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Zapping - Cristina Padiglione

Globo: produções originais da linha de shows murcham em 2 anos

Faixa nobre pós-novela só tem realities ou programas já vistos no streaming e TV paga

Tatá Werneck entrevista Gil do Vigor no Lady Night - Juliana Coutinho 10.fev.22/Globo
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Em um prazo de dois anos, de 2020 para cá, nada restou da linha de shows da faixa nobre da Globo que já não tenha sido visto no Multishow, no GNT ou no GloboPlay. Ou melhor, restaram os reality shows, como BBB, No Limite e Mestre do Sabor. Nas tardes de domingo, tem The Voice onde antes já houve "Os Caras de Pau" e outras séries dramatúrgicas exibidas originalmente pela emissora.

Tirando as novelas --que hoje são três inéditas, e não mais quatro, como nos idos de "Malhação", ou cinco, do período em que havia novela das onze--, toda a dramaturgia seriada que chega à emissora já passou pelo streaming. No humor, tem "Vai que Cola", visto antes no Multishow, e a futura "Família Paraíso", com Leandro Hassum, também já em exibição pelo mesmo canal.

É de lá também que vem o "Lady Night", aclamado programa com Tatá Werneck, enquanto "Que História é Essa, Porchat" aproveita uma segunda janela a partir do canal GNT. Não há mal nenhum em promover o alcance desses títulos a um público maior pela TV aberta, o que eles bem merecem. A pergunta é: o que restou à Globo na exibição em primeira janela, ou seja, aquela que o público verá ali antes de qualquer outra tela?

Ficam as três novelas, os reality shows (embora só o BBB gere muita conversa), telejornais, programas de auditório e entrevistas. Séries como "Fim", "Encantado's" e "Os Outros", atualmente em produção, serão destinadas em primeira mão para o GloboPlay, como acontece no momento com a 5ª temporada de "Sob Pressão", título que sempre foi exibido antes pela TV aberta e agora ganha prioridade para o streaming.

Na gangorra buscada pelo Grupo Globo para fazer frente à concorrência das gigantes gringas do Video On Demand, a empresa não vem apenas abrindo mão de seus contratados exclusivos, mas também de equipes inteiras de roteiristas, diretores, cenógrafos e que tais, que sustentavam uma grade onde se revezavam programa de humor pelo ano todo ("Casseta & Planeta", "Zorra Total", "Zorra") ou por temporada ("Tá no Ar") e seriados como "A Grande Família", "Tapas e Beijos", "Os Normais") e até minisséries ou mininovelas, como aquelas das onze, do remake de "O Astro" até "Verdades Secretas", cuja segunda parte já foi direto para o streaming.

Essa grade reforça que a Globo dificilmente voltará a sustentar a carga de cenas inéditas que tinha até dois anos atrás, concentrando-se cada vez mais em transmissões em tempo real e factual.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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