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Zapping - Cristina Padiglione
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LGBTQIA+

Prêmio Multishow 2022: faltou humor, improviso e temperatura

Evento avançou na diversidade, mas perdeu na capacidade de surpreender o público

Brunna Gonçalves e Ludmilla no Prêmio Multiwhos
Brunna Gonçalves e Ludmilla se beijam na premiação da cantora pelo hit do ano, 'Maldivas' - Reprodução
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Rio de Janeiro

O frenesi do tapete vermelho e toda a pré-festa do Prêmio Multishow pareceram mais interessante do que a premiação em si. A 29ª edição do evento ocorreu na noite de terça-feira, 18, no Rio de Janeiro. Há aí um reflexo dos tempos que priorizam a forma em detrimento do conteúdo, conceito em que o figurino vale mais que a música, os truques de luz têm mais importância que a obra e o número de seguidores se sobressai ao talento.

Mas um outro diagnóstico, mais prático e fácil de tratar, ajudaria a reduzir o caráter insosso que dominou a cerimônia: sim, faz muita falta ter ao menos um humorista no time de apresentadores.

Ainda que o Prêmio Multishow nunca tenha alcançado a graça do VMB, o Video Music Brasil, premiação da antiga MTV Brasil, as cerimônias do Grupo Globo tiveram melhor performance sob o comando de nomes como Paulo Gustavo, Tatá Werneck e Fábio Porchat.

Nessas ocasiões, cantoras como Anitta, Iza e Ivete Sangalo se revezaram ao lado de profissionais do riso como meras coadjuvantes.

Dessa vez, a noite foi comandada por Marcos Mion, Glória Groove e Linn da Quebrada, com a ideia de celebrar a diversidade, foco de absoluta importância, que levou a organização a trocar as categorias "Cantora do Ano" e "Cantor do Ano" por "Voz do Ano" e "Artista do Ano".

Vamos considerar que uma coisa não exclui a outra, ou seja, é perfeitamente possível ter humor e pluralidade na mesma cena. O trio em questão está longe de ser mal-humorado, não me entendam mal, mas nada se iguala à capacidade de improviso de um bom humorista para surpreender a plateia e despertar o espectador àquela altura da madrugada.

Bem mais experiente que as meninas como mestre de cerimônias, tendo inclusive apresentado algumas edições do inesquecível VMB na velha (e boa) MTV, Mion tem voz sob medida para animar a plateia e botar ordem no roteiro.

É sem dúvida um grande apresentador, divertido, coisa e tal, mas quando ele passa na mesa de Rafael Portugal e o chama para o palco, para apresentar uma categoria, fica evidente a distinção entre os tipos de talentos que ambos têm a oferecer.

Formada por fãs dos nomes mais indicados aos prêmios -indicações feitas por esses próprios fãs-clubes-, a plateia tampouco ajudou a valorizar algumas das boas sacadas do roteiro, centrada que estava em apenas idolatrar seus alvos e alimentar entre seus artistas uma competição à moda Emilinha-Marlene, rainhas da era do rádio no Brasil.

Assim, quando Guito, o Tibério de "Pantanal", entrou em cena cantando "Cavalo Preto", a fim de brincar com o anúncio de "Hit do Ano", não encontrou eco na plateia, formada de guetos de fãs-clubes que não lhe deram bola e mal pareciam entender quem era ele.

SILÊNCIO POLÍTICO

Para corroborar a falta de temperatura, o evento parecia ocorrer em qualquer lugar do mundo, menos num Brasil incendiado pela tensão pré-eleitoral desses dias.

Na mesma noite em que Lula alcançava mais de 1 milhão de público simultâneo em uma entrevista ao canal Flow, no YouTube, e parte das famílias dos artistas presentes na arena da premiação se digladiava pela declaração de votos em candidatos opostos, nada se falou sobre política, nem a sério nem em tom de piada. Nem mesmo sobre questões sociais tão presentes no universo musical e tão relevantes para a escolha nas urnas.

Aliás, nem mesmo o incentivo ao voto foi mencionado, algo a ser sublinhado como uma conquista da democracia, e bem que houve uma breve piadinha sobre virar voto, mas apenas em menção ao próprio prêmio.

Há várias maneiras de não fingir que algo maior está em jogo neste momento, sem necessariamente partidarizar o assunto. Prevaleceu nos organizadores o receio de qualquer reação inflamada do público, mas até a plateia presente parecia roteirizada, assim como os premiados que subiram ao palco.

Pena.

OS VENCEDORES

Anitta foi a grande vencedora do Prêmio Multishow 2022, com três troféus: Música do Ano com "Envolver", Artista do Ano e Clipe TVZ com "Boys Don’t Cry’. Vítima de recente episódio de racismo em Porto Alegre, Seu Jorge foi bastante aplaudido ao agradecer o troféu por Melhor Show, ao lado de Alexandre Pires.

Confira aqui os demais premiados da ocasião.

(*) Viagem a convite do canal Multishow

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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