu Siqueira.
A modelo também fala que não teve uma infância fácil, por não ser aceita como mulher: "Eram muitos castigos... apanhava, chinelada e cinto... Castigos".
Ao tocar no tema sexualidade, Roberta parece que não fica muito à vontade, embora Gugu ressalte que na biografia "Muito Prazer, Roberta Close" (Ed. Rosa dos Tempos, 1998) a modelo declare ter nascido hermafrodita.
"O hermafrodita também já nasce complicado... é uma situação... Existe uma falta de esclarecimento. Eu não sou uma médica que possa dar uma explicação de como funciona, até que ponto pode se chamar de hermafrodita", diz.
E acrescenta: "Mas acho que através dos exames dos genes que eu fiz, exame de DNA, você consegue ver X, Y e como funciona. O hermafrodita... é uma coisa como eu te falei, através das artes, da história, você consegue achar esses personagens. O que é um hermafrodita? Até onde você pode dizer: essa pessoa é, essa pessoa não é? Então só os médicos é que realmente sabem o limite", respondeu, de forma confusa.
Mas Gugu insiste: "Você sabia que você era [hermafrodita]?". Roberta, que também foi destaque nos anos 1980 com a manchete "a mulher mais linda do Brasil é homem", sai pela tangente. "Ser humano, não é? A gente é ser humano. Somos todos humanos... é isso, somos filhos de Deus, acredito na teoria de Darwin também, enfim, eu acho que a humanidade é especial... a beleza do ser humano é sermos diversos", declarou a modelo.
No final, Roberta ainda se emocionou ao lembrar da morte da mãe no Brasil, enquanto ela morava no exterior. "Foi forte pra mim. Eu aqui [na Suíça] sozinha... porque minha mãe dava muita força pra mim. Foi muito difícil. E, ao mesmo tempo, recebendo aquelas pauladas, o povo me xingando sem necessidade. Mas a vida é dura pra quem é mole! Você não pode deixar a fraqueza tomar conta, sabe? Você tem que procurar força de onde não tem".
Relembre o clipe de "Close", de Erasmo Carlos... com Roberta Close.
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