Mãe não morre, fica encantada
As mães não morrem, ficam encantadas em nossa memória, em nossos corações e nas histórias que ouvimos sobre ela
Eu gostaria de dizer à filha de minha amiga que ela terá uma companheira ao seu lado por toda a vida, mas ela não terá. Perdeu a mãe de forma trágica para uma doença do coração, que todos desconhecíamos. A mãe dessa pequena a amava demais, era feliz demais e também sofria demais. O coração não aguentou.
Eu gostaria de dizer para ela que a mãe irá lhe acompanhar a cada prova da vida, na escola ou com as dores humanas, mas isso é apenas uma meia verdade. A mãe não estará ao lado da garotinha aos sete anos quando ela começar a ler.
Não vai estar na adolescência, aplacando as dores do coração, nem vai poder abraçá-la em sua formatura ou seu casamento. A verdade é que a mãe dessa menininha de cinco anos estará lá, encantada, como uma fada, fazendo seu papel de alma, mas sem mais fazer o seu papel humano, com todo chamego que só as mães sabem dar.
A garotinha tem cinco anos, tem um pai que a ama, uma avó que a protege, outra avó que a faz feliz. Tem bisavós, tias, tios, mais tias e mais tios, mas não tem mais a mãe. Desde a última semana. Essa menininha sabe que ninguém a ama mais do que o papai e a mamãe.
Ainda bem que ela sentiu esse amor, que vai preencher o peito quando precisar e não tiver mais o abraço materno.
As mães não morrem, ficam encantadas na nossa memória. Ficam na gente com aquele cheiro que só elas têm, nos acolhem quando comemos uma comida que remete às delícias maternas e estão dentro de nós porque registraram sua presença a cada troca de fralda, a cada noite insone, em cada bronca e cada cafuné.
A minha amiga mãe que partiu deixando uma filha de cinco anos realizou o seu maior sonho: ter um bebê lindo, alegre, inteligente, que representava o amor que ela tinha pela vida e pelo seu companheiro. Essa mãe partiu muito cedo, deixando sua menininha órfã, mas deixando também sua própria mãe sem ter uma filha a quem abraçar, acolher e embalar.
As mães não morrem, ficam encantadas em nossa memória, em nossos corações e nas histórias que ouvimos sobre elas. A mãe dessa garotinha de cinco anos ficará em sua memória em tudo o que a gente vai contar. Desde casos engraçados a sonhos realizados. Minha amiga era assim: sonhava e realizava. Fazia acontecer.
Era jornalista e fazia o melhor jornalismo do mundo. Salvou muitas vidas nesta pandemia com suas reportagens informativas e com orientações sobre saúde. Salvou muita gente de sentir as dores tão pesadas dessa pandemia contando histórias leves, que marcaram vidas. A mãe dessa garotinha nos marcou. É protagonista de tantas histórias...
E quando a gente relembrar todos os casos, todos os nossos momentos, essa garotinha, filha de minha amiga, que agora só tem a mãe-fada, vai rir e gargalhar. E vai nos brindar com o sorriso herdado mais lindo do mundo.
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