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De faixa a coroa
Descrição de chapéu Miss Universo América Latina

Diretora do Miss Nicarágua renuncia ao posto após perseguição de ditadura do país

Exilada pelo regime, Karen Celebertti se pronuncia pela 1ª vez desde triunfo no Miss Universo

Sheynnis Palacios, da Nicarágua, exibe traje típico "El Zanate"
Sheynnis Palacios, Miss Universo 2023, exibe traje típico "El Zanate" - Reprodução/Instagram
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São Paulo

Karen Celebertti Moncada, diretora do Miss Nicarágua, anunciou nesta semana sua renúncia oficial às responsabilidades da posição no país. O anúncio, feito na noite da última terça (12) em suas redes sociais, chega pouco mais de uma semana depois de a ditadura nicaraguense acusá-la de "conspiração, difusão de informação falsa, traição e lavagem de dinheiro como parte de um complô para derrotar o governo".

A renúncia é uma reação da executiva à perseguição iniciada pela ditadura a ela e a seus familiares após a vitória de Sheynnis Palacios no Miss Universo 2023. A modelo foi coroada há menos de um mês, no dia 18 de novembro, e, desde então, o governo ficou em alerta. Para eles, o triunfo da nicaraguense no concurso de beleza poderia ser usado como um artifício da oposição para afrontar o regime comandado por Daniel Ortega.

"Chegou a hora da minha aposentadoria", publicou Celebertti em seu perfil nas redes sociais em sua primeira declaração pública desde a final do Miss Universo. "Por 23 anos trabalhei com afinco e esforço para enaltecer o nome de minha pátria através da plataforma da Nicarágua", escreveu. "O Miss Nicarágua cresceu sempre limpo de ligações políticas, sem discriminação racial, religião ou região geográfica. Sei que sempre haverá mais oportunidades para nós."

A dona do Miss Universo, a empresária tailandesa Anne Jakrajutatip, 44, também se pronunciou na internet e apoiou Celebertti. "Tenho certeza de que, mesmo que você esteja em um lugar seguro agora, seu verdadeiro coração prefere não viver nessa opção mais segura. Infelizmente, quando a escuridão cai, todos temos que aceitar o destino e seguir em frente com coragem. Você tem que exilar você e sua filha para outra terra por causa de suas crenças e serviço às mulheres! Desejo que seu filho e seu marido continuem fortes", publicou.

A primeira atitude de Ortega após o Miss Universo 2023, foi confiscar as malas com as roupas usadas por Sheynnis no certame, incluindo o traje típico "El Zanate", inspirado em uma ave nativa do país. O confisco aconteceu no dia seguinte à final (19), quando o marido de Celebertti, Martín Argüello, e o filho Bernardo, de 16 anos, desembarcaram no aeroporto da capital Manágua, com a bagagem.

Após a repercussão negativa da ação na imprensa mundial, a ditadura voltou atrás e devolveu as roupas, que foram entregues no sábado (2) à avó da miss, que vive em Manágua. Na ocasião, uma nota oficial afirmou que o conteúdo das três malas e duas bolsas retidas não foi danificado e que nada foi removido.

Já quando a própria Celebertti retornou à Nicarágua, no dia 23, junto com sua filha adolescente, ambas foram barradas e exiladas. Elas foram obrigadas a voltar ao México, onde estavam como convidadas do Miss Universo, após acompanharem Sheynnis em compromissos em Miami (EUA) e na Cidade do México. Na sequência, Martín e Bernardo foram detidos pela polícia nacional e, desde então, estão incomunicáveis.

O regime de Ortega já procura possíveis substitutos para Celebertti, que está à frente da franquia desde 2011. Segundo o site nicaraguense La Prensa, Celebertti já havia renovado o contrato com o Miss Universo para 2024. A diretora também já foi miss, e sagrou-se vice-campeã do Miss Nicarágua em 1991.

VITÓRIA EXPÕEM TURBULÊNCIA NA REGIÃO

A vitória de Sheynnis, que conquistou, ao mesmo tempo, a primeira vitória de seu país e da América Central no Miss Universo, evidenciou a turbulência pela qual passa a região da nação da campeã.

Enquanto a Nicarágua se transformou em uma ditadura de esquerda nos últimos anos, comandada por Daniel Ortega, no vizinho El Salvador, onde aconteceu o concurso de beleza, a democracia passa por um processo acelerado de degradação desde a eleição do populista de direita Nayib Bukele, em 2019.

A coroação teve repercussão negativa em ambas as localidades: na Nicarágua, a comemoração da população nas ruas com a bandeira do país foi vista como uma afronta. Isso porque, desde que os símbolos nacionais foram usados em protestos contra o regime de Daniel Ortega, em abril de 2018, a bandeira virou alvo de desconfiança de agentes do regime.

A própria Sheynnis participou dos protestos de cinco anos atrás, quando tinha 18 anos —fotos da agora Miss Universo nas marchas viralizaram antes da cerimônia. O regime então ficou sob alerta e observa atentamente o possível uso da imagem dela como forma de protesto no país.

De faixa a coroa

Fábio Luís de Paula é jornalista especializado na cobertura de concursos de beleza, sendo os principais deles o Miss Brasil, Miss Universo, Miss Mundo e Mister Brasil. Formado em jornalismo pelo Mackenzie, passou por Redações da Folha e do UOL, além de assessorias e comunicação corporativa.
Contato ou sugestões, acesse instagram.com/defaixaacoroa e facebook.com/defaixaacoroa

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