Luana Xavier diz que tomou 'um susto' com convite do Saia Justa
Fã do programa do GNT, atriz fala sobre o desafio de se posicionar ao vivo
Atriz e apresentadora conhecida por assumir de modo muito franco posicionamentos sobre várias questões, e em especial diante de assuntos relacionados a religião, racismo, feminismo e liberdade corporal, Luana Xavier, 35, chega ao time fixo do Saia Justa nesta quarta-feira (30).
A nova temporada do programa, agora também com Sabrina Sato e Larissa Luz, celebra os 20 anos do título, o mais longevo da TV paga em um único canal, com trajetória ininterrupta. Será a primeira vez em duas décadas que o programa terá 50% de seu elenco negro, lembrando que Taís Araújo inaugurou a presença negra no elenco fixo da atração apenas em 2107.
Pitty, Mônica Martelli e Gaby Amarantos deixaram o sofá no final do ano passado. Jout Jout segue com um quadro gravado e novas dinâmicas entram em jogo.
Fã do Saia Justa, Luana conta à coluna que tomou "um susto" com o convite para integrar o novo elenco. "Pensei que estavam me ligando para falar alguma coisa sobre o aniversário de 20 anos, não para eu estar ali. Esse é um lugar que eu nunca sonhei estar", confessa Luana, em um misto de ansiedade, felicidade e algum frio na barriga.
Embora esteja bem acostumada a opinar sobre determinados temas, sendo até cobrada por isso, Luana sabe que é bem diferente gravar vídeos para o seu Instagram, com textos previamente escritos em versões de monólogos, e participar de uma conversa ao vivo pela TV com outras pessoas.
"No programa, é tudo muito rápido, e se falar alguma coisa atravessada não dá tempo de explicar", diz. "E quando eu converso no Insta, eu falo sozinha. Ali [no Saia Justa] são mais três pessoas, que podem falar alguma coisa que eu não pensei antes. Ao mesmo tempo, também sou bastante firme no que eu digo."
A discordância é bem-vinda para a conversa, como avisou às novas integrantes a âncora, Astrid Fontenelle, que inaugura seu 9º ano à frente do programa.
O policiamento com o que é dito no ar aumentará entre agosto e início de novembro, devido às restrições impostas pela lei eleitoral e a todas as suscetibilidades que isso implica. É evidente, lembra Luana, que com toda a transparência que ela carrega em suas postagens, torna-se óbvio entender quem ela não gostaria de ter como presidente, de modo que nem será necessário nominar seu campeão de rejeição.
Bem antes do período eleitoral, no entanto, ainda em maio, Luana quer tentar finalmente iniciar sua jornada no comando do terreiro Irmandade do Cercado de Boiadeiro, em Sepetiba, na zona oeste do Rio, honrando a escolha de seu nome para assumir a função que foi da avó, a atriz Chica Xavier, que "fez a passagem", como ela diz, em agosto de 2020.
O período de luto se encerrou um ano após a morte de Chica, mas Luana engatou outras missões de lá para cá e vem protelando sua chegada ao posto.
Confira abaixo os principais trechos da nossa conversa:
COMANDO DO TERREIRO
"Essa é uma realidade que eu tô empurrando bastante porque o meu coração não tá pronto, apesar de toda a religiosidade que herdei da minha avó. Esse é um caminho que eu venho construindo desde pequena, eu vivia grudada nela pra entender todos os segredos da Umbanda. Mas depois que ela fez a passagem, fica muito difícil abrir uma cerimônia sabendo que ela não vai estar ali do lado pra dizer o que eu estou fazendo de errado, dando só uma olhada pra mim.
Eu retornaria ao terreiro em abril, mas o que vai acontecer? Ela vai ser enredo de escola de samba [Cubango, de Niterói] e vou esperar um pouco mais. Agora, eu quero fazer isso em maio, na Gira dos Pretos Velhos, e maio a gente comemora a existência e sabedoria dos pretos velhos porque é o mês da abolição, então quero fazer na ocasião a reabertura oficial do terreiro."
'TIO MIGUEL'
"Terminei agora uma série que se chama 'Novela', com o Miguel Falabella, para a Amazon. Foi a realização de um sonho. As pessoas me perguntavam muito por que eu chamava o Miguel de 'tio'. Sempre o chamei de 'tio', é automático. A primeira vez que ele foi na minha casa eu tinha 9 anos de idade. Ele estava fazendo novela com a minha avó, e ele teve um estresse lá e ela disse: ‘Você não vai pra casa, você vai pra minha casa. É aniversário da minha neta e você vai pra lá. E ele cantou parabéns com a gente, comeu bolo.
