Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Zapping - Cristina Padiglione

Gal Costa marcou trilhas sonoras na TV e recusou convite para ser Gabriela

Cantora se tornou voz obrigatória em obras e Jorge Amado e contou ter sido convidada para o papel que consagrou Sônia Braga

Gal embalou várias cenas na TV e no cinema - Carol Siqueira/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Não me convidaram pra esta festa pobre", cantava Gal Costa na abertura de "Vale Tudo" (1988), letra de Cazuza que embalava o enredo de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. O título figura sempre no Top 3 de qualquer lista das melhores novelas de todos os tempos. A canção, na voz de Gal, sintetizava, como poucas vezes se vê, a gênese da trama, uma história guiada a partir da questão: vale a pena ser honesto no Brasil?

A cantora morreu nesta quarta-feira, 9, aos 77 anos, de causa ainda não revelada.

Bem antes disso, "Gabriela", adaptada do romance de Jorge Amado em 1975, por Walter George Durst, com direção de Walter Avancini, era pontuada pela cadenciada interpretação de Gal também na abertura. Era ouvi-la cantando "Eu nasci assim / Eu cresci assim / E sou mesmo assim / Vou ser sempre assim", versos de Dorival Caymmi com arranjo de João Donato em "Modinha para Gabriela", e pensar imediatamente na Sônia Braga.

O que pouca gente sabe é que ela própria poderia estar na pele da protagonista. Ao livro "Teletema", de Guilherme Bryan e Vincent Villari, Gal contou ter sido convidada a encarnar a própria Gabriela pelo então diretor de teledramaturgia da Globo: "O Daniel Filho me convidou, na época, para fazer o papel da Gabriela. Não aceitei por medo, porque achava que não era atriz. Aí me chamaram para cantar. E acabei me tornando a voz dos personagens do Jorge Amado", lembrou ela.

"Em todas as trilhas que fizeram a partir de então para novelas ou filmes sobre os personagens de Jorge Amado, eu estive. A novela era maravilhosa e a música de abertura também", concluiu ela.

Na minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos", Gal canta "Vapor Barato", canção que também está na série "Onde Nascem os Fortes", de George Moura e Sérgio Goldenberg.

A cantora entraria em cena em uma novela, sim, mas como ela mesma, para cantar "Folhetim", de Chico Buarque, e tendo a chance de contracenar então com a eleita para ser Gabriela em 79, Sônia Braga, dessa vez em "Dancin'Days", outra de Gilberto Braga. Júlia Matos, a ex-presidiária esculachada pela irmã, vê os olhares insinuantes de Iolanda Pratini (Joana Fomm) em uma pequena reunião social onde Gal canta "Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim", honrando os versos de Chico Buarque.

Em "Água Viva", mais uma de Gilberto Braga, de 1980, Gal sonorizou, com "Noites Cariocas", as delícias de Stela Simpson, a ricaça vivida por Tônia Carrero, que morava em um apartamento com piscina de cara para o mar.

"Força Estranha", do amigo Caetano Veloso, esteve na trilha de "Os Gigantes", novela de Lauro César Muniz de 1979, embalando o drama de Paloma, personagem de Dina Sfat.

A minissérie "Anos Rebeldes", em 1992, de novo de Gilberto Braga, que levou Gal à tela mais vezes do que Jorge Amado, resgatou a beleza de "Baby", na clássica interpretação da cantora.

Tem ainda "Festa do Interior", de Moraes Moreira, defendida por ela em "O Bem Amado", na versão do seriado protagonizado por Paulo Gracindo entre 1980 e 1984, na Globo.

Gal marcou cenas primorosas de Rodrigo Santoro e Carol Castro sob a direção de Luiz Fernando Carvalho em "Velho Chico", em 2016, com "Dois e Dois".

Sustentou que "é preciso estar atento e forte" em "Divino Maravilho" em "Os Dias Eram Assim", novela de Angela Chaves e Alessandra Poggi, de 2017, outra produção calçada pelo contexto da ditadura militar, tema raro na nossa teledramaturgia e período de forte referência para o repertório da cantora.

E mesmo quem nunca viu "O Casarão", de 1976, certamente já ouviu "Carinhoso", de Pixinguinha, na voz da cantora, gravação que serviu como tema de abertura da bela novela de Lauro César Muniz, protagonizada por Yara Cortes e Paulo Gracindo.

Em 1992, ela embalaria mais uma abertura de novela icônica, dando voz a "Canta Brasil" em "Deus nos Acuda", de Silvio de Abreu. Ao som de seu timbre, vários casais dançavam em traje de gala, emoldurados pelo mapa do Brasil, enquanto afundavam num mar de lama que escorria todo por um grande ralo.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem