'Maid', da Netflix, é sobre mãe que só sobreviveu porque tem uma filha
Quando os filhos nos mantêm vivas
Que os filhos mudam a vida da gente, todo mundo sabe. São noites insones, dias de extremo cansaço, amor sem medida e vontade de protegê-los.
Tudo vira um caos, ao mesmo tempo em que a vida ganha sentido de verdade. Os filhos nos fazem ir além, mas há momentos nos quais eles fazem muito mais do que isso. São momentos em que nossos filhos nos mantêm vivas.
Há quem entenda que a nova série da Netflix, "Maid", seja apenas sobre a violência psicológica sofrida por uma jovem mãe em seu relacionamento abusivo com o pai de sua filha, um homem problemático. Para quem não assistiu ainda nem ouviu falar, resumo: "Maid" conta a história de uma mãe que, após uma vida em casal caótica, sai de casa de madrugada, com a filha nos braços e pouca grana.
Ela se torna faxineira para poder cuidar da menina, de apenas três anos. O marido cometia violência psicológica contra ela. A história é real.
No entanto, para mim, "Maid" é uma série muito mais profunda, é sobre uma mãe que é salva por sua filha, que só sobreviveu porque tinha uma filha. É sobre o quanto a maternidade nos faz fortes, mesmo quando o mundo nos dá as costas, quando tudo parece ser impossível, sem saída.
Ainda não assisti a série toda —estou no terceiro capítulo—, pois não me sobra tempo para maratonar ou ver algo com uma frequência maior, dado o fato que também tenho minhas meninas, que dão bastante trabalho (o trabalho comum quando se é responsável por seres humanos), mas já senti a profundidade da história ali contada.
O brilho no olhar da mãe cada vez que vê sua filha sorrir é incomparável. Só quem é mãe reconhece esse brilho --um misto de alegria, cansaço e vitória.
Alex, a jovem mãe, era controlada pelo companheiro e nem percebia exatamente o mal que ele podia lhe fazer. Ela chega, em alguns momentos, a ter dó dele e a titubear sobre a separação, já que se lembra dos bons tempos de paixão e também acaba sendo pressionada por sua mãe e por outros ao seu redor a manter o relacionamento abusivo.
Mas é a pequena Maddy que a move. Se Maddy não estivesse ali, sendo exposta às atitudes violentas do pai, talvez Stephanie Land (a pessoa que, na vida real, sofreu tudo) jamais tivesse saído de casa, transformado sua vida e escrito o livro que inspira a série.
Provavelmente ela seguiria ao lado do marido, perdoando seus excessos, após arrependimentos momentâneos, e poderia ser uma vítima do que no Brasil determinamos legalmente como feminicídio.
Ou seja, Alex provavelmente estaria morta. Mas não. Ela se tornou mãe, e não renasceu apenas quando Maddy veio ao mundo. Ela renasceu a cada dificuldade, a cada não que levava no mercado de trabalho por ter uma filha.
Alex renascia todo dia, especialmente quando teve de brigar pela guarda da filha, ou quando entendeu que sua mãe (a avó de Maddy) não conseguiria ser sua rede de apoio, pois, embora amasse a neta, seus problemas psiquiátricos e de autoestima a impediam de ser abrigo.
Depois de assistir a apenas três capítulos da série, eu tenho andado pelas ruas e olhado cada vez mais as mulheres que são mães e pensado em quantas Alex a gente encontra por dia.
Não apenas mulheres que tenham sofrido abuso de seus companheiros e tenham se libertado, mas, na realidade, mulheres que tenham sido salvas por seus filhos ou que, como eu, são salvas diariamente pelas duas criaturas que coloquei no mundo.
"Maid" é muito mais do que uma série sobre sobrevivência. É sobre o amor que move uma mãe.
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