A minha avó assumiu o tio Miguel como filho quando a mãe dele fez a passagem, e eu chamo ele de tio. O mais engraçado é que eu caí de paraquedas na série. A Maira Azevedo, a Tia Má, é que ia fazer o papel e eu não sabia. Eu tinha feito teste, eu e ela somos amigas e comadres, não sabíamos que tínhamos feito teste pro mesmo papel. Depois ela não pode fazer e acabei ficando com a personagem porque me chamaram.
Não sabia nem que ia fazer dobradinha com tio Miguel. Tio Miguel soube que eu tinha entrado pro elenco antes de mim e me ligou: 'acabei de receber uma noticia aqui e tô muito feliz', ele disse. A Tiam Má já tinha até começado a fazer os ensaios online, mas acabou não conseguindo viajar para gravar.
Então mandaram o tio Miguel ver o meu teste pra ver o que achava de contracenar com aquela atriz, e ele deu de cara comigo. Foram dois meses gravando juntos, nos encontrando diariamente. Ele falava: ‘Gente, eu vejo minha mãe o tempo todo, minha mãe Chica’.
SAIA JUSTA
"Eu estava pra fazer um filme também, mas já entendi que pode ser uma loucura porque o programa é toda semana e ao vivo, eu preciso estar aqui. Não é que eu não vá aceitar outros trabalhos, mas tem que ser algo muito pontual. Esse momento do Saia Justa é muito importante pra mim, cheguei a um lugar que eu nunca imaginei que eu ia chegaria.
Eu tinha um sonho de ser entrevistada no Saia Justa, e no ano passado isso aconteceu. Acredito até que ali possam ter tido a ideia de me chamar, mas achei que já tinha realizado o sonho.
Na minha cabeça, tinha uma questão geracional ali no Saia Justa. Achava que eu não me encaixava nisso porque não havia ninguém abaixo dos 40.
Foi uma surpresa, tenho uma relação com GNT de alguns anos. Já apresentei programa de viagens com a Fê Paes [Leme], minha amiga, e o Saia Justa, pra mim, sempre esteve num patamar tão incrível, que era quase inalcançável. Foi um susto."
VOZ PRÓPRIA
"Tem uma coisa boa, que em todas as reuniões que a gente fez, embora não tenham sido muitas, existe uma conversa partindo da direção que pede que a gente traga temas para o programa. Quando a gente gravou o piloto, na minha conversa com a diretora, ela foi pontuando: todas as suas contribuições são muito importantes pra gente."
RACISMO
"É preciso entender que a gente não tem que ter a participação de negros que falem só de racismo, vamos falar de tudo. Em 'Sessão de Terapia' [5ª temporada, no GloboPlay, onde interpreta uma das pacientes do personagem de Selton Mello, também diretor da série], a grande questão da minha personagem era a obesidade. Ela fez uma [cirurgia] bariátrica e durante a pandemia engordou novamente, e queria fazer outra. Entre as atrizes que fizeram teste [para o papel], tinham não negras também.
Eu falei: 'Selton, eu não preciso dizer que eu sou uma mulher negra nesse papel, nem sempre a gente precisa sublinhar. É lógico que as pessoas que estão me vendo ali sabem que sou negra e tem assuntos que estão em voga. A gente precisa escolher os momentos. E em alguns momentos muito pontuais eu acrescentava alguma pitada de negritude.
Tem um momento em que ela diz quais os sonhos que ela não realizou quando criança, e ela diz: 'Eu queria ser Paquita, imagina se eu fosse a primeira Paquita negra?'.
DISCORDAR É SAUDÁVEL
"A gente recebe três ou quatro dias antes do programa uma pauta, uma pesquisa sobre os assuntos de que vamos tratar, e vê aquilo com a nossa vivência e experiências pessoais.
O mais legal desse programa é a capacidade de discordar. São quatro apresentadoras. A Astrid pontua que não é uma entrevista, é uma conversa, e nós podemos muito bem discordar. A gente faz um ensaio na própria quarta-feira, cedo, para azeitar e entender o que cada uma tem a manifestar, para saber como será isso ao vivo, pra onde cada uma vai conduzir a conversa. Nem tudo a gente entrega antes, é bom ficar algum frescor para o momento do programa."
NOVAS RELAÇÕES
"Disseram que a gente já parece bem enturmada. A Sabrina eu só tinha visto a distância na Vila Isabel, quando ela foi coroada rainha de bateria, e a Larissa eu só tinha visto no teatro fazendo 'Elza', que aliás, eu assisti mais de uma vez."
O Saia Justa vai ao ar no canal GNT todas as quartas,-feiras, às 22h45.
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