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Colo de Mãe

Filmes sobre mães perdidas retratam as profundezas da solidão na maternidade

O que angustia a mulher com filhos não é a criança é a sociedade

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São Paulo

A voz das mulheres que decidiram não mais se calar, especialmente nas redes sociais, tem rendido muitos olhares sobre a maternidade em vários ramos da arte, principalmente no cinema e/ou no streaming.

Dois filmes que concorrem a estatuetas no Oscar são sobre maternidade: "A Filha Perdida" e "Mães Paralelas", que deverá ser liberado na Netflix ainda nesta semana.

"A Filha Perdida" estreou na Netflix no final de 2021. É baseado no livro da escritora Elena Ferrante. Não li o livro e vi o filme tardiamente, apenas em janeiro deste ano, quando estava de férias.

Cada angústia ali vivida pela personagem principal me tocou, porque sou mãe e entendo o que nos sufoca, mas, de forma geral, o filme não dialogou tanto com a minha maternidade.

Penélope Cruz e Milena Smit em cena do filme "Mães Paralelas", de Pedro Almodóvar
Penélope Cruz e Milena Smit em cena do filme "Mães Paralelas", de Pedro Almodóvar - Divulgação

A coragem da personagem principal é encarar o fato de que, como mãe, quem está perdida é ela. E como mulher ela quer se achar. Há um conflito inicial com as duas filhas que, para mim, a mãe resolve da melhor forma, ao afastar-se do que lhe tira do eixo. Ser mãe também é sobre respeitar-se como ser humano.

A história se dá em torno de uma criança que se perde, mas, ao olharmos ao redor, entendemos que as perdidas são as mães do filme. A criança é o que menos importa.

Ou o que mais importa quando se fala de maternidade. Imagine perder um filho? Imagine perder-se de um filho ou por um filho. É tudo ambíguo.

Ainda não tive a oportunidade de assistir "Mães Paralelas", mas verei. São formas de sublimar e entender a maternagem. Assim como ocorre com a série "Maid". Para mim, em muitos momentos, são os filhos que nos salvam.

Ou são eles que nos fazem se perder. Depende do momento, do ponto de vista, dos traumas, do passado, dos olhares para o futuro e da forma como a sociedade nos abraça ou nos abandona.

Para mim, em geral, os filmes e séries sobre maternidade são sobre abandono, são sobre um certo olhar de desprezo da sociedade para com as mães.

É isso que dificulta tudo, não é o filho. Não é o simples ato de parir e ter de criar. É o fato de que, em uma das espécies de seres mais evoluídos do planeta que vivem em comunidade, a solidão materna é a marca da existência da mulher com filho desde sempre.

Em um dos textos mais emblemáticos que fiz aqui, dizendo que a sociedade não aceita a mãe com filhos, os comentários que recebi foram de me deixar em silêncio. Um deles me disse que o mundo dos pais é que era solitário.

Outro afirmou que é isso mesmo, mãe deve fica sozinha, sem amores, sem amigos, porque procriar é hoje uma escolha e, se a mulher escolhe a maternidade, que sofra por ela.

Eu me recuso a esse tipo de visão, me recuso a ser infeliz sendo mãe. E, se não fosse mãe, também me recusaria a infelicidades.

Mesmo com os obstáculos que vivencio diariamente (e os do mercado de trabalho são os mais duros, os que mais te deixam para trás), eu me recuso a baixar a minha cabeça a quem quer sufocar uma mulher só porque ela é mãe.

Insisto, persisto, adoeço, sofro e choro. Mas, no meu caso, a fuga será sempre com minhas filhas ao lado (se quiserem estar comigo, é claro, pois estão crescendo e têm vontades próprias). Jamais vão me sufocar a ponto de me fazer infeliz.

E esse processo de se redescobrir depois dos filhos é como um pós-parto. A gente se recolhe, lambe a cria, e renasce mais forte, mais firme e focada em ser feliz.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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