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Colo de Mãe

A mãe ansiosa sofre

Ansiedade é natural na maternidade, só precisamos não deixar que ela nos domine

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São Paulo

Tão complexa e preocupante quanto a depressão pós-parto, a ansiedade materna é uma realidade que só quem é ansiosa conhece. Esse sentimento começa, muitas vezes, antes da gestação, quando queremos engravidar. E, em alguns casos, em vez de nos mover, nos paralisa, tamanha a vontade que o dia seguinte ou o próximo passo chegue logo.

Quem quer ser mãe a todo custo, quem acredita que o relógio biológico está apitando e mostrando o tempo final para engravidar, quem sempre sonhou em ter um filho e quem teve uma gestação interrompida entra na lista das ansiosas antes mesmo de gerar um bebê. Para as que engravidam de surpresa, a ansiedade da situação grita por si só. A grande pergunta é: "será que vou dar conta?"

Ansiedade para ver o rosto do bebê na gravidez é normal, mas é preciso ficar atenta se ela não passar - scaliger - Fotolia

Ansiedade é excesso de preocupação com o futuro. E nada mais preocupa uma mãe do que o futuro dos filhos. Isso é natural. Ficamos ansiosas para ver o rosto do bebê. Depois, quando eles nascem, ficamos ansiosas pelo dia em que vão dormir algumas horas seguidas noite adentro.

Essa ansiedade segue. Mães ansiosas geram filhos ansiosos. Minha mãe era —creio que ainda é— extremamente ansiosa. Na minha infância, ela passava noites em claro sempre que tínhamos um passeio no dia seguinte, uma viagem pela frente ou mesmo aos domingos, véspera de uma nova semana.

Eu não percebia a ansiedade de minha mãe, mas fui um bebê que dormia pouco e, na infância, roía as unhas —hábito que tenta reaparecer nesta pandemia. O fato é que cresci ansiosa. O que se mostrou na gravidez de minha primeira filha. Um mês antes do parto, com a barriga gigante e as pessoas repetindo na minha cabeça que médicos e exames erravam e minha filha poderia nascer a qualquer momento, tive uma crise de pânico, que praticamente me impedia de respirar.

A sensação foi terrível e, ali, naquele momento, decidi que precisava mudar para ser uma mãe melhor. Foi o nascimento de Luiza, minha primogênita, que me colocou no caminho de buscar o equilíbrio: nem tranquila demais nem estressada demais. Eu passei a entender que criava um ser humano, com vontades e expectativas próprias. Não seria eu a aumentar as preocupações de minha filha com o futuro.

Na gestação de Laura, minha caçula, foi diferente. Consegui, com ajuda de anos de terapia, mudar meu foco e, de mãe ansiosa, passei a mãe tranquila. Minha barriga enorme era sugestão constante para que eu fizesse uma cesariana o quanto antes. Todos ao meu redor temiam um parto prematuro, menos eu.

E quando me perguntavam: "por que você não marca logo o parto? Não está ansiosa para ver o rostinho de sua filha?", eu respondia: "não, ela virá na hora dela". Respeitei o tempo de Laura. Resultado: bebê tranquila, que dormia e dorme bem, que comia e come bem.

Acabou a ansiedade em casa? Não, ela é natural do ser humano, mas sigo em terapia e em constante construção materna para que essa "herança" seja passada da mesma forma possível. Afinal, pensar no futuro e sofrer por ele é normal, só precisa ser dentro de um limite que não nos adoeça ainda mais. Como o tempo é professor, eu ainda estou aprendendo.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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