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Colo de Mãe
Descrição de chapéu maternidade

Não é sobre ter bebês, é sobre criar seres humanos

Até um ano, filhos são uma graça; depois disso, a maternidade fica bem mais difícil

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São Paulo

Os olhos, a boca, o cheiro e a textura da pele de um bebê são inebriantes. Todos que já seguraram um recém-nascido na vida sabem o quanto é delicioso ter aquele pequeno ser em seus braços. É sempre amor à primeira vista.

Se para quem é de fora a sensação de ter um bebê no colo é mágica, imagina o quanto é maravilhoso ser a mãe ou o pai da criança. Tudo muda com um nascimento, mas é delicioso quando esse momento finalmente chega em nossas vidas. O primeiro ano de um bebê é realmente mágico.

Talvez seja por isso que a brincadeira no Instagram na qual se posta uma foto nos Stories mostrando o que a pessoa "fez na pandemia" que a maioria das imagens compartilhadas são de bebês, produzidos na crise da Covid-19, que hoje já nasceram e estão com alguns meses.

Não tenho números sobre o total de nascimento no país neste momento de mudança da ordem mundial. Em muitos países, houve queda na natalidade, mas, se eu me guiar pelo meu feed nas redes sociais, o número de nascimentos subiu —e muito— neste período em que todos estivemos (ou ainda estamos) confinados.

Não sei se foi a união dos casais com o convívio forçado que fez com que as pessoas decidissem ter filhos, se tem a ver com o medo de extinção da espécie que tem feito as pessoas reproduzirem em momentos de tensão ou se é simplesmente o pensamento, tido por alguns casais, de que ficar "grávidos" é caminho natural da existência na vida a dois.

O fato é que filhotes são encantadores. E os de seres humanos superam as expectativas de fofurice. Então, é comum que se queira ter um bebê, ainda mais se ele tiver o cabelo do pai e os olhos da mãe. A boca do irmão ou da irmã mais velha ou o trejeito engaçado da tia ou do tio. Todos queremos o nosso exemplar de minigente.

O problema é que eles crescem. E crescer dói. Dói nos filhos, mas, principalmente, aperta o coração dos pais. O motivo é simples: a maternidade ou a paternidade não é sobre ter um bebê, mas sobre criar seres humanos até o final. E é neste ponto que está a dificuldade.

Quando nos descobrimos grávidas, no nascimento do bebê e nos diversos marcos do primeiro ano de vida da criança, mesmo com todas as dificuldades iniciais, há uma certa companhia. Todos querem estar perto, compartilhar a evolução do bebezinho e (por que não?) ser convidados para a festinha de um aninho.

Mas filhos crescem. E se tornam desinteressantes aos olhos dos demais, que não sejam mãe, pai, avó, avô, tios e tias, os seres que realmente permanecem até o fim, mesmo quando a adolescência pulsa em cada poro e a convivência pacífica praticamente não existe.

Eles fazem gracinha nos primeiros anos, ficam interessantíssimos entre quatro e sete anos. Aí começam a vir as lições de casa e a coisa toda já vai perdendo um pouco a graça. Aos oito anos ainda lembram um pouco daquela criança brincalhona e, aos nove, já começam a não querer nos dar mais a mão em locais públicos.

Por isso, na hora de escolher ter um filho, é preciso entender que não é só sobre segurar um bebê, é sobre criar um outro ser humano completamente diferente de você, com gostos, vontades e manias próprias, que podem não se encaixar no que a família sonhou ou no que a sociedade exige.

Ter outro ser humano é responsabilidade para a vida. E é uma responsabilidade bem mais pesada do que simplesmente amamentar em livre demanda por até seis meses, sem oferecer outros alimentos nem água. Criar um filho é ter dúvida sobre a existência junto com ele, é tomar decisões que até mesmo você duvida, mas é, antes de tudo, deixar a pessoa livre. Para ser o que se quer.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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