Renato Kramer

Governador Valadares, a cidade mineira onde o 'sonho americano' ainda não acabou

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A Globo News apresentou na madrugada desse sábado (12) uma matéria especial que o apresentador fez para o programa que leva o seu nome "Fernando Gabeira".

Por que tantos moradores da cidade mineira Governador Valadares (cidade natal da Rainha da Jovem Guarda, a cantora Wanderléa) emigram para os Estados Unidos? Hoje em dia muito menos, desde que adveio a crise econômica americana.

Gabeira explica: "Tudo começou na década de 30 quando se descobriu 'mica' na região, e para explorar melhor esse minério era preciso que se construísse uma estrada de ferro. Para a construção da tal estrada, vieram inúmeros engenheiros norte-americanos".

As relações entre esses engenheiros e os moradores de Governador Valadares tornou-se intensa e frutífera ao longo dos anos. Por isso muitos se lembravam dos Estados Unidos quando na década de 60 começaram então a emigrar para lá. "A ideia do 'sonho americano' era também a ideia de prosperidade, da melhora de condições de vida que seria um tanto difícil de ocorrer por ali", conclui Gabeira.

Outro fator que facilitou o contato dos Valadarenses com os estrangeiros é o permanente comércio de pedras, que ainda hoje funciona no centro da cidade. Gabeira entrevista algumas pessoas que viveram essa experiência.

Crédito: Adriano Vizoni - 5 jul. 2012/Folhapress Fernando Gabeira
Fernando Gabeira

O técnico de informática Alex foi para os Estados Unidos em 2004, permanecendo por lá cerca de cinco anos. Trabalhou como ajudante de pedreiro e ao retornar para Valadares abriu duas lojas para jovens com artigos no estilo "rock and roll". "Quanto você ganhava lá?", quis saber Gabeira. "Em torno de 1500, 2000 dólares por semana. Dava pra mandar algum para o Brasil e ainda juntar um pouco", conta Alex. Por que ele voltou? "O fator primordial foi a família, que ficara no Brasil. E com a crise, isso impulsionou muitos brasileiros a voltar".

O casal Ademir e Mary Clara morou nos Estados Unidos por sete anos, a vinte minutos de Nova Iorque. Ele também começou como ajudante de pedreiro, depois passou para pedreiro e ainda se descobriu na carpintaria. Mary começou atendendo em um restaurante, mas logo optou por ser diarista, pois trabalhava menos e tinha os fins de semana de folga. "Eu gostava muito", confessa Mary Clara, "a maneira das pessoas tratarem a gente é diferente. A educação é completamente diferente – nem se compara com a do Brasil, e o trabalho é muito bem remunerado", acrescenta. Ambos abriram uma lanchonete na volta.

Adriano Campos, assessor parlamentar, morou nos EUA por treze anos. Trabalhava em um supermercado português. Ganhava uma média de 500, 600, 700 dólares por semana. Voltou ao Brasil há dois anos. Ele conta que a readaptação na volta é muito difícil. "Nos Estados Unidos é tudo melhor, entende? Inclusive eu aconselho sempre aos meus amigos que residem lá que fiquem lá até conseguirem a cidadania, porque para voltar para o Brasil para ficar aqui é muito difícil!", desabafa Adriano. E informa: "90% dos meus amigos estão arrependidos de ter voltado pra cá". "Do que você gosta mais lá?", pergunta Gabeira. "De tudo", responde o assessor.

Para Ademir, a decisão de voltar é muito mais difícil do que a de ir, mesmo que ele e sua mulher não tivessem a intenção de viver lá para sempre. A Associação de Parentes e Amigos dos Emigrantes, dirigida por Paulinho Costa, procura dar todo o apoio – inclusive assistência jurídica, para o emigrante e sua família. Elisa Maria Costa, prefeita de Governador Valadares, anuncia grandes projetos de políticas públicas para que as pessoas e suas famílias permaneçam em Valadares e lá tenham qualidade de vida e oportunidades.

O número de emigrantes Valadarenses para os Estados Unidos diminuiu consideravelmente. Mas para alguns, como o fisiculturista Bradock que é pentacampeão em Nova Jersey e abriu uma academia em Valadares com o que ganhou por lá, o sonho ainda está de pé. O seu plano é voltar para os USA e competir novamente. "Quer dizer que o sonho não acabou?", cutuca Gabeira. "Não, não. Está apenas começando!", retruca Bradock.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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